O Grão-Feérico de cabelos dourados e Lucien estavam à mesa quando Alis me devolveu à sala de jantar.Eles não tinham mais pratos diante de si, mas ainda bebiam de cálices de ouro.
Ouro de verdade; não pintado ou folheado.
Pensei em nossos talheres descombinados quando parei no meio da sala.
Tanta riqueza, tanta riqueza assombrosa, quando não tínhamos nada.
Uma besta semisselvagem, era como Nestha me chamara.
Mas, em comparação com ele, em comparação com aquele lugar, em comparação com o modo elegante e tranquilo com que eles seguravam os cálices, o modo como o de cabelos dourados me chamava de humana... nós éramos as bestas semisselvagens para os Grão-Feéricos.
Mesmo que fossem eles os que vestiam peles e tinham garras.
Observei a comida ainda na mesa. Eu estava faminta — a cabeça tão zonza que achei que fosse desmaiar.
A máscara do Grão-Feérico de cabelos dourados refletiu os últimos raios do sol da tarde.
— Antes que pergunte: a comida ainda é segura para que coma.
— Ele apontou para a cadeira na outra ponta da mesa.
Nenhum sinal das garras. Quando não me movi, o feérico disse, rispidamente: — O que quer, então?
Não respondi. Comer, fugir, salvar minha família... Lucien falou do assento na extensa lateral da mesa:— Eu avisei, Tamlin. — Ele olhou para o amigo. — Suas habilidades com fêmeas definitivamente enferrujaram nas últimas décadas.
Tamlin. Ele fulminou Lucien com o olhar, movendo-se no assento. Tentei não enrijecer o corpo diante da outra informação que Lucien dera. Décadas.
Tamlin não parecia muito mais velho que eu, mas feéricos eram imortais. Ele podia ter centenas de anos... se não milhares.
Minha boca secou enquanto eu avaliava seus estranhos rostos mascarados: sobrenaturais, primitivos e imponentes.
Como deuses imóveis ou cortesãos ferais.
— Bem — disse Lucien, o olho avermelhado que lhe restava fixo em mim —, você não parece tão ruim agora. Um alívio, imagino, pois deve morar conosco. Embora a túnica não seja tão bonita quanto um vestido.
Lobos prontos para atacar — era isso que eram, exatamente como o amigo. Eu estava ciente demais de minha dicção, de cada fôlego que tomei, quando falei:
— Eu preferiria não usar aquele vestido.
— E por que não? — perguntou Lucien.
Foi Tamlin quem respondeu por mim.— Porque nos matar é mais fácil de calças.
Eu queria gritar para que eles me deixassem em paz, mas, em vez disso, falei
calma:— Agora que estou aqui, o que... o que planejam fazer comigo?
Lucien deu um riso de escárnio, mas Tamlin respondeu, com um grunhido irritado.— Apenas sente-se.
Um assento vazio tinha sido puxado à cabeceira da mesa. Tanta comida quente e fumegando, com temperos sedutores.Os criados provavelmente tinham trazido comida fresca enquanto eu me lavava. Quanto desperdício. Fechei as mãos em punhos.
— Não vamos morder. — Os dentes brancos de Lucien reluziram, o que sugeria o contrário.Evitei seu olhar, evitei aquele estranho olho de metal animado, que se fixou em mim conforme eu seguia para meu assento e me acomodava.
Tamlin ficou de pé e deu a volta na mesa, mais e mais perto, cada movimento suave e letal; um predador cujo sangue emanava poder. Foi um esforço me manter parada — principalmente quando ele pegou uma travessa, levou até mim e colocou carne e molho em meu prato.
Falei em voz baixa:
— Posso me servir sozinha. — Qualquer coisa, qualquer coisa para mantê-lo longe.
Tamlin parou tão perto que um movimento daquelas garras à espreita sob sua pele poderia rasgar minha garganta. Era por isso que o boldrié de couro não tinha armas: por que usá-las quando você mesmo é letal?
— É uma honra para um humano ser servido por um Grão-Feérico — disse ele, rispidamente.
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Corce de espinhos e rosas
Romanceconta a história de Feyre, uma humana que vive na extrema pobreza e tem que se virar sozinha para sustentar suas duas irmãs e seu pai. O mundo em que ela vive é dividido entre humanos e seres mágicos chamados feéricos, considerados assassinos cruéis...