19 - Rastros vermelhos

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"Quando entreguei tão facilmente o meu corpo, sem perceber, entreguei também meu coração e tu fez dele prisioneiro."

ℂom a previsão de neve para os próximos dias, os moradores da pequena Vallée-du-temps aproveitavam o início de tarde para ir ao parque urbano. Uma mulher sentada em um dos bancos estava compenetrada em seu livro, crianças bem agasalhadas brincavam ruidosamente de cabra-cega e um grupo de adultos conversavam distraídos próximo a elas.

Em um banco não muito distante, Miranda estava sentada acariciando a cabeça de Andrea, brincando com as mechas de seu cabelo. Ela até mesmo tirou uma das luvas para sentir na pele a maciez das ondas sedosas.

Andrea estava deitada sobre seu colo, abraçada ao urso como uma criança e seu fiel companheiro de pelúcia. Ela já estava ficando sonolenta com a delicadeza dos dedos de Miranda, passeando pela raiz de seu cabelo. Suas pálpebras começaram a fechar por longos segundos e ela se forçou a abri-las, sorrindo ao virar de lado, enterrando o rosto no abdômen de Miranda.

"O que foi?" Miranda perguntou, a ponta de seus dedos escovando a têmpora da outra.

"Estou começando a ficar com sono."

"Então vamos para casa, lá você descansa."

"Eu ainda não quero ir embora, essa cidade é tão agradável."

"Melhor que Paris?"

"Melhor que Paris."

"Mesmo com a alta gastronomia, as pontes, a Torre Eiffel…?" Miranda quis saber e Andy levantou o olhar para ela.

"Sim, o cheiro de ar fresco é incomparável, as pessoas parecem mais calorosas, se cumprimentam na rua, as lojas parecem familiares, na verdade, lembra um pouco a minha cidade."

"Que bom que viemos então. Mas eu acho que realmente deveríamos ir, não há muito mais para fazer aqui, a menos que você tenha alguma sugestão."

"Não consigo pensar em nada, eu quero ficar, mas realmente estou com sono. Já era esperado, você me tirou da cama de madrugada."

"Eram oito horas, Andrea."

"Então, madrugada."

Com isso, Miranda revirou os olhos e negou movendo suavemente a cabeça. Ela achou que Andrea parecia uma criança lutando contra o sono, resistindo às tentativas da mãe de lhe mandar para a cama, somente para que não tivesse que parar de brincar.

Depois de um suspiro resignado, Andrea se ergueu, sentando em seguida. Ela olhou para Miranda, que tinha uma sobrancelha arqueada e um meio sorriso, e não resistiu em beijá-la. Deixou que seus lábios se unissem ligeiramente, apenas o vislumbre de um toque.

"Vamos traumatizar as crianças." Comentou Miranda com um tom jocoso e Andrea bufou voltando a beijá-la, dessa vez mais demoradamente.

"As crianças sabem que as pessoas se beijam."

"Então acho que vamos traumatizar os adultos." Apenas com um olhar, Miranda sinalizou uma direção para que Andrea olhasse. Ela entendeu imediatamente e viu ao longe um grupo de adultos observando-as e comentando entre eles.

"Se eles não beijam na boca, azar, eu tenho bem na minha frente os lábios mais lindos, mais macios, rosados e saborosos, vou aproveitar os presentes que a vida me dá."

Com isso, Andrea puxou Miranda pela nuca e pressionou seus lábios contra o dela, abrindo espaço com a língua e explorando ardentemente o interior de sua boca. Miranda sentiu as bochechas arderem, mas puxou o casaco de Andrea para tê-la ainda mais próxima.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora