Foi uns dias a seguir que o pai me disse que deveria ajeitar-me decentemente porque iriamos dar um passeio e verificar possíveis maridos para mim, eu não gostei da ideia porque não queria ser exibida como se fosse um objeto de leilão à espera que alguém desse mais por mim. Infelizmente, nasci muito bonita e a minha família gaba-se disso, usando-me para escolher o melhor futuro marido e justificando que como sou muito bonita, não posso ficar com qualquer um. Acenei com a cabeça e vesti a roupa de sair sem retorquir porque é melhor não ir contra a maré e aceitar que custa menos, mas sinceramente, não tenho vontade nenhuma de ir sentar-me com o meu pai e deixá-lo escolher os possíveis rapazes mais indicados para mim.
O meu pai levou-me a um salão como se fosse a rainha da pista de dança, exibindo-me num pedestal como um anjo. O salão é bastante pequeno e antigo, o tento com pano bordô e o chão em madeira tratada, mas quanto mais olhava em meu redor, menos rapazes encontrava, apenas via homens da idade do meu pai ou mais novos ou ainda mais velhos que ele. Algo dentro de mim se acionou e dizia-me para ter cuidado como se fosse uma situação de perigo eminente, no entanto, eu não encontrava o perigo, apenas sentia-me estranha de estar em frente a tantos homens como se fosse um troféu, sendo que o pai disse que íamos averiguar possíveis futuros maridos para mim. Será que nos enganamos? Ou estes são os pais dos rapazes com quem é suposto casar no futuro?
Tudo me parece estranho, mas mantive o sorriso e a expressão confiante, mesmo sentido o estômago como um carrocel e os nervos à flor da pele. Sinto o corpo tremer de nervos, a respiração mais ruidosa e os suores a quebrarem-me, mas esforcei-me para manter a pose que o meu pai me ordenou enquanto ele conversa com vários homens ali. Cada um com o seu olhar possessivo e louco, os olhos brilhantes de poder, faziam-me arrepiar até à espinha, sentia-me como um pedaço de carne que todos queriam provar. Imaginava-os como lobos esfomeados, sedentos de carne e neste caso, uma carne jovem, mas os piores são aqueles que dão a volta olhando nos olhos para ver o medo transcrito neles. Tentei ignorá-los, mas eles faziam questão de me sorrir, um sorriso de lobo vestido em de cordeiro. Ou seja, um sorriso que parece amável, mas é cheio de malícia.
Nestes momentos, percebi o que Deus pretendia explicar nos seus versículos sobre a luxúria, porque, sinto-me como um objeto que todos querem e que ninguém pode ter, mas todos sabem do pecado da carne, por isso, limitam-se a olhar sem tocar. Sinceramente, estes olhares são pavorosos e consomem-me a minha pequenina alma, deixam-me nua mesmo estando vestida e sinto que me leem os pensamentos mais profundos, por isso, quando olham para mim, fecho os olhos e repito a frase de Deus:
Vocês ouviram o que foi dito: 'Não adulterarás'. Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração.
Mateus 5:27-28
Só me imaginava longe daqui, numa faculdade boa a estudar e completamente independente de qualquer homem porque eu sei que sou inteligente e mereço o melhor, mas não quero um homem que me controle e me veja como um objeto que têm em casa para mostrar aos amigos. Na minha franca opinião, não sou um objeto que eles devessem controlar e nem sou criada de nenhum homem, mas aqui seria mal vista se pronunciasse a minha opinião. Uma mulher com opinião é mal vista e o meu pai quer um bom marido, portanto, tenho de me calar e talvez um dia ele compreenda o meu valor. Infelizmente, bem no fundo, isto é só uma esperança inútil porque o mundo está governado para os homens terem as liberdades que desejarem enquanto as mulheres devem apenas limitar-se aos seus serviços domésticos.
Após algumas horas, fui convidada a circular entre eles, eles ofereciam-me bebidas que sabiam que iria recusar por gentileza, porém esses ainda se aguentavam, porque os intragáveis eram aqueles que me convidavam a sentar no colo deles ou me questionavam sobre a permissão para me tocarem. Felizmente, o pai defendia sempre os meus interesses e não permitia tais abusos, mas deixava o contacto para quando eu fosse mais velha. Alguns eram extremamente amáveis e compreensivos, questionavam-me sobre a escola e as minhas notas, valorizavam as minhas competências e inteligência. Contudo, nem todos são assim, a maioria só queria saber da minhas aptidões como mulher, se já sei cozinhar e cuidar da casa, se tenho bons valores e sou obediente.
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O Amor e a Morte, vencem o mais forte (Edição Especial)
HorrorSaga Detalhes de Amor-Imperfeito Júlio nunca foi um menino fácil, já gostava de maltratar os outros desde pequeno, mas sempre teve o amor da sua mãe até ao dia que desaparece. A partir daí começa a ficar mais próximo da sua tia Sara que casa com o p...