Capítulo 45: O mapa mostra a saída

0 1 9
                                    

Era a segunda vez que eu treinaria sozinho. Kasten não havia descido nenhuma vez após o ocorrido na casa. Parecia que todos estavam inertes em algum lugar, em seus cantos como se nada tivesse acontecendo. Pra variar, o mau humor que pairava era denso, ainda mais, quando resolveram colocar I.A's ainda mais insuportáveis que não paravam de falar merdas por um segundo sequer.

Abafei os meus ouvidos com o travesseiro. O colchão trazido para a biblioteca foi ótimo, porque voltar pra cima e dar de cara com os outros não estava nas opções. O dia já despontava pela telha transparente, o que me determinava levantar. Caminhei sonolento, sentindo o piso sobre os pés, a pilha de livros em um canto me trouxe a realidade da investigação rasa que eu vinha fazendo. Não tinha nada concreto, a não ser pelos rostos dos nossos antepassados.

Deixei isso de lado, voltando a caminhar e abrindo a porta. De longe eu podia visualizar o corredor, que me levaria até a cozinha. Se eu fosse rápido o suficiente, voltaria sem topar em ninguém. Puxei umas das camisetas presas em um dos abajures e a vesti. O sol poderia estar no ponto alto do dia, mas o frio ainda se sobressaia por ser cedo demais. Acabei voltando a bocejar e por um momento quase voltei para ferrar ainda mais o sono. Tirei a ideia da cabeça, dando passos decididos.

Assim como encontramos dias atrás, a casa estava silenciosa. Nem parecia que vivia seis participantes barulhentos nela. Nem mesmo Eron com a sua sombra falando suas besteiras, ou as "Kastens" decidindo com uma briga quem tomaria conta do corpo, ou até mesmo o olhar avaliador de Evangeline, entretida em suas atividades. Ninguém. Então aproveitei a estadia para fazer um lanche generoso.

Enquanto comia, a sensação de estar parado no tempo tomou conta de mim. A comida não parecia mais a mesma e a fome anterior não se fazia mais presente. Deixei a louça lavada, e fui pra academia liberar mais energia guardada. Fiz os exercícios que a Kasten sempre me passava, e depois de ficar mais algumas horas, voltei pelo mesmo caminho, passando pela cozinha e indo direto pra biblioteca.

Mas algo me deteve no meu trajeto, ou melhor, alguém! Eu não conseguia enxergar quem havia me puxado, pela luz do quartinho de vassouras estar escuro. Mas a figura que me revelou depois me fez querer ter pulado de uma ponte, ou pior, ter uma missão pra enfrentar sozinho na floresta.

- O que faz aqui?

A minha voz saiu sussurada, como se tivesse faltando espaço para as palavras passarem pela minha garganta apertada. Os seus olhos azuis estavam arregalados, expressivos. Me assustei até porque não tinha nenhum traço de maquiagem ou coisa do tipo, suas roupas não passava de uma calça jeans e regata. Aquela era somente uma versão desleixada da mulher que conheci. Suas mãos voaram em meus braços, em câmera lenta, observei seus dedos finos fincarem levemente em minha pele. Aquele toque antes, me faria suspirar, hoje, me fazia recuar.

- Preciso falar com você, só tenho umas poucas horas antes de ir.

- Tire suas mãos de mim! - Quase gritei, vendo seus olhos tristes na minha direção. - O que quer? Veio dizer que se arrepende? Que tem saudade ou coisa do tipo? Porque eu não sinto nada. Você me colocou aqui, nessa merda de programa. E agora vem me dizer o que?

Me afastei, fechando os meus olhos. Como ela pôde? Me voltei para ela, que tentava a todo custo ganhar a minha atenção.

- Você vai escutar querendo ou não. Arrisquei demais vindo até aqui, querendo ajudar. Ajudar você! Will, você precisa me escutar.

- Você consegue se ouvir? - apontei pro meu ouvido - ajudar? Como? Dessa vez trouxe alguém para acabar comigo? Com todos nós?

- Cala a boca! - o grito me trouxe ainda mais raiva, fazendo com quem eu andasse na sua direção e ficando a centímetros do seu rosto.

Watch-Pad: O Reality Show de Papel [ Will ]Onde histórias criam vida. Descubra agora