9 - Fibrose cistíca da Zaya.

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Maya Anders.

Minha mãe me olhou com o cenho franzido, e era exatamente porque eu estava com a boca aberta, olhando para Hugo e uma garota de cabelos incrivelmente grandes e bonita.
Ela usava uma cãnula no nariz e olhava para nós duas.

- Maya, esta é a Zaya, a garotinha mais linda do mundo. - Minha mãe disse, apontando para ela.

Eu não podia acreditar. Eu estava diante dela, a tal de Zaya, que gostava de mim, dos meus livros.
Respirei fundo para não demonstrar minhas emoções, nenhum reação negativa.
Para eles, eu era só a Maya, a que não era escritora de nada.
Era isso.

- Oi. - Acenei para ela, que acenou de volta. - Oi Hugo.

- Oi anjo. - Revirei os olhos. Pensei que ele fosse parar de me chamar de anjo, depois de toda aquela burrice dele.

De anjo eu não tinha nada.

- Zaya tem sessenta por cento de capacidade pulmonar. É muito forte! - Um sorriso iluminou o rosto daquela garota.

Minha mãe deu um passo para entrar no quarto, eu também.
Quando fiz isso, acho que eu quase morreria, porque minha pressão caiu.
Ali, estava o meu nome em todo lugar daquele quartinho, que era muito organizado por sinal.
Tinha nome dos meus livros, meu nome, só que era escrito bem pequenininho, o que facilitava muito, porque senão minha mãe já teria descoberto toda aquela situação, todo o meu segredo.
E meu Deus, ela gostava muito mesmo de mim.
Ela era uma fã minha. E eu Não podia fazer nada, nem abraçá-la, tirar fotos, porque a situação em que eu me encontrava, não era permitido.

- Como eu disse, Maya - Fiquei um pouco chateada por Hugo não ter me chamado de anjo, mas não disse nada, logo ele continuou. - Ela é apaixonada por essa escritora, que não faz ideia que ela existe.

"Eu faço ideia que ela existe sim!", eu quase disse.

- Talvez ela saiba, só não quer aparecer. - Dei de ombros, tentando suavilizar a situação.

- Em todo caso, eu sou apaixonada pelas histórias dela. Tem noção? Você já leu algum livro dela? - Zaya perguntou, olhando para mim com um sorriso no rosto.

- Já li sim, Zaya. - Respondo, dando um sorriso também. - Inclusive, eu até estou lendo um agora, só não lembro o nome dele.

- Em busca de respostas para o meu amor...? - Perguntou, com um sorriso.

Olhei para Hugo e ele olhou de volta para mim.
Talvez fosse impressão minha, mas vi uma lágrima brotando nos seus olhos castanhos.
Coloquei uma força absurda no olhar, tentando dizer que eu estava aqui se precisasse.
Só esperava que ele entendesse.

- Anjo? - Ele sussurrou, bem baixo, enquanto minha mãe e Zaya conversavam.

- Oi? - Mordi o lábio, olhando para ele.

- Posso conversar com você? - Fiz que sim e ele apontou para a porta.

Saímos nós dois para fora, e eu dei uma última olhada para a minha mãe e Zaya.
Fechei a porta atrás de mim, quando me virei, trombei o rosto bem no peito de Hugo, que estava atrás de mim.
Arregalei os olhos e me afastei, dando um passo para trás.

- Desculpa...- Murmurei, corando de vergonha. - Eu... eu não tinha visto você aí.

- Anjo, eu não me importo se você esbarrou em mim ou não, ok? Eu preciso que você me abrace, pode ser? - Pisquei duas vezes para ver se tinha entendido errado.

- É o quê?

- A fibrose cistíca da Zaya ta acabando com ela, Maya. Hoje mesmo ela teve uma crise, e eu estou tão apavorado, porque ela precisa de pulmões novos urgentes e se fosse preciso, eu mataria para salvar a minha irmã, entende? - Eu compreendia o que ele estava falando.

Ayla era a minha irmã mais velha, morava sozinha em Los Angeles e fazia faculdade de Medicina.
Ela era perfeita, a filha perfeita, não tinha nenhum defeito, enquanto eu era cheia de defeitos, não era filha querida dos pais...
Mas eu amava a minha irmã. Se fosse preciso, eu morreria por ela, porque ela estava ali quando eu sempre precisei.
E carinho de irmandade é isso.

- Eu entendo você, Hugo. Eu também tenha uma irmã, que é a merda de uma filha perfeita. - Dei de ombros. - Sabe, ela é perfeita, não tem nenhuma defeito, já eu, eu vivo de defeitos!

- Você é perfeita, Maya. Não tem nenhum defeito em você! - Olhei bem para ele, tentando acreditar naquelas palavras.

- Não sei...- Dei uma pausa para tentar falar algo depois. - E os seus pais? Eles já fizeram alguma coisa?

Ele abaixou a cabeça e bagunçou o cabelo preto, pensativo.
Talvez não tenha sido uma boa ideia falar sobre os pais dele.
Mas serà mesmo que ele tinha pais? Quer dizer, depois de toda essa reação...

- Eu preciso ir ver a minha irmã. - Ele se apressou em dizer, levantando a cabeça tão rapidamente quanto tinha levantado.

Chateada, fiz que sim com a cabeça e olhei para ele, tentando ver o brilho dos olhos de Hugo, aquele mesmo brilho de antes, mas não tinha.
Ele havia sumido.
Quando menos esperei, Hugo puxou o meu pulso e me puxou para ele, me abraçando.
De início, fiquei sem reação, petrificada, mas depois entendi que talvez fosse importante para ele, receber um abraço.
Ele tocou o meu cabelo, passando os dedos delicadamente entre os fios.
Depois, ele beijou a minha testa e se afastou.

Fiquei explodindo de raiva de mim mesma por ter sentido falta do abraço dele.
Eu não deveria! Não deveria mesmo!
A gente nunca tinha ficado tão próximo, além da hora que ele beijou minha testa.
De repente, esse dia tinha sido tão cansativo e duradouro.

***

Seguinte...

"Eu faria milhões de canções pra você ouvir, o teu sorriso alegre me faz sorrir..."

O Anjo e Eu Onde histórias criam vida. Descubra agora