Capítulo 11

30 11 19
                                    

— Foi a dois anos que isso aconteceu – ele estava sentado do meu lado com os cotovelos apoiados sob os joelhos, mas as mãos totalmente inquietas mostravam como estava nervoso, eu já tinha notado como aquele assunto era delicado pra todos ali, e ver seu estado agora só aumentava minha ansiedade, me aproximo mais de Miguel e prendo suas mãos contra as minhas fazendo um carinho
— Eu to aqui – não era um frase com muito sentido, dado o contexto, mas talvez pudesse acalmá-lo, e acho que funcionou, apesar de eu ser pego de surpresa quando ele me empurrou contra a cabeceira da cama dele, e se arrumando, deitou no meu colo. Fiquei alguns minutos apenas observando a ousadia, mas quando me dei conta de como ele apertava minha perna contra seu rosto como se fosse uma criança assustada, achei melhor só deixar passar. Sempre que eu tava triste eu deitava no colo da minha mãe, e ela me fazia um cafuné cantarolando alguma música com uma melodia calma e lenta, eu não sabia muitas músicas, ainda mais que fossem calmas, então começo a murmurar qualquer coisa em um ritmo lento. Minha mão vai quase por instinto até seus cabelos, e entrando naquele mar loiro, começou a mover os dedos em um vai e vem bem devagar. Ficamos alguns minutos assim, só a melodia que faço com a boca e nossas presenças no quarto — Minha mãe me fazia cafuné quando eu ia dormir – a frase é simples mas parece carregar tanta emoção que sinto um pequeno nó em minha garganta.

— Então deve ser coisa de mãe por que a minha também – continuo mexendo meus dedos entre seus cabelos, sinto ele respirar fundo e voltar ao assunto que era quase como uma nuvem negra naquela casa — A dois anos atrás, antes de perder meus pais eu morava na França, em um dos cursos que estava fazendo conheci Gabriel, ele parecia um cara inteligente, sociável, respeitado e querido por todos no curso, dos professores aos faxineiro. Tivemos que fazer um trabalho em grupo e acabamos nos aproximando, depois de um tempo descobri que ele era órfão, cursava administração graças a uma bolsa, mas sua casa estava prestes a ser leiloada, e ao fim do curso ele não teria onde morar nem como se sustentar. Infelizmente só agora vi como fui idiota. Quando o curso foi concluído, eu prometi a meu tio que o visitaria e acabei por convidar Gabriel a vir comigo – o frio que senti em meu estomago foi enlouquecedor, eu só podia rezar pra que meus pensamentos estivesse delirantes e essa historia não seguisse o caminho que imagino — Claro que de primeiro momento ele fez seu papel de pessoas com vergonha na cara, e não aceito o convite, já que não tinha dinheiro pra tal, e eu burro, insisti até que ele aceitasse. No começo ninguém desconfiou do rosto angelical e voz doce – eu teria desconfiado já que não vi nenhum desses atributos no filhote de Chuck, mas achei por bem não falar nada, apenas deixei ele seguir o ritmo de seus pensamentos.

— Depois de um tempo ele era como da família, todos na mansão gostavam dele, e eu comecei a me sentir diferente em relação a Gabriel, a forma como eu via ele, já não parecia ser só uma amizade, eu fui muito ingênuo em não perceber que era exatamente isso que ele planejou, se tornando cada vez mais intimo, com pequenas brincadeira e frases provocativas disfarçadas de brincadeira e como um pato, cai em sua armadilha e me envolvi emocionalmente e fisicamente com ele. Eu era tão carente que não me importei quando ele pediu pra que mantivéssemos  tudo em segredo, já que tinha vergonha. O papinho de que éramos de mundo diferentes, ele não queria que achassem que estávamos juntos por interesse – nessa hora ele se levanta do meu colo e solta uma risada pelo nariz, novamente o tic de mexer nos cabelos esta ali. Eu apenas me ajeitei mais na cama tentando controlar o embrulho em meu estômagos pelas informações recém adquiridas — Mas claro que eu era só um parte minúscula do seu plano, já que enquanto a noite ele se deitava comigo, durante o dia era na cama de meu tio que ele armava sua teia – me sinto congelar no mesmo instante, uma mistura de culpa e nojo surge em minhas entranhas, abaixo a cabeça ainda que ele não tenha olhado pra mim, não enganei nenhum dos dois, não dormi com Arth, ainda que tenha sonhado muito com isso, mas eu praticamente fiz a mesma coisa, estou tão envergonhado e preso em meus pensamentos que quase perco o resto da história — Mas nem isso era o bastante pra ele, ele fez meu tio assinar um contrato de casamento onde ele teria controle total sob nossos bens quando meu tio morresse. Não culpo meu tio, ele sempre foi sozinho, sem companheiro, sem filhos, apenas o peão que meu avô construiu. Sabe meu pai devia ter assumido a empresa, mas ele se apaixonou por minha mãe e queria largar tudo por ela, mas meu avô nunca permitiria, meu tio então criou uma espécie de rivalidade com meu pai e graça a um combinado entre eles, ele assumiu a empresa, deixando meu pai livre para se casar. Eu nunca terei como agradecer meu tio sabe, por que – ele para a frase e virando pra mim me da um delicioso sorriso.

