Capítulo 17

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Já havíamos retornado a mansão, mas o clima tenso no carro nos seguiu até em casa. Arth acionou alguns advogados e procuradores para dar entrada no processo contra os policiais e o tarado do restaurante. Eu retornei com Pedro, que claramente estava irritado, por tanto não tive coragem de falar nada durante nosso trajeto, mas agora, em frente a mansão, eu não teria opção, já que o furacão de cabelos loiros vinha em nossa direção. Pedro havia saído do carro, e vinha em pro meu lado da porta para abri-la, mas logo foi bruscamente jogado sobre o capô quando o soco lhe atingiu o rosto
— MIGUEEELL, tá louco! Que porra ta fazendo – me aproximo, observando o corte no labio inferior que já sangrava
— Seu desgraçado, foi pra isso que tirou ele daqui. Que porra tava fazendo que deixou isso acontecer!?– Miguel se aproximou novamente, em completa furia, e até um pouco fora da realidade. Me coloco entre ele, empurrando seu peito — Se acalma, você tá falando besteira. Pedro não tem culpa – os olhos de Miguel pareciam os de um animal
— Se deixou acontecer é tão culpado quanto quem fez! –  ele tenta avançar novamente, e de canto de olho posso ver que Pedro não ficaria quieto dessa vez
— Miguel chega!!! Pedro não tem culpa, tu tá surtando com a pessoa errada, se acalma caramba – acho que a tensão de tudo aquilo não me atingiu até aquele momento, pois só agora diante de Miguel é que sinto minhas mãos trêmulas e o nó do choro me apertar a garganta, quando acerto um tapa contra seu peito. Abaixo o rosto me sentindo completamente exausto, só tenho tempo de ouvir o palavrão resmungando de Miguel, antes de sentir sua mãos puxar a minha
— Você vem comigo.

Meu pulso arde um pouco onde a mão de Miguel faz força contra a pele. Nossos pés andam rapido pra cima dos degraus da escada, os meus na verdade quase tropeçam, o ultimo empulso que sinto em meu corpo e do momento em que chegamos ate o quarto dele, e sou puxado pra dentro, logo tendo meu braço solto por ele. Meus olhos ainda estão baixos, mas posso ver os passos agitados dele pelo quarto, e logo sua voz rouca e indignada — Haha é foda né. O cara te tira daqui, te coloca nessa situação fudida e você ainda o defende !? Mas claro são apenas amigos né… Você acha que vou acreditar nisso porra – ouço o som de um vaso quebrando contra a parede, e apenas aperto os olhos, minha cabeça parecia girar
— Anda Kayke, mente pra mim…Diz qualquer besteira pra me convencer que não tem nada entre vocês… Pelo menos tenta me enrolar, ou vai só admitir que ta dando o golpe nos dois?? – seu corpo se aproxima enquanto as últimas palavras são ditas, e a dor que elas me causam não era uma novidade pra mim, mas a intensidade sim, justamente por ser ditas por que as dizia. Sua mão espalmava a parede atras de mim, e posso sentir sua respiração pesada bater contra meu rosto, e eu queria, queria muito gritar, bater nele e fazer ele entender que  não podia falar comigo assim, mas a fraqueza já tomava conta do meus corpo. Minhas pernas apenas cedem, e vou de encontro ao chão. A atmosfera muda completamente no quarto — KAYY…Kayke o que houve? Fala comigo, por favor olha pra mim – sua voz assustada ecoa contra meus ouvidos, e suas mãos fria tocam meu rosto que parecia quente demais, meu rosto é erguido e se eu conseguisse ter outra reação além de choro e abatimento, eu com certeza estaria surpreso pela expressão de medo refletida nos olhos de Miguel.

Não devia… Ele não merecia, mas eu me sentia tão despido, tão só como em todas as outras vezes… mas pela primeira vez, havia alguém em minha frente, não pude evitar. Me agarro em seus ombros e choro, apenas choro, até que meus olhos não tivessem mais lágrimas, chorei até que meus pulmões não conseguissem respirar, chorei até que dormisse naquele abraço que deveria me causar raiva depois de suas palavras, mas que acabou sendo o lugar onde me senti protegido pela primeira vez em anos…

Miguel

Encosto minha cabeça na parede “ Que merda você fez seu animal ”, me auto ofender não era nem de longe o suficiente pra me punir pelas palavras ditas a Kayke. Não sei o que deu em mim, mas vendo-o agora dormindo com os olhos inchados, só faz eu me sentir mais merda ainda — Como ele está ? – a voz daquele bosta soa através da porta, e já sinto meu sangue ferver de novo — Você não tem o direito de perguntar! – avanço mais ele recua — Não vim arrumar briga, vim falar sobre Kayke. Sei que não gosta de mim e to cagando pra isso. Kayke é minha unica preocupação – o olhar que ele direcionava a Kay e a forma melosa e preocupada com que fala dele, me dava um embrulho no estomago — Eles esta bem… Ou estava até você aparecer. Então por que não da o fora e deixa ele em paz, eu posso muito bem cuidar dele – me viro de volta pra cama, se eu encaresse aquele olhar melancolico mais meio segudo, eu com certeza ia partir a cara dele ao meio. Achei que ele tinha entendido o recado, mas aquele capeta ainda insistia em prolongar a conversa, porem o teor dela me pegou muito desprevinido — Voce sabia que Kayke sofreu assedio no colegio? – suas palavras parecem me gelar a espinha, me viro em sua direção, irritado por algo desse tipo já ter acontecido e mais ainda por aquele idiota saber algo que eu não fazia ideia — Que merda de conversa é essa? – vejo ele se manter em silecio, mas logo ele se direciona até a cama, sentando ao lado de Kay, mas o seguro no mesmo segundo em que sua mão estava prestes a tocar o rosto adormecido dele — Não se atreva – apesar de não fazer força contra minha mão que lhe segurava, seus olhos convencidos me encaravam em desafio. Um soco, só um soco era o que eu precisava pra ficar minimamente satisfeito, mas mesmo dormindo, Kayke venho em defesa daquele merda, seu resmungo incomodado e profundo, fez com que nos afastássemos em comum acordo pro final da cama, evitando acordá-lo
— Desembucha logo, e some daqui –  queria que ele ficasse o mais longe possível de Kayke, porém não podia ignorar a história que ele havia começado. 

Por algum motivo ele parecia muito incomodado diante de uma revelação que ele mesmo fez e conforme suas palavras foram saindo, ficou mais claro entender o porque — Estávamos no segundo ano, Deli…Kayke e eu sempre fomos muito amigos, fazíamos tudo juntos, sua família consistia em apenas ele e sua mãe, dona Zila, que deus a tenha… Kayke sempre foi desse jeito, extrovertido, falador, debochado, esse jeito só dele – ver o sorriso dele me irrita profundamente, mas agarro com força o estofado da cadeira em frente a cama onde me sentei, o mais longe dele possível dele é óbvio — Kayke sempre foi querido por todos, minha namorada na época foi inclusive apresentada a mim por ele, assim como meu ex melhor amigo, também foi apresentado a ele por mim… Nunca me perdoarei por isso – a cada um das suas palavras meu sangue fervia mais, como se eu conseguisse antecipar pra onde elas iriam — Eu era novo e emocionado com minha primeira namorada, e acabei me afastando dele na época, não percebi o que estava acontecendo, até que fosse quase tarde demais. Nunca vou esquecer os soluços de Kayke naquele dia, e o medo em seus olhos. Seu corpo tremia, enquanto ele tentava esconder o corpo através das roupas rasgadas – me levanto usando toda e ainda mais força do que eu tinha pra não quebrar alguma coisa no quarto e acordar Kay. Ele se levanta e em contraponto ao meu rosto fervendo de raiva, o dele tinha um semblante devastado e podia até dizer culpado
— Durante semanas, Kayke passou abatido e sempre assustado, tinha pesadelos e até faltou as aulas. Sempre que eu perguntava ele dizia que estava tudo bem, que eram apenas problemas em casa. Mas no fundo eu sabia que era algo mais. Por tanto… Não preciso que me julgue ou me faça sentir pior do que estou agora, a única coisa que quero e que me ajude – franzi as sobrancelhas sem conseguir esconder minha cara de confusão — Quero que me ajude a monitorar Kayke pra que nada do tipo aconteça novamente.

— Não preciso de você, posso cuidar dele sozinho. Como você mesmo acabou de relatar, ambas situações aconteceram com ele ao seu lado, por que eu confiaria em você ? – me aproximo ficando a centímetros de seu rosto e deixando claro, mais uma vez, que ele não era bem vindo ali — Fico feliz que tenha toda essa paixão por meu Kk, Mas tenho certeza que em algum momento você tera que atender seus compromissos e reuniões, é ai que eu entro… Você se engana se acha que conseguira mantê-lo trancado aqui dentro e pianinho sobre seu controle. Kayke não é facil de ser dominado, mas posso te dar algumas dicas se quiser – o sorriso presunçoso dele coça minha mão pra que eu acertasse um soco bem no centro daquele nariz empinado. Mas assim que me aproximo mais um pouco quase tocando nossas testas e fechando a mão pra um soco, ouço a voz de Kay as costas dele — Aff, ei vocês dois o que está acontecendo agora?? – limpando os olhos embaçados e já se aprontando pra vir em nosso encontro, ele parecia preocupado, respiro muito, muito fundo e me afasto um pouco, mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa a voz daquele maldito soou novamente, fazendo minha cabeça ferver, por saber que por mais raiva que isso me desse, ele tinha razão. Eu não conseguiria ficar com Kay o tempo todo, não no momento, tenho muitos processos e documentos para colocar em ordem. Conforme suas palavras saem surpreendendo Kayke, sou obrigado e engolir meu orgulho e ciumes pelo bem dele mesmo… Apenas por enquanto.

Com a mão estendida ele me provoca sabendo que na frente de Kay eu não teria outra alternativa — Então senhor Miguel, temos um acordo??

Malditas Entre LinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora