O Júlio planeou tudo com a intenção de incriminar a Valentina, mas não esperava que ela se perdesse tanto no seu ódio e na raiva que guardava por ele, não contava com ela ser capaz de tanta maldade nem que ela seria capaz de torturá-lo sem pensar duas vezes. Foi durante esse momento que ele tomou consciência de que o seu plano tinha perdido o controlo e que ela não ia parar até descarregar todo o ódio que sentia, percebeu que não conhecia a mulher que teve ao seu lado e que não sairia do armazém vivo. Percebeu tarde demais do plano idiota que preparou e não queria aceitar que ia perder, não quis aceitar que ela controlava a situação e que o faria pagar.
A morte foi dolorosa e horrenda, mais brutal do que ele tinha planeado, mas ele também percebeu de tudo o que fez na sua vida e que estava a ser castigado por todos os erros que fez. Sentiu cada unha a ser arrancada como os arranhões que sentiu quando dormia com a própria tia e mulher do pai, sentiu cada golpe como os murros que recebeu, sentiu cada parte de si em dores inexplicáveis como todas as atrocidades que cometeu contra os outros. Estava a pagar o preso de cada morte, cada crime, cada agressão... Além disso, ela não era mais a mesma Valentina doce que ele conheceu, era um monstro libertado e a quem se deu o poder de castigar quem a fez sofrer sempre, a raiva nos olhos dela, a frieza na tortura, a insensibilidade contra o sangue. O monstro que ele mesmo criou...
Lembrou-se do dia em que matou a tia Sara porque ela tinha matado a mãe por ciúmes, recordou que lhe bateu com a mesma raiva até ela não se mexer. Recordou-se de ter deixado o bebé no orfanato e ter enterrado a tia, mas percebeu que tudo teve consequência e que estava a pagar todas agora. Por isso, nos seus últimos minutos, pediu perdão a Deus pelos males que fez, pediu misericórdia e aceitou que toda a dor que sentia era o custo do sofrimento dos outros a quem ele maltratou. Sentiu a morte passar por si e sentiu cada pedaço de si ser despedaçado, sentiu a dor em cada golpe e desejou que tudo tivesse sido diferente, mas era tarde demais. Gritou e implorou pelo perdão, pediu desculpa por tudo o que tinha feito, mas ela não ouvia porque ela não era ela e não se ia lembrar no dia seguinte.
"Não há nada no mundo, nem recompensa, nem castigo, o que há são consequências."
ROBERT INGERSOLL
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O Amor e a Morte, vencem o mais forte (Edição Especial)
HorrorSaga Detalhes de Amor-Imperfeito Júlio nunca foi um menino fácil, já gostava de maltratar os outros desde pequeno, mas sempre teve o amor da sua mãe até ao dia que desaparece. A partir daí começa a ficar mais próximo da sua tia Sara que casa com o p...