Capítulo 2

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— Senhor,  só mais esse documento e terminamos por hoje.

—Tudo bem – dou minha rubrica nas três folhas que meu assistente coloca diante de mim — Obrigado Philipe se tiver terminado você pode ir pra casa, mande um abraço pra Marcela – lhe dou um sorriso e volto a me concentrar na tela a minha frente, vendo as atualizações do site de Babys. A dois meses que acompanho os perfis esperando que algo interessante apareça entre os candidatos, passo vários perfis até que um deles me chama atenção, 'Esse parece se encaixar ' Abro a aba de informação.

Nome : Kayke Ramos

Idade: 24 anos.

Altura: 1,68 mas tamanho não é documento.

Virgem: Não, câncer

Hobbies: Tenho um azul de seda e um rosa de oncinha que adoro.

Não consigo evitar a risada, de fato parece uma pessoa interessante, continuo a leitura cada vez mais sentido que este é o candidato certo.

Qualidades: Poderia enumerar várias, mas ficaria claro que humildade não é uma delas então prefiro me manter em silêncio.

Contato: (**) *********

A foto que acompanha as informações me deixa maravilhado, um rosto quase angelical, um par de orbes negras que parecem tão doces e um sorriso meigo de dentes brancos, formam um conjunto que só posso descrever como perfeito, o fundo verde da foto combina perfeitamente com o tom bronzeado de sua pele, realmente é uma beleza de ser humano, seu humor levemente sarcástico me deixa ainda mais encantado 'Vai ser interessante'.

Na mesma hora lhe envio uma mensagem, pedindo que caso ele esteja interessado, me respondesse pois gostaria de conversar com ele. Estou aguardando sua resposta, mas até agora nada, será que ele já está dormindo? Por Deus que horas são, assim que olho no relógio noto que eu também já deveria estar na cama, o dia no escritório foi cheio e quase não sinto minha bunda de tanto tempo sentado. Junto minhas coisas e vou em direção ao carro no subsolo do prédio, Augusto meu motorista tenta disfarçar a baba no canto da boca devido ao cochilo que ele tirou antes de eu entrar no carro.

— Tudo bem meu amigo, hoje eu realmente passei do horário, vamos pra casa – eu digo dando um sorriso cansado assim como a expressão dele também denunciava, chego em casa e tomo um banho rápido, checo meu celular ainda sem nenhuma resposta, será que ele havia desistido?

Arrumo a mala para viagem de manhã, coisa pouca será apenas uma reunião de negócio volto no mesmo dia, não que a França seja perto mas essa é a vantagem de ter um piloto particular, eles fazem milagres com o tempo. Me deito na cama soltando um suspiro de alívio, como amo estar em casa, devidamente acomodado embaixo do edredom, volto a lembrar daquele menino, os olhos que parecem perdidos mas ao mesmo tempo tão calorosos e que mesmo através da foto aquecem o coração ' Vai dar certo, eu estou confiante dessa vez'

...

— Chegamos Zula – aviso a governanta assim que passamos pela porta.

— Eu tenho que sair mas volto pro jantar – disse, me direcionando a Miguel, recebendo apenas um "hum" em resposta, solto um suspiro meio alto. Achei que esses meses na França pudessem fazer ele sentir minha falta, esperava que me respondesse com pelo menos um "Tudo bem tio", mas nem sempre nossas vontades são atendidas.

Deixando minha mala na entrada e pegando apenas as chaves do carro, já que Augusto estava de folga, entrei no veículo e fui direto ver ele. Nem acreditei quando recebi sua resposta, a merda é que a viagem atrasou mas do que esperado então já fazem dois dias que ele me disse sim, mas não consegui retornar sua resposta, por tanto agora estou praticamente voando em sua direção pra que ele não ache que eu desisti dele.

Depois de uma pesquisa rápida em seu nome, consegui seu endereço, chegando a frente de um prediozinho que me desculpem, não sou do tipo esnobe, mas nem em muita dificuldade em minha vida, me sujeitaria a morar em um lugar desses, pobre criança porque vive assim. O prédio não tem porteiro, e está aberto a qualquer um, apenas de olhar o elevador tenho medo de pegar tétano. Me direciono as escadas já com dor de cabeça por causa das luzes que parecem luzes de natal de tanto que piscam, oscilando entre funcionar ou não, pelo menos as escadas parecem seguras ainda que eu não me atreva a encostar no corrimão que parece seriamente lambuzado por uma substância que prefiro nem saber do que se trata. Se ele aceitar as regras do contrato a primeira coisa que farei será tirar ele daqui.

Mas assim que me aproximo de seus apartamento uma cena me deixa pasmo, um trasgo, por que não posso chamar aquilo de homem. Roupas sujas e rasgadas, o cheiro de álcool e urina invade o corredor me causando enjoo na mesma hora, esse negócio que anda e fala, chuta outra pessoa que está caída no chão, em seguida ele a ergue pelos cabelos e prensa com força seus rosto contra uma porta, aumentando a voz, fazendo com que ela ecoe por todo corredor.

— Cadê meu dinheiro vadia? – o choro da pessoa sendo machucada ainda que baixo pôde ser ouvido por mim, me causando um desconforto.

'Que diabos esse idiota acha que ta fazendo'

Mas meu corpo congela quando ele muda as posições, é deixa minha visão livre para encarar o rosto do rapaz que é maltratado por aquele infeliz. É Kayke! Meu corpo entra em pânico, a raiva toma conta de todo meu ser.

'Como esse desgraçado ousa encostar nessa criança'

O barulho estalado de um tapa me tira daquele estado de paralisia, o menino está caído no chão e o desgraçado ergue a mão em ameaça a lhe dar outro tapa, na mesma hora avanço e seguro sua mão torcendo o pulso para trás, o estalo do osso quebrando é muito satisfatório aos meus ouvidos.

— Ahhh filho da puta – grita o infeliz caindo no chão, mas só consigo pensar em Kayke, vou em sua direção me abaixando pra pegá-lo nos braços, me aperta o coração quando ele ergue os olhos encontrando os meus é se afastando com medo — Shhhh tudo bem, não vou te machucar sou eu, Arthur – explico olhando em seus olhos e me aproximando com calma, as lágrimas ainda rolando por seus rosto. Os lábios carnudos, rosados e sedosos da foto, agora estava inchado e com um corte por conta do tapa, minha vontade era matar aquele lixo que ainda estava gemendo no chão, mas precisava cuidar do pequeno primeiro. Erguendo o rapaz do chão e o apoiando em meus braços, já que suas pernas não tinham força, ele se curva com a mão no estômago onde antes foi chutado.

— Vou te levar pro hospital – disse beijando sua testa e tentando lhe manter calmo, mas assim que nos movimentamos o desgraçado ainda no chão agarra o perna de Kayke,  lhe assustando e fazendo com que ele me abraçasse em desespero pedindo socorro — Eu quero meu dinheiro vadia – primeiro me abaixei e soquei a boca daquele imundo, olhei pro meu pequeno que estava em choque e ainda muito assustado, tudo aquilo foi por dinheiro ? Desprezível.

— Quanto ele te deve ? – perguntei trincando o maxilar para não socar novamente aquele imbecíl — R$ 2,500 de aluguel – cuspiu o valor enquanto se levantava do chão e tentava se manter em pé com o apoio da parede. Tudo isso por míseros 2.000, aposto que vai gastar com cachaça, porco nojento — Você bateu nele por causa 2.000,00? – Kayke estava machucando fisicamente, e um caos emocional que era nitidamente visto por qualquer um, será a primeira vez que aquilo acontece? Não posso imaginar algo assim se repetido e ele sem ninguém pra ajudar — E 500 – respondeu o nojento como se isso justificasse algo, engoli a raiva o máximo que pude pegando minha carteira do paletó, tirei todas as notas que tinha dentro deviam ter aproximadamente 5.000.00 reais e alguns dólares, e joguei na cara daquele homem, os olhos arregalados e o desespero pra juntar cada nota me dava nojo, quando me virei pude ver os olhos de Kayke arregalados também, mas diferente do lixo a nossas costas, o olhar dele me encantava o deixando fofo demais mesmo com a careta de dor. Sorri pra ele e começamos andar, mas de repente parei, ainda não estava satisfeito, não me contento com pouco, escorei o pequeno na parede pedindo para que esperasse só mais um pouco, me aproximei novamente do homem ainda de quatro no chão catando as notas e enfiando nos bolsos fedorentos. Assim que ele olhou pra cima chutei com toda força que eu tinha seu estômago, ouvindo seu ofego por ar — Não perdoo quem toca no que é meu – dei as costas e sai daquele muquifo, carregando nos braços o pequeno ser que a partir de agora era minha responsabilidade. Mesmo que ele não assinasse o contrato, aqueles olhos haviam me conquistado, e apartir dali, pra sempre eu seria seu protetor.

Malditas Entre LinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora