꧁𝑐𝑎𝑝-005꧂

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Cada passo em direção ao limite das árvores era ágil demais, me carregava rápido demais para qualquer que fosse o tormento e a infelicidade que me aguardavam.

Não ousei olhar para trás, para o chalé.

Entramos no limite da floresta.

A escuridão acenava adiante.

Mas uma égua branca aguardava pacientemente — sem arreio—ao lado de uma árvore, a pelagem como neve recém-caída ao luar.

A égua apenas abaixou a cabeça—em sinal de respeito, entre todos os sentimentos — quando a besta caminhou devagar até ela.

O feérico fez um gesto com a enorme pata para que eu montasse.

Ainda assim, a égua permaneceu calma, mesmo quando o animal passou perto o bastante para estripá-la com um movimento.

Fazia anos desde que eu montara, e só o fizera em um pônei, mas aproveitei o calor da égua contra meu corpo semicongelado quando subi na sela.

Ela começou a andar.

Sem luz para me guiar, deixei que a égua seguisse a besta.

Os dois eram quase do mesmo tamanho.

Não fiquei surpresa quando seguimos para o norte — em direção ao território dos feéricos embora meu estômago estivesse tão apertado que doía.

Viver com ele.

Eu poderia viver o resto de minha vida mortal nas terras dele.

Talvez aquilo fosse misericordioso, mas o feérico não havia especificado de que forma, exatamente, eu viveria.

O Tratado proibia feéricos de nos escravizar, mas talvez isso excluísse humanos que assassinavam feéricos.

Nós provavelmente seguiríamos para qualquer que fosse a fenda na muralha
Nós provavelmente seguiríamos para qualquer que fosse a fenda na muralha que o feérico tinha usado para chegar ali, para me roubar.

E depois que passássemos pela muralha invisível, depois que estivéssemos em Prythian, não haveria como minha família me encontrar.

Eu seria pouco mais que um cordeiro em um reino de lobos.

Lobos... lobo.

Assassinei um feérico. Era o que eu tinha feito.

Minha garganta secou.

Eu havia matado um feérico. Mas ele parecia e dava a impressão de um lobo.

Não conseguia me sentir mal por aquilo.

Não com a família que deixará para trás, certamente para morrer de fome; não quando significava menos uma criatura cruel, terrível, no mundo.

A besta tinha queimado minha flecha de freixo — então eu dependeria de sorte para conseguir sequer uma farpa da madeira de novo se algum dia tivesse a chance de matá-la. Ou detê-la.

O conhecimento dessa fraqueza, da suscetibilidade deles ao freixo, era o único motivo pelo qual tínhamos sobrevivido contra os Grão-Feéricos durante o antigo levante; um segredo traído por um dos próprios feéricos.

Meu sangue gelou ainda mais conforme, inutilmente, procurei por algum sinal do tronco estreito e da explosão de galhos que eu sabia ser a marca dos freixos.

Jamais vira a floresta tão quieta.

O que quer que estivesse lá fora deveria ser manso comparado à besta a meu lado, apesar da tranquilidade da égua perto dela.

Corce de espinhos e rosas Onde histórias criam vida. Descubra agora