22 - Lábio avermelhado

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"Tenho tanto para dizer, então peço que por favor, ligue-me, nem que seja para pôr um fim digno à nossa relação."

𝕌ma mão pressionou sua boca e Andrea abriu os olhos assustada. O quarto estava escuro, mas ela podia ver Miranda na penumbra, fazendo sinal para que ela ficasse em silêncio.

"O quê foi?" Andrea sussurrou.

"Shhh!" Miranda a puxou silenciosamente para dentro do closet e ficou olhando para a porta por alguns segundos.

"Miranda…"

"Shhh! Quieta! Ele não pode nos ouvir."

"Quem?"

"Fique aqui!" Miranda saiu a passos cuidadosos e sumiu para fora do closet.

Andrea esperou, esperou e esperou, mas nada mudou, então, atraída pela agonia e curiosidade, resolveu sair também. A luz do corredor estava fraca e piscando, ela pisou sobre algo viscoso e olhou para baixo. Um rastro vermelho seguia para a cozinha.

Na parede, uma marca de uma palma carimbada com algo parecendo sangue. O coração de Andrea disparou, ela sentiu um aperto no peito e o ar pareceu fugir de seus pulmões, sufocando em seu próprio medo.

"Miranda?"

Quanto mais se aproximava da cozinha, mais alto ouvia o som de batidas metálicas e ocas, como uma faca sobre o mármore. Ela não queria ver o que quer que fosse, não queria descobrir o que se escondia do outro lado da soleira, mas antes que a coragem lhe atingisse, ouviu passos correndo em sua direção. Virou-se rapidamente para fugir e escorregou na umidade viscosa, chocando seu ombro com força no chão.

Andrea abriu os olhos assustada, com a respiração ofegante, a testa suada, um braço dormente e o ombro dolorido. Ela imediatamente agradeceu por ter sido apenas um sonho. Saiu de cima do braço, mudando a posição desconfortável e rolou na cama, encontrando Miranda adormecida ao seu lado.

Mesmo dormindo, Miranda parecia brava. A expressão séria em seu rosto como se sempre estivesse irritada. Andrea sorriu e afastou do rosto dela os fios loiros que escapavam de seu coque bagunçado.

O relógio na mesa de cabeceira ao lado de Miranda marcava três e vinte. Ela suspirou, e ficou apenas olhando para a beleza da mulher a sua frente, tentando afastar os pensamentos pesados de seu sonho e esperando que o sono voltasse.

De repente, Miranda abriu os olhos, flagrando a jovem a lhe observar. Ela sorriu sonolenta e esfregou o rosto contra o travesseiro, aninhando-se na superfície macia e alva.

"Você sabe que isso é estranho?"

"Você nunca assistiu alguém dormir?" Andrea perguntou, tocando carinhosamente o rosto dela.

"Talvez, tem que ser alguém muito bonito." Disse Miranda, voltando a fechar os olhos.

"Mira?"

"Hum."

"Só temos mais um fim de semana."

"O quê?"

"Meu voo é na primeira quinta de fevereiro, depois do próximo fim de semana. Minha mãe faz aniversário no sábado e eu tenho que estar lá. Então… só temos mais um fim de semana."

"Por que está falando sobre isso agora?" Seus olhos se abriram e um vinco surgiu no meio de sua testa.

"Não sei… eu só estava fazendo as contas."

"Depois conversamos sobre isso." Os olhos azuis começaram a piscar lentamente. "Ainda temos tempo, eu vou resolver." Suas pálpebras tremeram antes de fechar.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora