Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)

42 - Pequeno anjo prateado

𝕄uita coisa aconteceu naquela semana. Elas haviam se reconciliado, viram a imagem de suas filhas pela primeira vez, reconectaram seus corpos e compartilharam seus anseios.

Mesmo estando juntas há tão pouco tempo, Miranda já havia se habituado com aquela proximidade. Ela amaldiçoou a si mesma por ser tão entregue a algo tão novo, ainda que parecesse que já fazia muito tempo.

Então foi muito difícil voltar sozinha para casa naquela quinta-feira. Andrea havia saído da Runway e ido direto para seu apartamento arrumar a bagagem e organizar sua viagem para Ohio. Isso deixou Miranda profundamente irritada. Até mesmo o tão amado silêncio de sua casa parecia incômodo agora. Era muito melhor quando Andrea tropeçava nas coisas e falava sem parar.

Ela fez o que sempre fazia quando precisava esquecer de qualquer angústia: trancou-se no escritório e afundou-se em trabalho. Não que isso tenha realmente ajudado.

Quando finalmente foi dormir, deitou-se em seu lado habitual da cama e abraçou o travesseiro que Andrea usara nos últimos dias. Seu perfume ainda estava lá, e foi a única coisa que pôde acalmá-la naquela noite.

No dia seguinte, todos na Runway perceberam que seu humor estava evidentemente atípico. Em um dia bom, as pessoas já evitavam olhar diretamente para ela. Em um dia como aquele, todos ficavam exponencialmente mais tensos e agitados. Ninguém queria desapontá-la justamente quando estava mais enervada.

Nem mesmo Andrea foi poupada. O relacionamento das duas tinha muito pouca influência na forma como Miranda a tratava profissionalmente. E a jovem tinha leves suspeitas de que toda aquela frieza e rispidez era culpa inteiramente dela.

Quando a noite estava chegando, Andrea entrou na sala de Miranda e fechou a porta. A mulher já estava de pé, pegando o casaco e a bolsa no armário. Olhou para ela com um ar de irritação e desviou o olhar.

"Você já está indo para casa?" Perguntou Andrea.

"Sim." Respondeu com sua voz monótona.

Andrea aproximou-se dela e tirou a bolsa e o casaco de suas mãos, colocando-os sobre a mesa. Segurou seu rosto carinhosamente e a fez olhar em seus olhos.

"Por que você está tão distante?"

"Problemas do trabalho."

"Mesmo? Não tem nada a ver comigo?"

Olhou para cima como se estivesse pensando. "Um pouco."

"E você vai me contar o que é?"

"Não. Você deveria saber por si mesma."

"Oh, então vou usar minhas habilidades telepáticas para tentar descobrir." Andrea riu, mas Miranda permaneceu séria.

"Não é engraçado." Disse ela antes de ter os lábios corados de Andrea queimando sua pele nas maçãs do rosto, na fronte, nos lábios... "Não podemos fazer isso aqui. Eu disse que precisamos ser discretas, lembra-se?"

"Só dessa vez." Sussurrou, e mordiscou o lábio de Miranda antes de beijá-la. "Enquanto eu estiver fora, quero me lembrar do seu beijo gostoso... do seu cheiro bom..." A mulher sorriu fracamente, começando a se entregar. Andrea continuou: "... desse sorriso incrível que tanto adoro."

De repente, os azuis dos olhos de Miranda tornaram-se escurecidos e tempestuosos. O sorriso se desfez e ela se afastou ligeiramente para dizer:

"Você não está fugindo, está?"

"Que tipo de pergunta é essa?" Andrea franziu a testa com um ar atordoado.

"Esse momento se parece muito com a última vez que você se despediu de mim. E sabemos que você desapareceu."