Capítulo 14 (Cristina Mendes - 21 anos)

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Depois que conseguimos uma casa, ele mostrou uma atitude mais ambiciosa e investiu numa pequena loja na vila em que nos instalamos. Finalmente, mostrou que não é tão insonso como parece e tem capacidade para ir mais além, comecei a fazer o meu dever de esposa e espalhei aos 7 ventos que em breve iriamos ter uma frota nacional de lojas, mas para ser sincera, não sentia que ele tivesse capacidade para gerir algo tão grande sem a minha ajuda. Sinto um formigueiro ao imaginar que iria ser rica e ter uma vida de luxo, onde pudesse exigir que dormíssemos separados e ter uma casa para viver sozinha, longe dele. Seria um verdadeiro sonho livrar-me desde inútil...

A nossa casa já contém 2 quartos, inicialmente seria para ele dormir lá quando chegasse tarde do trabalho, mas ele controla os horários e consegue vir cedo para casa. É uma casa bastante simples, até demasiado simples, mas pelo menos, conseguimos preencher os quartos e assim, nunca mais terei de dormir com frio e no chão, sujeita a ver os ratos passar. Continuamos sem ter intimidade porque ele não avança e mostra uma atitude mais masculina, fica ali quieto como se eu é que devesse atirar-me ao seu corpo por ele ser tímido e covarde, mas eu fico quieta e calada porque sei que ele não tem tomates para me agarrar e pronto.

Apesar da boa relação dele com o meu pai, ele manteve a sua posição de recatado e tímido, e isso irritava-me profundamente, mas a proximidade deles deixava-me mais desconfortável porque eles encontravam-se e falavam muitas vezes sem eu saber. Fechavam-se no campo ou na tasca como os amigos do meu pai, bebiam e riam imenso, comecei a sentir um desconforto no peito e aflita porque ele não me contava nada. Os calores frios eram constantes e a incerteza deixa-me insegura e com raiva, mas tento fingir que cumpro todas as exigências de uma esposa, mesmo sabendo que é mentira. Quando visitávamos os meus pais, eles cumprimentavam-se com muita amabilidade e eu sentia-me nervosa porque ele podia dizer ao meu pai que sou má esposa e desfazer o casamento, esse cenário perpétua na minha mente e fico com um nó na garganta.

Foi no final de outubro que percebi que tinha de criar garantias para me precaver, e caso ele procurasse desfazer o casamento, eu iria receber algo para me sustentar. Pensei bastante durante a noite sobre como iria ter garantias, mas sem existir intimidade e sem saber do que ele e o meu pai conversam, fico com uma corda no pescoço e um peso enorme nas costas. Não tenho culpa que ele não me procure e seja covarde, mas eu que preciso de manter a reputação e encontrar uma fonte de rendimento, porque ele fica sempre com boa reputação. Poderia esperar que ele me oferecesse joias e coisas boas, mas sei perfeitamente que ele é demasiado insonso e não percebe nada de romance, por isso, terei de procurar uma solução mais eficaz a longo prazo (algo que o obrigasse a ficar para sempre).

Uns dias após a visita aos meus pais, encontrei uma das minhas amigas da terra, tinha casado com um homem incrivelmente bonito e charmoso, por isso, tinha-se mudado e já não a via desde então. Ela estava diferente, continuava bonita e bem-vestida, mas estava mais forte, com as bochechas mais cheias e passeava um carrinho com um bebé, um rapaz muito adorável e bonito. Conversamos logo ali na rua uns minutos porque ela estava de passagem e ia ter com o marido ao fundo da rua:

- Já ouvi falar que casaste... – comentou ela, na sua voz fininha.

- Sim, já sabes como é...

- E já arranjaste um herdeiro ao teu marido? – perguntou ela, pegando no seu bebé tão pequeno.

- Ainda não, o meu marido é bastante ocupado.

- Oh... Mas, tens de te apressar, senão passas do tempo...

- Pois...

- Não contes a ninguém, mas é uma garantia para nós... – sussurrou-me ela.

- Em breve também terei um filho lindo como o teu... Como se chama o pequeno? – perguntei, desviando o assunto.

- Dinis, como o rei de Portugal.

O Amor e a Morte, vencem o mais forte (Edição Especial)Onde histórias criam vida. Descubra agora