— Eu literalmente não existiria – dou uma pequena risada puxando ele pros meus braços, deixando suas costas contra meu peito, ele usa meus braços como se fosse uma coberta, respira fundo mais uma vez e volta a falar — Quando voltei do hospital ele já havia sumido, levou tudo que pode, o dinheiro do cofre, as roupas, era como se sua presença nunca tivesse existido nessa casa. Mas os estragos que ele causou em nossa família são presentes até hoje, depois de alguns meses, meu tio começou a passar mal, depois de muitos exames descobrimos que foi envenenamento, não sabemos nem pelo que, já não ficaram rastro no organismo, só as sequelas. Meu tio desenvolveu uma insuficiência cardíaca e tantas outras complicações, agora ele vive abaixo de medicamentos e consultas regulares com o cardiologista, ele nunca mais tinha passado mal assim... Kayke eu – ele se vira pra mim me pegando de surpresa, já que eu ainda estava chocado pelo que acabei de ouvir e pela culpa que sinto em meu peito – É minha culpa, fui eu quem colocou esse monstro dentro de casa, eu que coloquei a vida de meu tio em perigo, e quando esse demônio apareceu de novo na minha frente, eu parecia uma criança assustada, eu sou uma vergonha – desviando seu olhar do meu, ele esconde o rosto entre as maõs.
Posso ver algo transparente escorrer por entre os dedos, e quando suas costas tremem meu cérebro volta a funcionar e me toco de que ele está chorando, me jogo nas suas costas apertando forte e consolando-o — Shhhh, não você não tem culpa Miguel, ele que é um psicopata, você não tem culpa de nada – seu corpo treme entre meus braços e não posso evita de que minhas lagrimas também comesem a correr.  Tudo tava uma confusão do caralho, eu não conseguia mais negar o que sentia por Miguel, em contrapartida tinha alguma coisa em meu peito que reclamava por Arthur também, só deixando meu peito mais dolorido e meus pensamentos me torturando ainda mais, nunca faria lago como esse monstro, mas ficar entre tio e sobrinho era errado, muito errado, ainda mais depois de saber dessa história toda.

— Ainda bem que agora eu tenho você – quando suas mãos se enrolam em minha cintura e sua cabeça se pressiona em minha barriga eu sinto meu coração acelerar, mas meu corpo parece congelado, eu estava enlouquecendo, sensações, sentimentos, emoções e pensamentos, todos ao mesmo tempo e cada um gritando uma coisa, se eu não fosse passar por louco daria um grito neste momento, mas como não podia, por mais que só de pensar nisso me doesse, como se meu peito estivesse sendo rasgado, eu teria que acabar com seja lá o que estivesse acontecendo ali
— Miguel – falo baixinho porque a verdade é que não sei se tenho força pra dizer o que preciso, não sei se por sorte ou azar alguém bate na porta — Doutor Miguel, Susana me pediu que lhe avisasse que o almoço está pronto – Miguel agradece a quem está do outro lado dizendo que já desceria até a cozinha, ele se levanta da cama e estica a mão pra mim, me convidando para irmos juntos, e assim que meus olhos encontraram os dele um pouco inchados e vermelhos, mas com um brilho que não tinha visto até agora, e o lindo sorriso em seus lábios, eu só consegui constatar duas coisas enquanto segurava sua mão me levantando da cama. A primeira que ele realmente era lindo demais e a segunda é que eu tava muito fudido.

Malditas Entre LinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora