Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)

29 - Traço rosa intenso

"Embora relutante, escrevo apenas porque sinto que tenho obrigação de dar esta notícia."

𝔼ram doze e meia da tarde, e Miranda estava sentada à mesa de Lucía analisando alguns esboços.

A sala da editora-chefe era a mais espaçosa do andar. A mobília tinha cores monocromáticas em uma variação de tonalidades cinza, uma escolha deprimente ao julgamento de Miranda. No entanto, o sol ameno que atravessava as janelas de vidro deixava o ambiente mais claro e energizado.

Miranda passou bastante tempo naquela sala nas últimas semanas, praticamente assumindo o comando da edição.

Enquanto separava os esboços em grupos sobre a mesa, ouviu passos se aproximarem da sala. Levantou os olhos somente para ver uma jovem mulher a observando sobre a soleira da porta.

"Acredito que não esperava me ver de novo, Priestly." Embora estivesse sorrindo, seu olhar parecia lançar farpas em Miranda.

"Eu devo saber quem você é?" Voltou ao que estava fazendo, não esboçando qualquer interesse na mulher.

"Sou Jacqueline, você não lembra?"

"Esse nome significa muito pouco para mim."

Jacqueline mordeu o interior da bochecha e se aproximou da mesa.

"Você impediu que eu pudesse trabalhar aqui."

"Isso restringe muito pouco, na verdade. Eu impeço contratações de pessoas inaptas quase todos os dias."

A mulher respirou fundo, enquanto Miranda continuava atenta ao seu trabalho, erguendo um esboço para visualizá-lo sob a luz da janela.

"Vejo que já conheceu minha sobrinha." Pronunciou Lucía, no instante em que entrou na sala.

"Nós já nos conhecíamos." Jacqueline disse à tia.

"Se você diz." A voz neutra de Miranda quase não pôde ser ouvida. "Alguns designs podem ser aproveitados. Estes estão interessantes, esses precisam ser modificados, e aqueles devem ir para o lixo." Ela apontou para cada grupo sobre a mesa.

"Certo, eu vou resolver isso." Voltando-se para Jacqueline, ela pediu: "Jacque, querida, por que não vai dar uma volta, divertir-se no closet, ou... qualquer coisa?"

A jovem fitou Miranda com um ar de contrariedade, mesmo que ela não estivesse vendo. Deixou-as a sós sem dizer mais nada.

"Você não se lembra mesmo ou está fazendo isso para irritá-la?" Indagou Lucía. Miranda não respondeu, apenas fitou-a séria com uma sobrancelha arqueada. "Vamos lá, Miranda, não faz tanto tempo assim. Ela estava na seleção de janeiro, aquela que você cancelou."

"Você quer dizer aquela seleção falsa que você inventou apenas para contratar sua sobrinha? Entendo. Supondo ser ela a tal sobrinha."

"Você é uma pedra no meu sapato, Miranda. Oscar está feliz por recebê-la, mal sabendo que estou enviando uma bomba para eles."

"Agradeço o elogio." Miranda levantou o olhar para ela com um sorriso cínico no rosto. "Se eu puder adivinhar, ela está aqui porque você não vê a hora de se ver livre de mim para colocá-la aqui dentro."

"É a dinastia Follet, preciso que tenha alguém para me substituir quando eu for embora."

"Oh!" Encarou-a como se ela fosse completamente louca. "É pior do que pensei. Vou lhe dar um grande conselho, Lucía, faça um favor à carreira dessa jovem, coloque-a para começar de baixo, que ela aprenda passando por todos os níveis, construindo sua carreira com o próprio esforço. Se você der a ela o privilégio do sangue, terá sorte se se tornar como você. E eu sei que você é inteligente o suficiente para não desejar isso para sua sobrinha."