Malditas Entre Linhas

Capítulo 1

"Que merda eu acabei de fazer"

É o único pensamento em minha mente, depois que eu aperto o enter em meu celular pra enviar o formulário de inscrição do site de sugar baby. Sim eu cheguei a esse ponto, mas se você tivesse 72 horas para pagar o aluguel, afim de não ser despejado, você também tomaria medidas desesperadas, até por que você não conhece o dono do lugar onde eu moro, mas posso dizer pela ardência e com toda certeza da marca roxa que vai ficar meu rosto, que ele não é uma pessoa de muita paciência. Enquanto vou em direção a cozinha que precisa apenas de uns sete passos para ser alcançada, recebo uma notificação em meu celular, tiro ele do bolso enquanto enfio uma lasanha congelada no micro-ondas, mais uma notificação é recebida no aparelho, me viro de costas pra comida que gira lentamente dentro do aparelho. Desbloqueio meu celular é vejo a primeira notificação.

"Parabéns sua inscrição foi aprovada em nosso site, você será notificado assim que receber uma solicitação"

Mais uma notificação é recebida enquanto leio a segunda recebida :

"Seu saldo em conta corrente é de 2,75"

Que maravilha posso comprar um mentos para passar a semana inteira chupando, talvez eu tenha diabetes é seja internado no hospital, assim ganho comida e um lugar pra dormir. Soltando mais um suspiro frustrado e cansado, movo os dedos no aparelho pra ver a última notificação, atrás de mim, o apito avisa que minha janta/almoço está pronto, dois em um, pobre tem que saber economizar. Assim que clico pra abrir a mensagem, a página permanece em branco por vários segundos, até que uma nova mensagem chega.

"Seu plano de internet acabou, faça agora mesmo uma recarga em nossos canais digitais é não fique sem navegar "

Que maravilha, além de pobre, agora praticamente isolado do mundo, olho o relógio e deve ser três da manhã por lá ,mas não tem jeito amanhã vou ter que ligar pra ele, e cada vez me afundo mais nesse poço de desespero e angústia. Depois de comer, tomo meu banho e escovo os dentes, deitei na cama de solteiro que provavelmente pertenceu a um anão com anorexia, mas como o micro apartamento já era mobiliado, não posso reclamar até porque não teria nada pra colocar aqui mesmo.

Enquanto tento dormir,  deixo minha imaginação vagar, fico pensando em coisas que gostaria de comprar, me imagino entrando em lojas de roupas e calçados e pegando tudo que me agrada sem me preocupar com o valor, bem sonho de pobre né !? Mas na realidade não preciso de luxo, quero apenas não passar vontade sabe, estou cansado de escolher entre jantar ou almoçar por que os dois não dá pra fazer, ter que escolher entre ovo ou salsicha pois é o que o dinheiro me permite comprar... Graças a alguém que tem piedade da minha mente em desespero o sono me toma e sou levado pro único lugar onde minhas tristezas e traumas não me alcançam.

Minha respiração ainda está acelerada em decorrência das lembranças que invadiram minha mente, acho que nem no reino dos sonhos sou poupado de reviver meus infernos. O Sol invade meu rosto assim que retomo a consciência, sinto o suor escorrer em minha testa, me sinto cansado e grudento, preciso urgente de um banho e depois só me resta ligar pra ele. Enquanto água lava meu corpo e acalma minha alma, deixe-me contar a vocês um pouco de mim.

Muito prazer me chamo Kayke,  sim com Y, afinal minha mãe era pobre e como boa pobre adora uma letra diferente pra enfeitar o nome, tenho 24 anos, minha mãe já é falecida e meu pai nunca vi, só sei que tive um pois estudei o mínimo de biologia pra saber como as coisas acontecem. Me formei no segundo grau, mas o mais perto que cheguei de uma faculdade foi quando trabalhava com entrega de lanches, mas não deu muito certo já que o professor que sempre fazia o pedido estava mais interessado na minha salsicha do que na do cachorro quente que ele sempre pedia. Não que eu tivesse problemas com isso ele era até bem apessoado e quem tem fome não escolhe comida não é mesmo, mas o fato dele ser casado e que não me atrai em nada. Acabei sendo demitido, devido a sua reclamação, depois que eu recusei seu convite para uma rapidinha na sala de Ed. Artística. E sinceramente aquele trabalho nem era grandes coisa.