Capítulo 7

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Não posso negar que estou um pouco chateado, me dirijo ao carro esperando o infeliz do Miguel que tá se enrolando no telefone, não poder me despedir de Arth antes da viagem me deixou de péssimo humor. Meu Daddy tem agido esquisito nos últimos dias, evita ficar sozinho comigo, não responde aos meus flertes e tudo que vamos fazer ele enfia esse Australopithecus no meio, nem uns amassos no cinema da casa eu consigo dar, tesão acumulado ta como!? Em 100 % já, e pra me ajudar ainda vou ter que ficar três horas socado no carro com esse pentelho, pra um jantar provavelmente chatíssimo de advogados, espero que pelo menos a comida seja boa. Finalmente ele entra no carro, mas como Miguel é Miguel já chega reclamando — Pra que o som nessa altura, tira os pés do painel e coloca o cinto.

— Quando é o enterro? – e eu já sabia que ele não ia entender nada do que eu estava falando.

— Bebeu !? Que enterro?

— Da tua alma, que claramente já tá morta... eu hein! Que saco deve ser viajar com você – fazendo uma imitação mais do que infantil, ele repete minhas palavras enquanto liga o carro.

— Sinta-se à vontade para sair do carro.

— Com todo prazer eu sairia se eu não tivesse prometido ao meu Daddy.

O sorriso surge alegremente em meus lábios quando o vejo revirar os olhos em desgosto, já contei pra vocês que ele não gosta quando chamo Arth assim, e adivinhem!? Aí mesmo que eu chamo. Sem dar mais tempo pros seus incômodos, coloco meus fones de ouvido e volto a apoiar os pés no painel do carro, não escuto ele, mas posso ver seus dedos apontado o painel, ignoro com muito prazer seu drama, até que ele segura meu pé tirando o mesmo lá de cima, volto a coloca-los sobre o espaço proibido, ele volta a tocar meu pé, mas dessa vez encosta na parte de baixo, um ponto sensível pra mim, automaticamente sinto cócegas, começo a rir encolhendo o pé tocado por ele, assim que ele vê minha reação, começa a tocar ainda, fazendo o mesmo no outro, eu não podia me segurar, já sentia minhas bochechas quentes pelo esforço em me contorcer, alguns segundo se passaram até que nos déssemos conta do que estávamos fazendo, nos encaramos por alguns segundo e logo ele se afasta, como se tivesse levado um choque, me arrumo no banco colocando meus fones de volta, abro bem a janela na esperança de que ela apague o calor que senti em meu rosto.

...

Em algum momento acordo sem nem ter percebido que acabei dormindo, tiro os fones que já faziam minha orelha doer, esfrego os olhos e vejo em cima do painel uma garrafa de refrigerante e um pacote do meu salgadinho preferido, sinto minha boca salivar de vontade, e aposto que esse pentelho colocou sua comida na minha frente só pra me provocar, bocejo e me ajeito no banco  vendo que já anoiteceu. Me espreguiço um pouco, enquanto o homem ao meu lado permanece em total silêncio, me aproximo lentamente do botão de ligar o rádio como um cachorro que tenta roubar o lanche do dono, o que pensando agora é uma péssima analogia, por que com certeza o cachorro dentro do carro seria ele, mas quando meus dedos estão quase ligando a música, sua voz me assusta me fazendo recuar — Aquelas coisas são pra você – ele a ponta com a cabeça em direção ao salgadinho sem tirar os olhos da estrada, fico meio paralizado mas não sei se pelo susto que tomei ou pela atitude educada e 'carinhosa' de me comparar um lanche. Sinto um arrepio por esse pensamento totalmente incoerente, Miguel preocupado e carinhoso ? Claro que não, ele deve ter pego aquele pacote de salgadinho em alguma oferenda na rua, ou colocado veneno dentro. Pego o pacote que pra minha surpresa está fechado e sem suspeitas de saliva em meio as batatas, sorrio animado porque realmente amo aquele salgadinho. Me dando por vencido e por que minha mãe me ensinou, agradeço educadamente pelo gesto, agora mais à vontade, ligo o radio e apoio meus pés sobre o painel, Miguel estava envelopado em um terno todo metido a besta, já eu, estava confortável com agora meus pés descalços sobre o painel, mas que seram acomodados em um tenis, meus jeans novos e a camisa social, quero conforto mais é um jantar ao que parece chic, então devo estar minimamente apresentável né.

Malditas Entre LinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora