꧁𝑐𝑎𝑝-001 𝑝𝑎𝑟𝑡 2꧂

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Houve um tempo em que para mim era instintivo desfrutar o contraste da grama nova contra o solo escuro e revirado, ou um broche de ametista aninhado em dobras de seda esmeralda; houve um tempo em que eu sonhava e respirava e pensava em cores e luzes e formas.

Às vezes eu até mesmo me permitia sonhar com o dia em que minhas irmãs estariam casadas e seríamos apenas papai e eu, com comida o suficiente para todos, dinheiro o bastante para comprar tinta, e tempo o bastante para colocar aquelas cores e formas em papel, ou tela, ou nas paredes do chalé.

Um sonho que provavelmente não aconteceria tão cedo - talvez nunca.

Então, me restava roubar um momento como aquele, admirar o brilho da luz pálida do inverno sobre a neve. Não conseguia me lembrar da última vez que tinha parado a fim de admirar qualquer coisa linda ou interessante.

Horas de ócio em um celeiro decrépito com Isaac Hale não contavam; aquelas horas eram vorazes e vazias, e às vezes cruéis, mas nunca lindas.

O vento uivante se transformou em um suspiro baixo. A neve passou a cair preguiçosamente, em punhados grandes e gorduchos que se acumulavam em cada fresta e protuberância das árvores.

Hipnotizante - a beleza letal e suave da neve.

Eu me encolhi diante do pensamento de precisar voltar para as estradas lamacentas e congeladas da aldeia, para o calor abafado de nosso chalé.

Arbustos farfalharam na clareira.

Sacar o arco foi uma questão de instinto.

Olhei entre os espinhos e prendi o fôlego.

A menos de trinta passos estava uma pequena corça, ainda não muito magricela devido ao inverno, mas desesperada o suficiente para arrancar a casca de uma árvore na clareira.

Uma corça como aquela poderia alimentar minha família durante uma semana ou mais.

Minha boca se encheu d'água. Silenciosa como o vento que ciciava entre as árvores mortas, mirei.

Ela estava tão distraída, tão alheia ao fato de que a própria morte esperava a metros de distância

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Ela estava tão distraída, tão alheia ao fato de que a própria morte esperava a metros de distância.

A corça continuou rasgando tiras de casca, mastigando devagar.

Eu poderia secar metade da carne, e nós poderíamos imediatamente comer o restante - ensopados, tortas... A pele poderia ser vendida, ou talvez transformada em roupa para uma de nós.

Eu precisava de botas novas, mas Elain precisava de um manto novo, e Nestha queria qualquer coisa que fosse de outra pessoa.

Meus dedos tremiam. Tanta comida - que salvação. Inspirei para me acalmar, verificando a mira mais uma vez.

Mas havia um par de olhos dourados brilhando nos arbustos adjacentes. Afloresta ficou em silêncio.

O vento morreu. Até a neve parou.

Corce de espinhos e rosas Onde histórias criam vida. Descubra agora