Capítulo 21 (Cristina Mendes - 41 anos)

1 0 0
                                    

O julgamento do Júlio foi realmente patético, só faltava ela dizer que foi ele que pôs fogo na casa porque queria matar os filhos.... Patético! Mas estou mais preocupada com os meus próprios problemas, por isso, esqueci-me daquele idiota e concentrei-me no meu plano para ganhar alguma vantagem neste divórcio, claro que quero receber o dinheiro da pensão, mas também não tenho paciência para o miúdo. Quando entrei na sala, ele parecia ter melhor aspeto do que nos anos todos em que vivemos juntos, estava cuidado e elegante, mas continuava com o mesmo olhar medíocre e sem ambição, por isso, obviamente terei vantagem sobre ele porque nenhum juiz irá retirar um filho a uma mãe.

Mantive calma e centrada no meu propósito, o juiz foi realizando várias questões que procurei dar sempre a resposta mais politicamente correta e parecer uma mãe carinhosa, mas esquecida pelo meu marido. Quase pensar apelar à depressão e ao trauma para levar a minha idoneidade em frente, mas achei que não valia a pena ter de ser avaliada por psicólogos e depois usarem isso para me estragar a imagem porque facilmente acusavam-me de não estava boa da cabeça para ficar com o miúdo. Estava com uma enorme sensação de poder, a confiança fazia-me esboçar um sorriso de alegria, os meus olhos estavam ansiosos, mas mantive uma postura calma e cúmplice para não demonstrar a realidade. Em contrapartida, ele estava cada vez mais em baixo como um fracassado, mas sinceramente não me surpreende porque ele só mostra o que sempre foi, um fraco.

Estava tudo a correr bem até o juiz considerar importante o miúdo participar e ajudar a tomar a decisão, aí os nervos começaram a aparecer e senti-me ligeiramente a ficar ansiosa, a perna começou a bater com o calcanhar num tremer viciante que parecia suavizar o stress e foi aí que percebi que ia perder tudo o que tinha planeado porque nunca imaginei que o juiz fosse questionar o miúdo. Assim que ele entrou, vi a minha vantagem e todo o meu plano ir por água abaixo, ele era demasiado menino do papá para me defender e nem sabe mentir, por isso, o mais certo era que o juiz percebesse que não era assim tão boa mãe ou então existia alguma coisa mal contada.

- Mateus, eu queria que me contasses como era viver com os teus pais antes, podes contar-me? – perguntou o juiz.

- Sim. Quando vivíamos todos lá em casa, o pai trabalhava bastante para termos uma casa e comida, levava-me à escola e ia-me buscar.

- Muito bem e a tua mãe? O que ela fazia?

- A mãe ficava em casa, arranjava as unhas e do cabelo. – respondeu o miúdo.

Neste momento, o juiz ficou muito insatisfeito com esta resposta e fez questão de olhar de lado para mim numa tentativa de perceber como era possível aquilo que o miúdo dizia, basicamente, estava a dizer que sou uma mãe desnaturada e nem me interesso por ele. O juiz respirou bem fundo, e eu começou a ficar cada vez mais ansiosa, o estômago está tão alterado e revoltado que só me apetece correr para a casa de banho, o coração dispara quando ele continua a questionar o miúdo e a cada questão eu sentia-me a fundar mais e mais na lama:

- Então e como era a relação entre o pai e a mãe? – perguntou o juiz.

- O pai sempre trabalhava para comprar o que a mãe pedia, mas ela nunca agradeceu e dizia que o pai não gostava dela e que só vivíamos como pobres. Tratava muito mal o pai e ele ficava triste, mas eu estive sempre lá para apoiá-lo.

- Vocês viviam pobres?

- Não, eu acho que não. Tínhamos roupa, comida, cama, brinquedos.... Tínhamos tudo o que importa para sermos feliz e bem.

- Então porque a mãe dizia que viviam como pobres? – questionou o juiz.

- Porque a mãe queria uma casa grande, mais roupas e mais comidas que não sei o nome, tinham nomes esquisitos... Ela queria presentes e outras coisas...

O Amor e a Morte, vencem o mais forte (Edição Especial)Onde histórias criam vida. Descubra agora