꧁𝑐𝑎𝑝-004꧂

25 1 0
                                    


Eu não sabia como o cabo de madeira de minha faca de caça tinha chegado à minha mão.

Os primeiros movimentos foram um borrão dos grunhidos de uma besta gigantesca com pele dourada, os gritinhos esganiçados de minhas irmãs, o frio lancinante que inundou a sala, o rosto aterrorizado de meu pai.

Não era um martax, percebi — embora o alívio tivesse durado pouco.

A besta devia ser tão grande quanto um cavalo, e, mesmo tendo o corpo mais ou menos felino, a cabeça era distintamente lupina.

Eu não sabia o que pensar dos chifres curvados como os de um cervo que despontavam da cabeça.

Mas leão, cão ou cervo, não havia dúvida dos danos que as garras pretas semelhantes a adagas e as presas amareladas poderiam infligir.

Se eu estivesse sozinha no bosque, poderia ter me deixado consumir pelo medo, poderia cair de joelhos e implorar por uma morte limpa e rápida.

Mas não tinha tempo de sentir terror, não daria ao medo o mínimo espaço, apesar de meu coração latejar desesperadamente em meus ouvidos.

De alguma forma, acabei diante de minhas irmãs, mesmo quando a criatura se apoiou sobre as pernas traseiras e gritou com a boca cheia de presas: — ASSASSINOS!
Mas foi outra palavra que ecoou em minha mente:
Feérico.

Aquelas palavras ridículas no portal serviam tanto quanto teias de aranha contra ele.

Eu deveria ter perguntado à mercenária como ela matara aquele feérica mas o pescoço grande da besta... aquilo parecia um bom lar para minha faca.

Ousei olhar por cima do ombro.

Minhas irmãs gritavam, ajoelhadas contra a parede da lareira, e meu pai estava agachado diante delas.

Outro corpo para defender. Estupidamente, dei outro passo na direção do feérico, mantendo a mesa entre nós, lutando contra a tremedeira em minha mão.

O arco e a flecha estavam do outro lado da sala, além da besta.

Eu precisaria passar por ela para pegar a flecha de freixo — e ganhar tempo o suficiente para atirá-la.

— ASSASSINOS! — rugiu a besta de novo, os pelos eriçados.

— P-por favor — balbuciou meu pai atrás de mim, incapaz de encontrar forças para ficar ao meu lado.

— O que quer que tenhamos feito, foi sem saber, e ...
— N-n-nós não matamos ninguém — acrescentou Nestha, engasgando nos soluços, o braço erguido sobre a cabeça, como se aquele minúsculo bracelete de ferro funcionasse contra a criatura.

Peguei outra faca da mesa, o que era o melhor que poderia fazer, a não ser que encontrasse uma forma de alcançar a aljava.

Peguei outra faca da mesa, o que era o melhor que poderia fazer, a não ser que encontrasse uma forma de alcançar a aljava

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Saia — disparei para a criatura, brandindo as facas diante de mim.

Não havia nenhum ferro à vista que eu pudesse usar como arma, a não ser que atirasse os braceletes de minhas irmãs contra ele.

— Saia e não volte. — Embora as palavras fossem ríspidas, meus joelhos tremiam, e tive dificuldades em manter meu domínio das facas.

Um prego, eu pegaria uma porcaria de prego de ferro se estivesse disponível.

Abesta gritou comigo em resposta, e o chalé inteiro estremeceu, os pratos e as xícaras chacoalharam uns contra os outros.

Mas, com o grito, o animal deixou o enorme pescoço exposto.

Não era boa no arremesso, mas atirei a faca de caça mesmo assim.

Rápido — tão rápido que mal consegui ver —, a besta golpeou com a pata, lançando a faca pelos ares no momento em que disparou contra meu rosto com os dentes.

Dei um salto para trás, quase tropeçando sobre meu pai, encolhido.

O feérico poderia ter me matado; poderia, mas o ataque tinha sido um aviso.

Nestha e Elain, chorando, rezavam para quaisquer deuses havia muito esquecidos que ainda pudessem estar à espreita.

— QUEM O MATOU? — A criatura caminhou até nós.
Ele apoiou a pata na mesa, e o móvel rangeu sob seu peso.

As garras emitiam um som seco à medida que cada uma delas cravava na madeira.

Ousei dar mais um passo à frente enquanto a besta empinava seu focinho sobre a mesa para nos farejar.

Os olhos da besta eram verdes, salpicados de âmbar.

Não eram olhos de animal, não com aquele formato e cor.

Minha voz saiu surpreendentemente tranquila quando questionei:
— Matou quem?

Corce de espinhos e rosas Onde histórias criam vida. Descubra agora