Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)

27 - Devaneios com vinho tinto

"Abri meu coração como jamais fiz nas comunicações anteriores, mas, diante do teu descaso, arrependo-me profundamente de tê-lo feito."

𝕁á havia se passado uma semana desde seu último encontro com Andrea. Sentada sobre o tapete da sala, enquanto bebia um merlot e separava fotografias para um novo álbum, Miranda começou a ter dúvidas.

Antes daquela sexta-feira, ela ainda esperava cegamente pela ligação de Andrea, informando que chegara bem em casa e justificando sua partida repentina.

No entanto, depois da terceira taça de vinho, ela começou a pensar que talvez estivesse na hora de desistir. Ela poderia estar, de fato, perseguindo uma jovem que não se sentia da mesma forma.

Miranda pegou uma foto de si mesma e olhou com mais atenção. Estava nua na cama, com o quadril envolto em um cobertor. Andrea havia pego ela de surpresa naquele dia.

Com um riso nasalado, ela levou a fotografia de volta ao tapete.

"Eu também gostaria de poder ficar assim para sempre." Miranda relembrou as palavras de Andrea, ditas quando elas estavam abraçadas na cama, no dia em que aquela fotografia fora tirada.

No mesmo momento, ela se levantou com um movimento súbito, foi até seu escritório e tirou de uma gaveta os papéis de carta. Sentou diante da mesa com uma postura confiante, e com sua caligrafia polida, escreveu uma carta para a jovem, onde dizia:

Andrea,

Eu poderia dizer que te amo, mas sei que maior do que as palavras que se perdem com o vento, são minhas ações que provam a intensidade do meu sentimento. E sei também que minhas atitudes não foram as melhores, embora tu tenhas garantido não ter qualquer ressentimento.

Nós não começamos da forma certa, ignoramos o fato de que eu era comprometida e tu estavas prestes a ir embora. Isso não impediu que algo intenso e inefável fosse cultivado dentro de mim ou que meu coração se partisse junto com a tua partida.

Ainda assim, tenho esperança de que possamos viver algo profundo e verdadeiro se teus sentimentos forem os mesmos que os meus. Se há algo, se existe alguma reciprocidade entre nós, não podemos ignorar, afinal, tu mesma disseste quando nos conhecemos que lutaria pelo amor.

É fato que os eventos de nosso último encontro foram conturbados, eu disse coisas que não representam o que sinto, enquanto tu tentaste me atingir com tuas ações. Mas acredito veementemente que as feridas são inerentes às relações, e que todo o tempo que passamos juntas, compartilhando nossas dores, nossas concepções, nossos corpos, momentos de carinho, alegria, respeito e prazer, não podem ser anulados por um breve momento de palavras vazias e ações impensadas.

Enfim, não quero me prolongar. Quero apenas que saibas que nosso 'prazo de validade' pode ser estendido, podemos viver mais daquilo que experimentamos por tão pouco tempo.

Se estiver disposta a isso, basta ligar para mim ou responder esta carta, dizendo que queres tentar, então pensaremos juntas uma forma de fazer dar certo.

Com amor,
Miranda.

Ela dobrou a carta cuidadosamente e pressionou contra o peito, fechando os olhos e respirando intensamente. Talvez seu aroma ficasse impregnado na folha e viajasse quatro mil milhas até a outra. Só talvez.