Malditas Entre Linhas

Capítulo 12

— Eu ainda não aceito que ele preferiu a morte, a ela – nunca aceitei o final desse filme, sim estou falando de Como Era Antes de Você.

— Com certeza não é uma decisão fácil, mas pense também no quanto ele estava sofrendo, muitos dizem que pessoa que escolhem a morte optaram pelo caminho mais fácil, as vezes não é por ser mais fácil, mas é por ser o caminho certo pro fim da dor – suas palavras me chocaram, não estava falando de uma forma tão profunda, e claro que não quis julgar a dor de ninguém, nem poderia fazer isso, mas sempre que vejo esse filme não consigo não pensar em minha mãe, ela era uma otima pessoa, sempre ajudava a todos, era quase como um compulsão pra ela, e naquela noite não foi diferente, ela sabia dos riscos, hoje eu acredito que ela de fato sabia o que ia acontecer, e mesmo assim ela foi, ela preferiu morrer protegendo os outros, a ficar ao meu lado.

— Eu, eu não quis julgar ninguém, eu realmente não posso me colocar no lugar dele, mas também não é egoísmo abandonar alguém te ama!? Que quer viver com você e por você? — não sabia por que, mas sentia que aquela conversa com meu Daddy já não era só sobre o filme, já podia sentir um aperto em minha garganta — Ninguém deve viver por outra pessoa meu pequeno, é isso que o filme ensina, amores são ótimos, mas você deve ser sua própria felicidade.

— Mas agora ela vai ficar sozinha – eu já não segurava minhas lágrimas, o pronome ela era usado na frase apenas pra disfarçar o fato de que claramente era sobre nos que estávamos falando — Eu garanto que ela nunca estará sozinha – seus dedos enxugam as lágrimas em minha bochecha — Além disso, ele deu tudo que ela precisava, ele mostrou que ela merece o mundo, que ela pode ter e ser tudo que quiser, e tenha certeza que ele sempre estar olhando por ela, onde quer que esteja – ele beija minha testa e não posso fazer mais nada além de o abraçar com força.

A alguns dias atrás ouvi uma conversa de Arth com seu médico, o doutor disse que o transplante foi negado devido a deficiência em outros órgãos e a baixa taxa de sucesso, impede que ele seja apto para o procedimento, não entendi metade dos termos técnicos que ele utilizou, mas uma coisa era clara como água... O caso de Arth era sério. Perdi a noção de por quanto tempo fiquei sentado no chão ao lado do quarto dele chorando, só quando ele se ajoelhou a minha frente e me abraçou e que voltem minimamente aos sentidos.
Ele me pediu que não falasse nada do que ouvi a Miguel, o que talvez fosse facil antes, quando eu mal lembrava de sua presença, mas agora, quando ele invadia meu quarto quase toda noite só pra dormir de conchinha, era um tortura esconder tal fato dele

— Kayke

Eu simplesmente mal conseguia olhar nos seus olhos

— Kayke

Ele parecia tão feliz e inocente, eu me sentia um mostro deixando ele naquela ilusão de que tudo ficaria bem — Baby!! – me surpreendo ao ouvir o apelido pelo qual Arth praticamente nunca me chamou, me afasto de seus braços e encaro seu rosto
— Cai no buraco Alice? – me pergunta rindo e minha cabeça fervilhava tanto que nem entendi sua referência, então apenas fico o encarando enquanto sinto as lágrimas ainda molharem meu rosto — Te chamei várias vezes, você parecia estar em outro lugar – eu ainda não sei como ele consegue manter aquele sorriso tão calmo no rosto — Desculpa, eu realmente acho que me perdi um pouco – dou um pequeno sorriso, limpando as lágrimas do meu rosto, ele me dá mais um sorriso, me ajeitando no sofá
— Peço desculpa, mas está na hora do meu remédio, e acho que preciso me deitar um pouco – recebo um carinho em minha cabeça antes dele se levantar
— Você... está tudo bem ? Precisa de alguma coisa?– na verdade depois de toda aquela conversa já não sabia bem o que falar.

— Estou bem pequeno, é só a idade se fazendo presente – sua pequena risada é tão perfeita que é inevitável retribuí-la, e logo já estou sozinho na sala, o filme já está passando os créditos, nem vi o final, e nem sei se conseguiria, as palavras de Arth ainda ecoavam em minha cabeça.