Capítulo 17 (Júlio Duarte - 37 anos)

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Quando fiquei a saber que o filho da Cristina começava a se aproximar da minha filha, percebi que era o momento de começar a fazer alguma coisa. Mais tarde ou mais cedo, eles poderão apaixonar-se e acontecer alguma coisa, mas eu não vou permitir que essa palhaçada continue porque já me basta a indecência de os rapazes terem aulas com as raparigas e ser permitido a amizade entre eles. Uma rapariga devia recatar-se e ser acompanhada apenas pelos homens da família, mas estas modernices vieram encher a cabeça da miúda com pensamentos que nenhuma mulher deve ter, como a independência ou trabalhar. Por isso, o meu filho tem sido um bom aliado na resguarda da irmã e tem me posto ocorrente quando algum rapaz chega perto dela. Filha minha, não será puta como a outra...

Foi então que me apareceu na loja a Cristina, tinha um ar mais envelhecido e a beleza já lhe fugia pelas rugas, tinha os olhos muito furiosos e sinceramente, não estava com paciência para ouvir mexericos de mulher no meu local de trabalho. Ela veio logo ter comigo, tinha uma bochecha um pouco mais rosada que a outra, deduzo que tenha finalmente levado a correção que merecia e que o marido não é tão idiota quanto parece. Chegou-se ao balcão sem nenhuma educação e sem um cumprimento, e saiu-se logo com o que queria:

- Quero que me arranjes um sítio para ficar com o meu filho ou todos vão saber que és pai do Mateus e envolveste com uma mulher casada à força.

- Como se alguém fosse acreditar numa palavra tua.... Tens a reputação que tens...

- Eu armo um escândalo que vai arruinar a tua vida...

- Seria a tua palavra contra a minha e ao contrário de ti, eu tenho uma ótima reputação...

- Pois, mas eu tenho um Teste de ADN e vou levar isto a tribunal, por isso, vamos poupar escândalos e arranja-me sítio para ficar uns tempos.

Realmente, não vale a pena estar a entrar em escândalo com ela, ela vai estragar-me a vida e arruinar o meu casamento, por isso, vale mais calá-la do que entrar em conflito. Os nervos saltam-me como bolas saltitonas e a minha vontade de a pôr na linha é maior do que a minha raiva, segurei a raiva e a expressão de ódio para não lhe dar o gosto de me afetar e respondi-lhe com uma questão mais forte:

- É para te esconderes do teu marido que finalmente te pôs na linha?

- Não tens nada a haver com isso... – respondeu ela muito azeda.

Soltei um sorriso glorioso, ela tinha realmente levado uma estalada na cara e estava a tentar fugir do casamento, mas veio aqui com a mania que mandava e ficou agora toda azeda porque eu estou no controlo. Eu decido onde ela vai se esconder! Ela esta dependente da minha decisão e de eu a conseguir esconder, mas a verdade é que esta situação pode me valer um favor a cobrar mais tarde. E ter um favor para cobrar é ótimo pagamento...

- Muito bem, eu tenho uma casa que pertencia à minha tia e ao meu pai, não fica muito longe, mas é o suficiente para te esconderes do teu maridinho.

Ela estava à espera que lhe fosse mostrar a casa, por isso, larguei o meu avental de trabalho e retirei-me. À porta estava o miúdo e umas malas, nem olhei para ele porque não queria levantar ainda mais problemas se me vissem com ela e com o miúdo. Ele estava meio desorientado e enérgico, mas ela atrás de mim, deu-me um empurrão de "Não demores", por isso indiquei a direção. Inicialmente, ela ficou à espera que pegasse numa das malas, mas eu não o fiz e ela esperneou-se um pouco, e levou a própria mala. Já ia ter de lhe ceder a maldita casa do diabo e ainda tinha de lhe levar a mala?! Nem pensar.... Carregou a mala cheia e a abarrotar, queixando-se de tempos a tempos com o cansaço, quase na tentativa que me oferecesse para ajudar, mas enganou-se e levou a mala dela até à casa.

Ainda antes de chegar a meio da rua, o estomago revirou-se todo e parece que a comida começou a subir garganta acima para vomitar, tentei conter o nojo que sentia pela casa e não mostrar que a porcaria da casa me afeta. Tinha algumas ervas e teias de aranha em alguns sítios, mas permanecia de pé com a cor desbotada pelo sol e com o despertar do mesmo ódio em mim. Subir as escadas é reviver cada mais os últimos momentos que aconteceram e me lembrar que odeio esta casa e que já a devia ter deitado abaixo, mas parte de mim também não quer alarido e conversas. Conheço de cor o barulho de cada tábua e o cheiro da casa, por isso, fiquei com ainda mais revolta ao voltar aqui, mas também não quero que esta puta tenha o prazer de me ver afetado com alguma coisa. Não lhe quero dar o gostinho de me ter nas mãos e perguntar o que aconteceu porque ninguém tem nada a haver com o que aconteceu.

O Amor e a Morte, vencem o mais forte (Edição Especial)Onde histórias criam vida. Descubra agora