Capítulo16

25 7 20
                                    


Os prédios passam rápidos e as pessoas são apenas borrões pela janela do carro — Ta enjoado delícia? – a voz de Pedro chega até mim de forma tão terna, que me sinto mal por tê-lo ignorado até agora. Acabo rindo, já que me sinto tocado por ele ainda lembrar que, quando mais novo, eu enjoava ao andar de carro — Não... faz tempo que isso não acontece – sorri agradecido por sua preocupação, seu sorriso e o carinho que ele faz em minha mão, me causam um pequeno frio no estômago — Que bom saber disso – era uma sensação engraçada estar assim com Pedro, me sentia como se tivesse voltado a adolescência, e de uma forma gostosa, me senti leve como a tempos não sentia.

...

O restaurante é ainda mais lindo do que eu me lembrava, a decoração mudou um pouco, mas tudo estava do jeitinho que deixei quando saí, e como no dia em que trabalhei aqui pela ultima vez, ela veio correndo em minha direção cheia de lágrimas — Il mio bambino¹ – a pequena senhora de oitenta e seis anos, que nem imaginei que ainda pudesse trabalhar aqui me abraça apertado — Ah Dona, também senti saudades – sorrio sentindo algumas lágrimas nos olhos ao sentir o cheirinho de pó de arroz da pequena senhora. Donattela Rizzo é uma senhora italiana das antigas, a pequena senhora é a Sous Chef do restaurante, mas aqui entre nós, sempre foi ela quem mandou em tudo — Oh povero ragazzo, così magro. Perché sembra così fragile? Hai detto che ti saresti preso cura di lui – assim que me solta ainda, resmungando em italiano a mulher acerta vários, ainda que fracos, tapas nos braços de Pedro — Aii Dona, sua mão é pesada mulher. A culpa é dele que mentiu pra mim – com a frase de Pedro agora sou eu que estou na mira das mãos ágeis e pesadas de Donattela — Andiamo, le mie pentole ti stanno chiamando – ainda que eu tenha rido, sinto um frio na espinha, ainda que meu italiano estivesse meio enferrujado, eu conhecia bem aquela frase" Vamos minhas panelas estão te chamando",  a premissa era sempre a mesma... uma grande bronca de La Mama Rizzo.

...

A nostalgia me tomou por inteiro, enquanto eu observava Pedro transitar pelo restaurando dando algumas ordens e direções ao pessoal que chegavam agora na equipe de funcionários. O que me fazia sorrir, e o próprio sorriso dele, tão empolgado e apaixonado, me faz lembrar o primeiro dia em que estivemos aqui. Apenas um espaço vazio, com alguns andaimes e materiais de obra, porém todo esse cenário se formou em minha mente, conforme a voz empolgada e os gestos de Pedro iam se fazendo ao meu redor... — Olá, você trabalha aqui ? – sou puxado de meus pensamentos quando a voz do homem me chama — Oh, não não, mas dependendo do que for posso lhe ajudar – sorrio oferecendo ajuda, ainda que não trabalhasse ali, conhecia quase todo mundo, poderia no mínimo indicar a pessoa responsável — É mesmo!? Que bom, eu estou com um pouco de fome – tive que fazer muita força pra não revirar os olhos e fazer uma cara de nojo, porque pude entender exatamente o que esse nojento quis dizer com essa frase — Oh sinto muito, mas o restaurante ainda não abriu para refeições, mas por que o senhor não toma um drink no bar enquanto aguarda – sorrio docemente, lembrado minha época de garçon, em que tinha que fingir que me simpatizava com esse tipo de escória — Hum, gosto muito da ideia... Você vai me acompanhar ? – sinto meu corpo tencionar quando a sensação de sua mão em minha cintura fica perceptível. Me afasto um pouco, sorrindo agora mais amarelo — Me desculpe senhor, não trabalho aqui, além disso esse não é o tipo de bar com que o senhor deve estar acostumado – faço um aceno de cabeça e me viro pra me afastar, mas sou assolado pelo pânico, quando sinto meu braço ser puxado e um corpo se prensar contra minhas costas — Se fazendo de difícil... Gosto dessa brincadeira – pro meu nojo, sinto sua língua lamber meu pescoço, eu não era fragil, um menino indefeso, mas por um momento meu corpo congela diante daquela situação. Volto a me mover e conseguir respirar, quando o homem se desprende do meu corpo em um solavanco.

Retorno aos meus sentidos ao ouvir os resmungos do homem, os funcionários da cozinha já se amontoavam ao meu redor, me perguntando se estava tudo bem. Quando olho pra trás encarando o motivo dos resmungos, ofego com a visão. O homem está jogado sobre uma das mesas, o rosto era esmagado contra a mesa por uma mão grande, enquanto o braço era puxado para trás em um ângulo bem doloroso — Acho que tem um placa bem grande na porta do meu estabelecimento dizendo que não é permitida a entrada de animais — um grito agoniado sai dos lábios do homem quando o braço é puxado ainda mais pra trás — Vinicius, ligue pra polícia – o pedido foi feito para o maitri, enquanto com um aceno de cabeça foi feito e outros dois homens se aproximaram segurando o tarado. Os passos de Pedro vieram rápidos em minha direção — Você tá bem ? – suas mãos tocam meu rosto, examinando pedaço por pedaço, mas eu ainda estava tão impactado com tudo aquilo que apenas balancei a cabeça de forma descoordenada. Ele solta um quase rugido, enquanto pega um guardanapo e esfrega meu pescoço, ainda úmido pela nojeira daquele homem — Pedro, ta bom... Vai tirar a pele – preciso impedi-lo, sentia meu pescoço arder já. Seus olhos que me encaram, pareciam vermelhos de fúria. A risada do homem que era ainda preso pelos garçons parece inflamar a raiva de Pedro — Oh, então é isso... A vadia já tem coleira – um cuspe de sangue atinge o chão enquanto o homem ainda sorri – Pedro solta um palavrão, querendo avançar em direção ao homem, mas é impedido por mim e pelos demais funcionários.

A porta do restaurante se abriu naquele momento, dois homens fardados chegam até nós — Boa tarde senhores, recebemos uma ligação sobre uma confusão neste estabelecimento – os policiais nos cumprimentam, dando inicio aos procedimentos da ocorrência — Boa tarde policias — Pedro estica a mão cumprimentado os servidores — Não se trata de uma confusão senhores, e sim de um crime. Esta homem foi pego em flagrante cometendo assédio – um dos policiais pegava um pequeno bloco, fazendo algum tipo de anotações nas folhas brancas — Este é o agressor? – pergunta um dos policiais, se aproximando do homem que sangrava, e pedido que os garçons o soltasse — Sim senhor – o homem tenta se pronunciar, mas é silenciado pelo guarda que pede que ele se mantenha em silêncio, até que seja questionado — Onde esta a vitima? – um dos policiais, oscila o olhar entre as duas garotas presentes ali — Ele esta aqui, ainda está abalado, talvez seja melhor pegar seu depoimento direto na delegacia – Pedro se coloca ao meu lado, enquanto fala com o policial, e naquele momento eu quase rio de nervoso e ódio. 

Eu sabia o que aconteceria desde o momento em que ouvi a palavra polícia. O policial me olha dos pés a cabeça e sem disfarçar, um pequeno sorriso surge no canto de seus lábios. O outro homem que já alcançava as algemas para colocar nos punhos do assediador se interrompe — Ele foi a vítima de assédio? – a descrença e descaso da fala do policial, me dói no peito, e faz os punhos de Pedro se fecharem com força ao lado do corpo — Acho que foi exatamente isso que eu disse senhor policial – o tom de Pedro era claramente endurecido, o respeito que ele mostrou pelos homens no início já não participava mais da conversa — Certo, certo, vamos conversar, talvez tenha sido apenas um mal entendido, tenho certeza que podemos resolver isso de uma forma tranquila – o abuso anterior havia me enjoado, mas a situação a minha frente foi o que quase me fez vomitar. O policial toca o ombro do homem que sorri convencido — Claro sim, policial. É só o senhor prender este homem e coletar o depoimento da vítima. Seguir os protocolos e tudo acaba de forma pacífica como manda a lei...Pois suponho que seja seu trabalho cumpri-la – o maxilar do policial se trava e sua postura fica mais ameaçadora, enquanto ele se aproxima Pedro — Escuta aqui cara. Não vou perder meu tempo com uma briguinha entre prostituta e cliente, tenho bandidos de verdade pra prender. Como um bom cafetão deveria ensinar suas vadias que cliente tem sempre razão. Mas se você não conseguir, quando eu sair do serviço posso passar aqui e mostrar pra ele como ser homem de verdade – o policial pisca, e preciso segurar minha lagrimas pra poder segurar o corpo de Pedro que já avançava pra cima do policial — PEDRO... Pedro para, não valhe apena – os olhos raivosos me encaram, mas sei que não é pra mim. Porém meu ofego de surpresa é pela voz que soa a nossas costas — Acredito,que o senhor policial que não terá tempo pra cumprir esta oferta, já que está ocupado respondendo a um processo administrativo e cível – o policial já no ápice de sua fúria, encara com rispidez o homem que acaba de chegar — Quem diabos é você? – o policial já estufava o peito querendo ameaçar o engravatado que caminhava cheio de classe até mais próximo de nós — Muito prazer, sou Arhtur Campestre, o advogado do senhor Kayke Ramos, e o homem que vai lhe fazer conhecer as leis de uma forma nada agradavel. 





Tradução via Google:

¹     Il mio bambino / Meu bebê

² Oh povero ragazzo, così magro. Perché sembra così fragile? Hai detto che ti saresti preso cura di lui / Oh, pobre menino, tão magro. Por que parece tão frágil? Você disse que cuidaria dele

Malditas Entre LinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora