5 - Delírios rubros

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"Ainda assim, tenho esperança de que possamos viver algo profundo e verdadeiro, se teus sentimentos forem os mesmos que os meus."

"𝔸lô?" A voz suave e agradável atendeu.

"Salut, Dauphin." O riso do outro lado da linha a fez sorrir instantaneamente.

"Miraaaa! Pensei que nunca mais ligaria, meu bem." Todo o carinho carregando a voz de quem sentia tanta saudade. Algumas pessoas poderiam ficar anos distantes, ainda assim, quando novamente se falam, é como se nada tivesse mudado. "A quê devo a honra?"

"Só quero saber se você está bem."

"Besteira, aconteceu alguma coisa, isso sim."

"Eu só... Precisava que a minha amiga estivesse aqui." Suspirou e deixou que as costas cansadas caísse sobre o sofá. 

"O que há, Mira? Ainda é seu chefe? Ele continua te perseguindo?"

"Não, finalmente tenho uma chefe mulher, livrei-me das garras do Louis há algum tempo." A outra nada disse, então ela continuou depois de um suspiro. "Fale-me sobre Nova Iorque, preciso de uma distração. Como está sendo a vida aí?"

"Está certamente muito agitada e... Estou namorando, finalmente!" Falou de uma vez e soltou o ar. O que não passou despercebido por Miranda. Alguma coisa viria.

"Isso sim é uma novidade! Quem é o guerreiro que conseguiu escavar até seu coração?" A amiga suspirou amargamente antes de responder.

"Guerreira... Se chama Maia."

"A Deusa da primavera e do renascimento. Eu deveria ter imaginado, você nunca namorou ninguém..." Agiu com naturalidade.

"Se nem eu desconfiei" riu um pouco mais descontraída. " Eu tinha certeza que não gostava de homem, mas depois que conheci essa mulher... Não penso em outra coisa. Ela deu um brilho mais intenso aos meus dias." Miranda sorriu, mesmo a amiga não podendo ver. "Juro que nunca te olhei com outros olhos, senão os de irmã, se é o que quer saber. Mesmo quando te vi apenas de lingerie, não senti absolutamente nada, nadinha."

"Estou profundamente ofendida! Eu não sou interessante o suficiente para você?" Brincou e a amiga riu. "Isso sequer passou pela minha mente, querida. Só me importo se está feliz." Ela ouviu Dauphin fungar, como se chorasse.

"Ah, amiga, só preveni porque é a primeira coisa que as minhas ex-amigas pensaram quando contei sobre minha sexualidade. Eu perdi tanta gente, que às vezes duvido se deveria ter me assumido."

"O que a gente assume são erros, você não faz nada de errado. Se perdeu por estar amando, não é perca, é limpeza. Livrou-se do lixo que estava acumulado em sua vida. Apenas peço que se cuide, o mundo pode ser cruel com quem ama livre."

"Eu me cuido sim. E você? Como está o idiota do Jean Paul?"

"Quem?" Franziu o cenho, fingindo não saber de quem se tratava.

"Seu namorado, ora!"

"Não estou com ele faz tempo. Não terminamos muito bem, preferi esquecer que passou pela minha vida. Você sabe, excetuar o que nos faz mal."

"Sinto muito por isso. Você está com alguém agora?"

"Não sinta. Ele não valia a pena. E sim, faz três anos que estou com David."

"Três anos? Porra, Miranda! Você tem que me ligar mais, contar as novidades. Como eu não sei desse cara?" Não houve resposta, apenas um suspiro. "Ele é bom com você? Te trata bem?"

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora