26 - Ela está morrendo aos poucos.

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Acordei na madrugada com um grito. Um grito de desespero e logo eu me pus de pé, calçando os chinelos e correndo para o quarto de Zaya.

Quando cheguei lá, ela estava deitada e fazia esforço pra respirar. Meu coração acelerou e eu corri ao seu encontro.

- Zaya! Está tudo bem? - Pergunto, observando a minha irmã puxando a respiração.

- ...falta de ar...- Me desespero e grito o meu pai.

- Pai! - Grito umas três vezes, até ele aparecer correndo. Julie vinha em seguida, desesperada. - Ela está com falta de ar!

- A bomba...- Julie se apressa e pega uma bomba de dentro da bolsa que estava ao lado de Zaya. - Respire fundo, vai ficar tudo bem. - A enfermeira olhou pra Zaya e depois para o meu pai, com um olhar triste. - Ela está piorando! Precisamos levá-la urgente até o hospital. Agora!

- Ok. - Vi meu pai correndo de um lado para o outro, sem saber o que dizer. Olhei de um lado pro outro e peguei Zaya no colo, levando também seu oxigênio portátil.

- Hugo...- Ela me chama se esforçando pra dizer. Aquela altura, comecei à soar frio e temendo qualquer coisa. - Eu... eu não quero mo-morrer. - Faço a calar, antes que diga mais alguma coisa.

- Vai ficar tudo bem, maninha. - Digo e beijo-lhe a testa, descendo as escadas com ela, que fazia uns barulhos, puxando a respiração. - Aqui! - Abro a porta e coloco ela dentro do carro.

- Vamos. - Meu pai entra, Julie e eu. O carro vai embora dali, rapidamente.

Meu maior medo era perder a minha irmã e Zaya sabia disso. Eu cuidei dela como se fosse a minha vida. Deixei meu amor declarado pra ela e agora tudo parecia ter escapado como areia entre os meus dedos.

Chegamos rapidamente no hospital e meu pai correu pra abrir a porta. Saí e pego a minha irmã no colo, correndo pra dentro do hospital, onde havia muitos médicos e enfermeiros de plantão. Tive a impressão de ver a mãe de Maya ali.

Ela é a médica particular da Zaya. Então quando a viu, correu pra pegar uma maca. Coloquei-a ali e olhei pra ela, com a dor esmagando o meu peito.

- Hugo...- Ouço ela chamar, mas uns enfermeiros a levaram pra sala.

Tive que vê-la indo, meio nervoso e com inúmeros pensamentos negativos. Meu pai também olhava pra lá, mas ambos sabíamos que não tínhamos como fazer nada agora, a não ser esperar.

Fui pro corredor e sentei ali numa cadeira, de cabeça baixa.

Eu estava tão feliz ontem á noite, fazendo tudo como uma pessoa normal. Tinha terminado uma música que andara trabalhando á dias. Não sabia o motivo, mas minha alegria sempre era passageira.

Queria um motivo pra não desistir agora. Minha irmã, quem eu tanto amei, está ali agora, dentro de uma dessas salas, fazendo sabe-se lá Deus o quê, tentando voltar á ter chances de vida.

Naquele momento, me fechei no meu próprio mundo novamente, onde não era permitido nenhuma pessoa chegar perto.

[...]

O dia já havia amanhecido e eu cochilava, com o queixo em cima da palma da mão. Estava exausto, mas não queria ter que deixar a minha irmã.

Meu pai não estava ali. Pediu inúmeros desculpas, mas ele precisava ir pra editora, pois tinha um contrato com um escritor famoso pra hoje. Apesar de tudo, eu o entendo.

Talvez eu fizesse papel de pai com a Zaya, mas era porque eu a amava e cuidei dela desde quando a minha mãe se foi.

Cansado, me levantei da cadeira pra beber água. Bebi um pouco, vendo meu estômago reclamar de fome. Andei pelos corredores meio aflito e xingando a fibrose cistíca de tudo quanto é nome.

Se ela não existisse, minha irmã não seria doente e não teria que ficar fazendo tratamento dia após dia, acabando com si mesma. Desde que cresceu, Zaya foi infectada com isso e está com 60% de capacidade pulmonar. Não é tão baixo, graças á Deus.

Ela está acima do número de transplantes. Pulmões novos pra ela seria o paraíso agora. Daria a ela mais tempo de vida, mas ainda não achamos uma boa oportunidade.

Eu mataria alguém por ela, mesmo sabendo que isso é errado. Queria ser compatível também, mas infelizmente, não sou. Nem meu pai.

- Se ela não receber os pulmões...- Ouço uma voz dentro de uma sala, que estava aberta. Apuro os ouvidos e parei pra escutar, afinal, reconheci os cabelos loiros da médica responsável por Zaya. - Ela vai morrer! A capacidade pulmonar dela está baixando, ainda que lentamente. - Meu coração parou. - Ela está morrendo aos poucos!

- Esta menina é tão querida por todos. - Eu não saía do lugar, porque ouvir aquilo seria ruim pra mim.

- Está cada vez mais difícil encontrar pulmões compatíveis, doutor. - Ela diz, com uma vó trêmula e lamentável. - E, se não encontrarmos pulmões pra ela... infelizmente Zaya não irá resistir. A bactéria está se espalhando cada vez mais rápido, o que é preocupante.

Dei de ombros e saí dali, com a cabeça em um enorme caos.

Xinguei muitos palavrões.

Percebi que estava chorando, quando percebi meu nariz fungando.

Inúmeras vezes, tentei não demonstrar meus sentimentos e era por isso que eu escondia meus sentimentos e minhas próprias ilusões dentro de um capuz.

Tentei dar o melhor pra minha irmã e cuidei dela. E agora, ela precisava urgente de novos pulmões.

Ela precisava, porque senão, ela morreria e não sabia o que seria de mim sem ela.

Meu pai havia deixado o carro pra mim voltar pra casa, então eu entrei nele e fiquei ali por uns quinze minutos, refletindo.

Queria organizar os meus pensamentos, as minhas emoções. Tudo o que eu queria era dar uma vida melhor pra minha irmã. Tudo o que eu queria era que ela ficasse melhor, que fosse como uma pessoa normal. Mas ela não é. Está longe de ser isso!

[...]

Preferi não ir a escola hoje. Esperei meu pai chegar pra contar á ele tudo o que estava acontecendo, ou ainda iria acontecer. Eu me preparava pra isso, porque, nos mantivemos forte, nós dois por Zaya.

Meu pai quis desistir de tudo e quase teve depressão. Mas tivemos uma conversa, de que, não importava o que acontecesse, estaríamos unidos, por ela. Queríamos o melhor pra ela, mas ter aquela conversa com ele, dizendo que ela estava... morrendo, doeu.

Contei à ele, que passou o resto da noite encabulado e chorando. Não pude fazer muita coisa.

Á noite, quando ia dormir, saí pra fora de casa e olhei pro céu. Lembrei instantaneamente de Maya, quando eu estava com ela.

Não sei o que aquela garota tinha, que só de eu olhar pra ela, eu sentia uma calmaria. Eu não era o mesmo, que escondia os meus sentimentos, que afastava as pessoas que eu não gostava. Maya exalava calmaria. Ela é totalmente diferente do que eu esperava encontrar. E eu não costumo comparar as pessoas, mas ela é muito mais do que eu esperava, ou costumava encontrar.

Há muitas coisas que me atraem nela. Seu sorriso inocente e destruidor de qualquer coração. Seus cabelos loiros, que me fazem acreditar que ela é um Anjo. Talvez seja um Anjo na minha vida.

***
Seguinte...

"Se contigo"


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