Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)

38 - Bandeira branca

"Entretanto, a dificuldade dolorosa da distância não fora o principal motivo de minha decisão. A verdade vergonhosa que quero que saibas, é que fiquei assustada e não soube processar a intensidade dos teus sentimentos."

"𝔼sses desejos estão despertando memórias da minha infância que eu sequer me lembrava mais."

De dentro do armário, Andrea ouvia Miranda dizer enquanto entrava no apartamento.

"De repente, fui atingida pela lembrança de minha mãe em sua cozinha organizada e com seu avental absurdamente alvo preparando esse bolo para minhas irmãs e eu. E não consigo parar de pensar nele até comê-lo. Mas esse desejo nunca é realmente suprido porque nenhum se parece com o que ela fazia."

"Deve ser frustrante desejar tanto uma coisa e ter que se contentar com algo ínfimo. Você quer que eu leve as malas para cima?"

Andrea reconheceu a voz do Sr. Tomlinson.

"Não, não. Deixe-as aí. Você gostaria de beber alguma coisa? Eu só não tenho nada alcoólico, deixei minha coleção de vinhos na França."

"Não se incomode comigo." Houve alguns momentos de silêncio, depois Andrea ouviu. "O clima da Flórida deixou você lindamente corada."

"Eu tenho a cútis muito sensível." A voz de Miranda era macia.

"Não, não, não!" Andrea sussurrou desesperada. "Eles não podem fazer isso comigo aqui. Preciso sair agora!" Deslizou a porta do armário para o lado e saiu.

Ao ouvir o som da porta se abrindo, Miranda estremeceu e segurou firmemente o braço do Sr. Tomlinson.

"Você ouviu isso?" Perguntou ela, sentindo o coração disparar.

"O quê?"

"Tem alguém aqui." Sussurrou, dando passos para trás na direção da porta de entrada. "Tenho certeza de que não deixei as cortinas abertas."

"Olá..." Andrea surgiu de trás da escada e viu a fisionomia assustada de Miranda. "Eu só vim trazer a lavagem à seco."

Miranda deixou o ar escapar e aos poucos a cor voltava-lhe à face. O Sr. Tomlinson tocou as costas dela e fitou-a com preocupação.

"Você está bem? Está se sentindo mal?" Perguntou ele.

"Não, não... eu só me assustei."

"Desculpe, eu não queria assustá-la." Disse Andrea, recebendo um olhar fuzilante de Miranda.

"Bem, é aqui que eu me despeço. Se precisar de alguma coisa é só me ligar." Ele beijou-lhe a têmpora e olhou para Andrea. "Você também está indo? Gostaria de uma carona?"

"Não, ela não quer." Miranda respondeu prontamente.

"Tudo bem, até mais." Despediu-se por fim e deixou o apartamento.

Andrea caminhou nervosamente para a porta, recebendo o olhar desconfiado e furioso da outra mulher. Quando ela passou ao lado de Miranda, ouviu-a dizer:

"Não pense que sou boba, Andrea. O que estava fazendo na minha casa? E eu quero a verdade!"

"Eu... eu já disse. Vim trazer sua roupa."

"E aproveitou para abrir as cortinas?" O rosto dela se tornou impassível e a voz enganosamente suave. "Eu designei essa tarefa para Emily, e ela foi executada na sexta-feira, tal como eu pedi."

"Bem, Emily teve alguns contratempos e transferiu essa responsabilidade para mim."

"Que esse atrevimento não se repita." Disse secamente.