Caminhamos até a chegar à porta que dava acesso à lateral da casa, depois de sairmos do meu quarto onde eu havia mostrado o doce e a flor azul, ela amou a pequena surpresa. A música rolava solta, e ainda tive o vislumbre de ver alguém se aproximar para dentro da casa. Apressei o passo, pisando no caminho de pedras, dando acesso a uma grama verdinha. As flores coloridas adornava todo o local, deixando o caminho mais aconchegante e conseguiu até mesmo abafar o som. Havia dois bancos de madeira, e uma pequena fonte de água, talvez na forma de atrair pássaros que cantavam a cada amanhecer. Eu mostrava cada detalhe, e Akya maravilhada elogiava o local. Ainda comentei da festa, da barulheira e ela disse que era um ótimo motivo para ficar longe.
- Eu super te entendo, mas é ótimo dançar - Falei, pedindo permissão para pegar de novo em sua mão.
- Dança é bonita, mas é complicada - Ela me dar a mão, e olho por segundos a junção das duas. Sorri - Você sabe dançar?
- Sim, me acompanha? - Uma música veio em minha mente, alegre e que falava da felicidade. Eu cantava super mal, mas compensava porque eu era um bom pé de valsa, a puxei em uma distância razoável e soltei a primeira parte.
Eu a giro, acompanhando a risada dela. Ela canta junto, deixando o momento mais envolvente. A última parte estar prestes a chegar. Estávamos na nossa bolha, longe dos olhares curiosos e sendo testemunhado apenas pela natureza ao nosso redor.
Terminamos a última parte, e paramos nossos passos. Nossas mãos ainda estavam unidas, e meu olhar caiu em sua boca, foi impossível não sentir vontade de inclinar e beijá-los. Nem escutei direito o que ela falou, surpresa? Ela que tava sendo uma pra mim. Parei de sorri, encarando aqueles olhos.
- Quero beijar você Akya!
Akya fica vermelha, olha pros lados e começa a transparecer nervosismo. Era a primeira vez que não tive medo de arriscar e deixar fluir o que eu tava sentindo. A resposta demorou a vim, mas logo ela concordou com um leve aceno, e fechou os olhos. Sorri com a cena.
No primeiro momento foi só um encostar de lábios. Me afastei vendo seus olhos fechados, Akya não expressava nada além do nervoso. Mas isso não me impediu de me aproximar e assim dar mais forma ao beijo. Minhas mãos foram automaticamente até seu rosto, o movimento foi lento e tranquilo. Por mim, eu poderia me perder nela. Quando deu por fim, encostei meu rosto no seu, não sabendo decifrar o que se passava naqueles olhos, mas só de ver aquele sorrisinho bobo me deu uma resposta de que ela havia gostado. A convidei para sentar no banco de madeira, e como uma forma de alongar nossa noite, perguntei o que seria bom fazer, o que resultou em, conversas e vidas passadas! Akya falou sobre a regressão, os gêmeos e o lago ao lado da piscina, citou que nós dois havíamos morado aqui em outra vida. Eu não sabia o que dizer, e confessei estar confuso. Mas eu não eliminava o fato, de que sentir uma ligação surreal ao vê-la parada no corredor.
- Isso te incomoda?
- Não, só me deixa confuso - Falei olhando para as mãos - Não acredito em muita coisa e olhe só, tanta coisa acontecendo.
- Eu gosto do diferente, e isso me parece interessante. Nós já passamos por isso antes - Comentou empolgada - Provavelmente nesse mesmo jardim. Mas sem a música e o brigadeiro! - Sorri observando o brilho nos olhos dela, apoiei a cabeça em uma das mãos e admirei por um instante a beleza natural que aquela mulher transmitia. Não perde a chance William, dessa vez vai ser diferente. Comentei do quanto estava feliz pela noite, e ela respondeu animada que também. Sugeri voltar pro quarto, eu tinha jogo de perguntas e respostas, um dos jogos mais leves que encontrei em uma das mesas da festa.
Ao chegar, ela foi até a estante e me entregou uma foto.
- Antes de jogar, toma! É a nossa primeira foto, pode ficar - Disse, ao mesmo tempo que sentei no chão embasbacado com tamanha semelhança. Estávamos em um grupo, pessoas sorridentes e bem vestidas. Nós estávamos no fundo lado a lado!
- Incrível né?
- Demais! - Não tiro o olho da foto, esquecendo do jogo, das palavras e até Akya ali parada. Ela me trouxe a realidade, perguntando das regras. Lembrei do doce e da flor e rapidamente os peguei no meu quarto. Nos divertimos ali, sabendo mais do outro e até mesmo apresentando saudades dos nossos amigos. Uma única regra: não menti. Quando puxada a última carta, Akya leu em voz alta: Se você tivesse uma bola de cristal o que desejaria ver? Ela nem pensou na resposta, soltando que queria viver livre, sinal de que ela pensava no futuro fora da casa.
- Você não tem esperança de viver algo diferente? - Perguntei
- Não sei, acho que estou presa aqui, então fica difícil ter esperança.
- Como você ver nosso relacionamento daqui em diante? - Eu não sei como seria mas um dos meus objetivos seria o de sempre está com ela, em qualquer situação. E prometer nunca machucá-la.
- É diferente, algo novo. Não sei o que esperar, só espero que não seja passageiro.
Eu não soube o que responder, até porque eu também não sabia. Entretanto, minha vontade foi de invadir seu espaço e acabei beijando seu ombro livre. Akya sorriu, se aproximando de mim e beijando meus lábios se levantou indo até a janela. Ei volta aqui! Pensei, não escondendo minha surpresa em receber uma retribuição de carinho. De uma coisa eu sabia dela, seria um passo de cada vez.
- Pra onde você vai? - Akya observou pela janela, falando sobre se sentir presa e claustrofóbica, perguntei se ela queria que ir lá fora, ou talvez fosse a hora de deixá-la sozinha, mas ela disse que não. Acabei me estirando no chão, dizendo que poderia ficar ali. Ela riu, me atirando alguns cobertores. Eu aceitei de bom grado, fazendo minha cama no chão. Minutos depois, voltava do banheiro recém trocada, andava cautelosamente até a cama. Mais uma vez aquela sensação de familiaridade passou pela minha cabeça. Ela me desejou boa noite e assim também fiz.
Mas logo tornei a perguntar:
- Ô Akya, você sabe o significado da flor? - Ela negou, então expliquei - A escolha foi por duas razões: Primeiro é o símbolo do autista, por serem anjos azuis. E Segundo por representar algo raro, como o romance de uma autista e um neurotípico!
Akya se senta e me olha chocada.
- Você realmente não liga que eu seja Aspie né? Nós temos algo raro ... O diferente as vezes forma algo bonito. - Ela sorria, e isso me deixou feliz.
- É claro que não me importo! Eu gosto de você de verdade. - Eu via seu rosto e uma lágrima escorria solitária - E não importa mais nada, eu só quero passar cada minuto ao seu lado.
- Te amo, Will - Fiquei tão surpreso, quanto mudo. Só estiquei o braço e limpei o caminho que escorria pela sua bochecha. Nos deitamos, mas eu não conseguia dormir. Não depois de escutar da boca dela, que me amava!
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Watch-Pad: O Reality Show de Papel [ Will ]
Mistério / SuspenseWilliam de Almeida é um motoboy dedicado, e um modelo em ascensão (ou quase). Tem como família e melhor amiga a conceituada jornalista do mundo da moda Eva Mendes. Um rapaz cheios de sonhos e desejos, mas que teve sua vida destruída por uma desilus...