Depois da estalada, percebi que não queria ser como a sonsa da minha mãe que preferiu apanhar porrada e ficar calada, eu sempre fui ignorada e agora não ia ficar a em casa a aguentar isto. Não merecia ser ignorada estes anos todos, e aguentei, mas levar porrada, isso não admito e só me fez desta fez. Não sou mulher de aguentar calada e se ele não gosta, paciência, fique para lá e morra de fome com a sua lojinha enquanto eu vou procurar o melhor para mim e para o meu filho. O mesmo filho que ele fez questão de valorizar mais do que a mim, mas é o mesmo filho que não existia sem mim, por isso, se ele não teve respeito nem compaixão por mim, eu também vou ter por ele.
Não devia ter ido ter com o Júlio porque as pessoas já comentam por aí as parecenças do Mateus e dele, mas não havia mais ninguém a quem recorrer sem levantar suspeitas e visto que o Mateus pode ser filho dele, há que saber jogar as cartas certas quando é preciso. É verdade que foi meio contrariado e até pode me denunciar, mas pelo menos, tenho tempo para me esconder e dar uma lição ao Jorge, talvez ele aprenda a valorizar a mulher dele. Queria não me sentir culpada, mas sinto e quando olho para o miúdo, sinto vontade de o ir lá por a casa e desaparecer para ir em busca da vida que mereço, mas ele é meu filho e ainda me pode render algum dinheiro em processo de divorcio contra o Jorge.
A casa mais parece um cenário de filme de terror, tem lençóis brancos a tapar tudo e o pó é tanto que se consegue ver no ar, as teias de aranha são aos molhos e nem vamos falar da escuridão que está dentro de casa. Honestamente é mesmo assustador e a minha vontade é sumir, mas não me apetece encontrar o meu marido e regressar para junto dele, por isso, há que suportar a situação. Sinto uns calafrios pelas espinha e uns tremores pelo corpo, como se sentisse alguma coisa de estranho em casa, mas tentei ignorar os espasmos de nojo misturados com movimentos de vomito. Ignorei a vontade de abrir a porta e correr para a rua, mas a verdade é que se sente no ar um cheiro estranho, quase como se a morte tivesse cheiro e ele estivesse por todo o lado.
Com tudo escuro e o vento a fazer barulho, o coração parece uma máquina e o medo já percorre as minhas veias. O medo é algo que me percorre até á alma, como se a arrefecesse para a morte chegar mais depressa, mas sei que é apenas uma sensação idiota, porém quase que é palpável a morte, o ódio, a raiva e o medo. Num impulso de me esquecer disto, comecei a destapar tudo à pressão e deitar os lençóis no chão, levantando camadas e camadas de pó que entra na respiração e nos faz tossir. O miúdo a princípio não entendeu, mas depois começou a fazer o mesmo e quando ele abriu o cortinado e entrou luz, finalmente foi como se a morte desaparecesse. Continua-se a sentir um mal-estar na casa, a garganta sempre presa e um medo tremendo, mas é menos forte.
Mandei o miúdo escolher um quarto lá em cima e explorei a sala e a cozinha, já não cozinho há bastantes anos, mas se quiser sobreviver, terei de me recordar como se faz... A cozinha está imunda, mas tem um cheiro a lixivia bastante forte, quase que queima as narinas e sufoca a respiração. Por um lado, significa que está desinfetada, mas por outro, também me deixa com duvidas sobre o porquê de usar lixivia se a casa estava abandonada há uns tempos. Passaram-me algumas hipóteses e cenários, como homicídio ou drogas, mas provocaram-me um calafrio no corpo que me levantou os pêlos dos braços, veio-me um tremor no corpo só de imaginar sangue ou alguém morto aqui. Fechei os olhos e abanei a cabeça para os lados, na tentativa de apagar aquela imagem cruel da minha mente, mas se pensar bem, se não foi um crime, porque é que foi usada tanta lixivia?
Abri gavetas e portas com mais pó do que uma casa abandonada num filme de terror e tentei passar por água, a princípio a água não vinha e isso deixou-me muito enervada porque tinha de ir encontrar água, mas depois, consegui. Percebi que é bem cedo e que devia ir buscar comida, mas não posso ir à loja o costume porque pertence aos meu marido e honestamente, o estomago já aperta e doi com fome. Decidi espreitar a porta da rua devagarinho e não vi ninguém, um ótimo e péssimo sinal em simultâneo, espreitei mais um pouco e vi uma senhora do outro lado da rua. Acenei-lhe, mas a senhora quando me viu, parou muito surpresa e pensei que ela me tinha reconhecido, mas começou a correr estrada abaixo muito depressa como se visse um fantasma. Que estranho....
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O Amor e a Morte, vencem o mais forte (Edição Especial)
Kinh dịSaga Detalhes de Amor-Imperfeito Júlio nunca foi um menino fácil, já gostava de maltratar os outros desde pequeno, mas sempre teve o amor da sua mãe até ao dia que desaparece. A partir daí começa a ficar mais próximo da sua tia Sara que casa com o p...