Acordei na madrugada com um grito. Um grito de desespero e logo eu me pus de pé, calçando os chinelos e correndo para o quarto de Zaya.
Quando cheguei lá, ela estava deitada e fazia esforço pra respirar. Meu coração acelerou e eu corri ao seu encontro.
- Zaya! Está tudo bem? - Pergunto, observando a minha irmã puxando a respiração.
- ...falta de ar...- Me desespero e grito o meu pai.
- Pai! - Grito umas três vezes, até ele aparecer correndo. Julie vinha em seguida, desesperada. - Ela está com falta de ar!
- A bomba...- Julie se apressa e pega uma bomba de dentro da bolsa que estava ao lado de Zaya. - Respire fundo, vai ficar tudo bem. - A enfermeira olhou pra Zaya e depois para o meu pai, com um olhar triste. - Ela está piorando! Precisamos levá-la urgente até o hospital. Agora!
- Ok. - Vi meu pai correndo de um lado para o outro, sem saber o que dizer. Olhei de um lado pro outro e peguei Zaya no colo, levando também seu oxigênio portátil.
- Hugo...- Ela me chama se esforçando pra dizer. Aquela altura, comecei à soar frio e temendo qualquer coisa. - Eu... eu não quero mo-morrer. - Faço a calar, antes que diga mais alguma coisa.
- Vai ficar tudo bem, maninha. - Digo e beijo-lhe a testa, descendo as escadas com ela, que fazia uns barulhos, puxando a respiração. - Aqui! - Abro a porta e coloco ela dentro do carro.
- Vamos. - Meu pai entra, Julie e eu. O carro vai embora dali, rapidamente.
Meu maior medo era perder a minha irmã e Zaya sabia disso. Eu cuidei dela como se fosse a minha vida. Deixei meu amor declarado pra ela e agora tudo parecia ter escapado como areia entre os meus dedos.
Chegamos rapidamente no hospital e meu pai correu pra abrir a porta. Saí e pego a minha irmã no colo, correndo pra dentro do hospital, onde havia muitos médicos e enfermeiros de plantão. Tive a impressão de ver a mãe de Maya ali.
Ela é a médica particular da Zaya. Então quando a viu, correu pra pegar uma maca. Coloquei-a ali e olhei pra ela, com a dor esmagando o meu peito.
- Hugo...- Ouço ela chamar, mas uns enfermeiros a levaram pra sala.
Tive que vê-la indo, meio nervoso e com inúmeros pensamentos negativos. Meu pai também olhava pra lá, mas ambos sabíamos que não tínhamos como fazer nada agora, a não ser esperar.
Fui pro corredor e sentei ali numa cadeira, de cabeça baixa.
Eu estava tão feliz ontem á noite, fazendo tudo como uma pessoa normal. Tinha terminado uma música que andara trabalhando á dias. Não sabia o motivo, mas minha alegria sempre era passageira.
Queria um motivo pra não desistir agora. Minha irmã, quem eu tanto amei, está ali agora, dentro de uma dessas salas, fazendo sabe-se lá Deus o quê, tentando voltar á ter chances de vida.
Naquele momento, me fechei no meu próprio mundo novamente, onde não era permitido nenhuma pessoa chegar perto.
[...]
O dia já havia amanhecido e eu cochilava, com o queixo em cima da palma da mão. Estava exausto, mas não queria ter que deixar a minha irmã.
Meu pai não estava ali. Pediu inúmeros desculpas, mas ele precisava ir pra editora, pois tinha um contrato com um escritor famoso pra hoje. Apesar de tudo, eu o entendo.
Talvez eu fizesse papel de pai com a Zaya, mas era porque eu a amava e cuidei dela desde quando a minha mãe se foi.
Cansado, me levantei da cadeira pra beber água. Bebi um pouco, vendo meu estômago reclamar de fome. Andei pelos corredores meio aflito e xingando a fibrose cistíca de tudo quanto é nome.
Se ela não existisse, minha irmã não seria doente e não teria que ficar fazendo tratamento dia após dia, acabando com si mesma. Desde que cresceu, Zaya foi infectada com isso e está com 60% de capacidade pulmonar. Não é tão baixo, graças á Deus.
Ela está acima do número de transplantes. Pulmões novos pra ela seria o paraíso agora. Daria a ela mais tempo de vida, mas ainda não achamos uma boa oportunidade.
Eu mataria alguém por ela, mesmo sabendo que isso é errado. Queria ser compatível também, mas infelizmente, não sou. Nem meu pai.
- Se ela não receber os pulmões...- Ouço uma voz dentro de uma sala, que estava aberta. Apuro os ouvidos e parei pra escutar, afinal, reconheci os cabelos loiros da médica responsável por Zaya. - Ela vai morrer! A capacidade pulmonar dela está baixando, ainda que lentamente. - Meu coração parou. - Ela está morrendo aos poucos!
- Esta menina é tão querida por todos. - Eu não saía do lugar, porque ouvir aquilo seria ruim pra mim.
- Está cada vez mais difícil encontrar pulmões compatíveis, doutor. - Ela diz, com uma vó trêmula e lamentável. - E, se não encontrarmos pulmões pra ela... infelizmente Zaya não irá resistir. A bactéria está se espalhando cada vez mais rápido, o que é preocupante.
Dei de ombros e saí dali, com a cabeça em um enorme caos.
Xinguei muitos palavrões.
Percebi que estava chorando, quando percebi meu nariz fungando.
Inúmeras vezes, tentei não demonstrar meus sentimentos e era por isso que eu escondia meus sentimentos e minhas próprias ilusões dentro de um capuz.
Tentei dar o melhor pra minha irmã e cuidei dela. E agora, ela precisava urgente de novos pulmões.
Ela precisava, porque senão, ela morreria e não sabia o que seria de mim sem ela.
Meu pai havia deixado o carro pra mim voltar pra casa, então eu entrei nele e fiquei ali por uns quinze minutos, refletindo.
Queria organizar os meus pensamentos, as minhas emoções. Tudo o que eu queria era dar uma vida melhor pra minha irmã. Tudo o que eu queria era que ela ficasse melhor, que fosse como uma pessoa normal. Mas ela não é. Está longe de ser isso!
[...]
Preferi não ir a escola hoje. Esperei meu pai chegar pra contar á ele tudo o que estava acontecendo, ou ainda iria acontecer. Eu me preparava pra isso, porque, nos mantivemos forte, nós dois por Zaya.
Meu pai quis desistir de tudo e quase teve depressão. Mas tivemos uma conversa, de que, não importava o que acontecesse, estaríamos unidos, por ela. Queríamos o melhor pra ela, mas ter aquela conversa com ele, dizendo que ela estava... morrendo, doeu.
Contei à ele, que passou o resto da noite encabulado e chorando. Não pude fazer muita coisa.
Á noite, quando ia dormir, saí pra fora de casa e olhei pro céu. Lembrei instantaneamente de Maya, quando eu estava com ela.
Não sei o que aquela garota tinha, que só de eu olhar pra ela, eu sentia uma calmaria. Eu não era o mesmo, que escondia os meus sentimentos, que afastava as pessoas que eu não gostava. Maya exalava calmaria. Ela é totalmente diferente do que eu esperava encontrar. E eu não costumo comparar as pessoas, mas ela é muito mais do que eu esperava, ou costumava encontrar.
Há muitas coisas que me atraem nela. Seu sorriso inocente e destruidor de qualquer coração. Seus cabelos loiros, que me fazem acreditar que ela é um Anjo. Talvez seja um Anjo na minha vida.
***
Seguinte..."Se tô contigo"
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Anjo e Eu
Novela JuvenilMaya Anders era uma garota perdida, que não sabia como contar para os pais que ela queria uma coisa que eles não apoiariam. Os pais dela não aceitaria uma filha que não trilhassem os mesmos passos que eles, por isso, Maya esconde que é uma escritora...