Capítulo VI

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- Oi. - Seulgi não era o tipo de pessoa que iniciava uma conversa com pessoas que ela mal conhecia, e também não saberia dizer o motivo de ter tomado aquela inciativa agora, mas lá estava a Kang, sorrindo para a garota ao lado, esperando uma resposta.

Irene sorriu antes de devolver o "oi" de Seulgi e terminar de comer, que era o que estava fazendo.

- Como foi o final de semana? - E Seulgi insistiu na conversa. Porque Seulgi insistia na conversa? Irene não parecia querer conversar.

- Foi... Como sempre. - Irene não queria mentir e dizer que foi bom.

- Isso é bom? - E lá estava mais uma pergunta do questionário da Kang.

Irene a olhou outra vez, pensativa.

- Ontem foi aniversário da minha mãe. - Respondeu sem dar mais informações.

- Ah isso é muito bom, diga a ela que eu mandei os parabéns. - Seulgi deu um sorriso largo, seguido de palminhas alegres.

Irene não pode deixar de sorrir, pelo jeitinho da outra.

- Ela morreu ano passado.

E foi aí que a expressão de Seulgi mudou completamente, o que era de se esperar, certo? Foi pega de surpresa com aquela informação.

- Nossa, Irene... Eu sinto muito. - A garota tentou ser o mais sincera possível.

- Eu sei, eu também. - A Bae voltou a olhar pra frente, terminando sua comida.

- Você quer conversar? - Seulgi sugeriu mesmo achando que sabia a resposta.

Irene poderia dizer que não, e isso era compreensível, com certeza já tinha conversado sobre aquilo com outras pessoas, pessoas que confiava mais do que Seulgi. Mas a Kang estava sendo sincera, Seulgi era sincera, e isso era uma qualidade sua. Ela realmente estava pronta para ouvir caso a garota quisesse falar sobre, e mesmo meio "lerdinha" às vezes, Kang Seulgi era muito confiável, acreditem ou não.

- Conversar sobre minha mãe? - Irene nunca tinha conversa sobre sua mãe com ninguém, na verdade nem sobre o acidente ela havia falado sobre. A única vez que falou sobre o assunto foi no dia anterior, com sua tia, no banheiro. Ela não tinha conversado sobre aquilo com ninguém ao longo daquele ano, mas sabia que precisava.

Seulgi assentiu. - Sobre sua mãe, ou sobre ela não está aqui.. Bem... Você sabe. - Seulgi tentou ser o mais gentil possível com Irene.

- Eu queria que ela estivesse aqui, mas ela não está. E eu me odeio por isso. - Irene simplesmente falou, e Seulgi não esperava aquilo, mas mesmo assim continuou ouvindo atentamente o que a garota tinha a dizer. - Perdi meus pais em um incêndio. Nossa, eu acho que nunca disse isso em voz alta. - Irene continuava e Seulgi podia ver seus olhos se encherem de lágrimas. - Perdi as duas pessoas que eu mais amava e continuo aqui, deve ser castigo, eu devo estar sendo castigada. - Deu uma risada nada feliz, um pouco sarcástica na verdade e enfim deixou uma lágrima cair. Seulgi nem pensou duas vezes antes de levar a mão ao rosto alheio e limpar aquela lágrima caída. Irene se espantou com o ato, mas não a impediu.

Se dando conta do que tinha feito, Seulgi se afastou um pouco, tinha notado também que estava perto demais. - Desculpa, continue.

- Não, não precisa se desculpar. - Irene sorriu, um sorriso diferente, ela estava ... Grata? Grata por Seulgi parecer se importar? - Eu que deveria me desculpar, você não tem nada a ver com isso,  certo?

Geralmente aquela fala saia com tom diferente, mas não daquela vez. A fala de Irene não parecia nem um pouco ignorante, Irene parecia não querer importunar Seulgi com suas lamentações.

- Hey, não diga isso. Eu perguntei certo? Então se você quiser falar sobre eu prometo ouvir.

Irene sorriu mais uma vez, mesmo que mais lágrimas descessem pelo seu rosto agora. A Bae tratou e limpar o rosto ela mesma. Dando um suspiro longo antes de voltar a falar.

- Não aqui. Ainda temos dois tempos de aula.

Elas estavam na escola, no horário de intervalo, era sempre o momento em que conversavam.

- Então a gente poderia ir tomar no café aqui perto, comer alguma coisa e conversa, ou não, como você preferir. - Seulgi sorriu meio sem graça, não queria que aquilo soasse como ela a chamando para um encontro, ou tentando se aproveitar de alguma forma.

- Eu vou cobrar isso. - Irene respondeu apontando seu dedo indicador na direção da Kang, que riu em resposta.

- Tá livre hoje?

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Passava das 19h e as duas ainda estavam naquele café. Desde que voltaram do intervalo, Seulgi e Irene trocaram mensagem e combinaram de se encontrar na frente do café que ficava na mesma rua onde a escola se localizava. Seulgi não esperava nenhuma conversa profunda, não saberia como entrar naquele assunto outra vez, mas estava disposta a conversar sobre caso Irene citasse a conversa que tiveram mas cedo, aquele era o intuito do encontro, certo? Mas não aconteceu, não voltaram a tocar no assunto, as duas falavam sobre suas próprias coisas, ou sobre Seulgi.

A garota estava muito empenhada no papel de fazer Irene rir. - É verdade, eu dei um chute nele! - Dizia sorrindo.

- Impossível! Você literalmente fechou os olhos e ESPEROU ele te bater. - Irene estava desacreditada com a história de Seulgi.

- Eu bati nele e agora tô me cagando de medo dele me bater de novo. - Confessou, arrancando uma risada da Bae

- Você não devia andar mais sozinha, Seulgi. - A garota balançava a cabeça negativamente enquanto tomava mais um gole de seu chá.

- Tá, mas eu nunca tive medo dele. Não acho que ele vai me matar como disse que vai, e também até agora ele não fez nada, talvez eu tenha conseguido o respeito dele.

Seulgi disse aquilo tão naturalmente que Irene não conseguiu segurar a bebida em sua boca, colocando tudo pra fora, ou melhor, cuspindo todo o líquido, quando deu a gargalhada que não conseguiu segurar.

Irene riu tão alto que conseguiu a atenção de todas as outras pessoas que estavam naquele café, o que deixou Seulgi com um pouco de vergonha, se encolhendo em sua cadeira.

- Ai mas também não precisa rir desse jeito, né. - Seulgi fez um biquinho que fez com que Irene parasse de gargalhar e sorrisse por outro motivo.

- Você é fofa, Seulgi. - Sim, foi um pensamento alto demais e muito bem ouvido pela garota a sua frente, que corou na hora.

Irene percebendo que sua fala havia sido alta o suficiente sorriu sem graça.

- Obrigada! - Irene tentou mudar para um assunto mais sério agora.

- Pelo que? - A mais nova voltava para uma posição mais confortável em sua cadeira, enquanto se perguntava pelo que Irene estava agradecendo.

- Eu sei que é meio que estragar o clima, mas... Por mais cedo, me ouvir falar sobre meus pais. Eu nunca conversei sobre eles com ninguém por que nunca achei que as pessoas realmente queriam saber. Às vezes eu tenho a impressão que as pessoas perguntam só por conveniência, ou educação. Mas com você foi diferente, não sei dizer.

- Eu acho que entendo o que você quer dizer, sobre as pessoas não quererem mesmo saber se você está bem quando perguntam se você está bem. Eu me sinto da mesma forma. - Seulgi sorriu antes de continuar. - Mas eu falei sério e mantenho minha palavra, não tenho a menor noção de como você está se sentindo mas, se eu puder ajudar em ouvir.

- Obrigada, eu vou me lembrar disso. - Irene sorriu antes de pegar novamente sua bebida e terminar ela.

- Você não precisa guardar tudo pra si, às vezes é bom falar com alguém.

Seulgi deu um sorriso reconfortante para a garota sentada a sua frente e com ele Irene precisou sorrir também.

I'll Protect You - SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora