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Os sons de uma multidão gritando reverberavam pela passagem. Minha escolta armada não se incomodou com armas empunhadas conforme me empurrava para a frente. Eu nem mesmo estava acorrentada. Alguém ou algo poderia me pegar antes que eu me movesse 10 metros, e me estripar onde eu estava.
A cacofonia de risos, gritos e urros sobrenaturais piorou quando o salão se abriu para o que só podia ser uma imensa arena. Não houve tentativas de decorar a caverna iluminada por tochas; e eu não sabia dizer se ela fora escavada na rocha ou formada naturalmente. O piso estava escorregadio e enlameado, e tive dificuldades em me manter de pé conforme caminhávamos.
Mas foi a multidão imensa e revoltada que revirou meu estômago enquanto me encarava. Eu não conseguia decifrar o que estavam gritando, mas tinha uma ideia. Os rostos cruéis e etéreos e os sorrisos largos me diziam tudo o que eu precisava saber. Não havia apenas feéricos inferiores, mas Grão-Feéricos também, e a agitação deixava seus rostos quase tão ferozes quanto os irmãos mais sobrenaturais.
Fui empurrada até uma plataforma de madeira erguida acima da multidão. No alto estavam Amarantha e Tamlin, e diante dela...
Fiz o possível para manter o queixo erguido quando vi o labirinto exposto de túneis e trincheiras que percorria o chão. A multidão, enfileirada ao longo das

margens, bloqueava minha visão do interior, quando fui atirada de joelhos diante da plataforma de Amarantha. A lama semi-congelada molhou minha calça.
Fiquei de pé sobre as pernas trêmulas. Em volta da plataforma havia um grupo de seis machos feéricos, destacados da multidão principal. Pelos rostos frios e lindos, pelo eco de poder que ainda emanava dos seis, sabia que eram os outros Grão-Senhores de Pry thian. Ignorei Rhy sand assim que reparei no sorriso felino e na auréola de escuridão à sua volta.
Amarantha só precisou erguer a mão para a multidão vociferante se calar.
O ambiente ficou tão silencioso que eu quase conseguia ouvir meu coração ba te ndo.
— Então, Feyre — disse a rainha feérica. Tentei não olhar para a mão que ela apoiava no joelho de Tamlin, aquele anel tão vulgar quanto o próprio gesto. — Sua primeira tarefa está aqui. Vejamos quão profunda é sua afeição humana.
Trinquei os dentes e quase os exibi para Amarantha. O rosto de Tamlin permaneceu inexpressivo.
— Tomei a liberdade de descobrir algumas coisas a seu respeito — cantarolou Amarantha. — É justo, você sabe.
Cada instinto, cada pedaço de mim que era intrinsecamente humano gritou para que eu corresse, mas mantive os pés plantados, travando os joelhos para evitar que cedessem.
— Acho que vai gostar desta tarefa — disse Amarantha. Ela gesticulou com a mão, e o Attor deu um passo adiante para separar a multidão, abrindo caminho até a borda de uma trincheira. — Vá em frente. Olhe.
Obedeci. As trincheiras, provavelmente com 6 metros de profundidade, estavam escorregadias com lama; na verdade, pareciam ter sido escavadas na lama. Lutei para manter o equilíbrio quando olhei mais para dentro. As trincheiras formavam um labirinto por todo o chão da câmara, e o caminho fazia pouco sentido. Estava cheio de poços e buracos, os quais sem dúvida davam para túneis subterrâneos e...
Mãos se chocaram contra minhas costas, e gritei quando tive a sensação nauseante de cair antes de ser subitamente erguida por garras duras como ossos — para cima e para cima, até o ar. Risadas ecoaram pela câmara quando pendi do aperto do Attor, a batida das asas poderosas ecoando pela arena. O Attor voou até a trincheira e me soltou de pé.
A lama afundou, e agitei os braços quando me desequilibrei e escorreguei. Ouvi mais risadas, mesmo quando permaneci de pé.
A lama tinha um cheiro terrível, mas engoli a ânsia de vômito. Virei e vi a plataforma de Amarantha agora flutuando na borda da trincheira. Ela abaixou o olhar para mim, sorrindo aquele sorriso de serpente.
— Rhysand me disse que é caçadora — disse Amarantha, e meu coração fraquejou.
Ele devia ter ouvido meus pensamentos de novo, ou... talvez tivesse

Ele devia ter ouvido meus pensamentos de novo, ou... talvez tivesse encontrado minha família e...
Amarantha estalou os dedos em minha direção.
— Cace isto.
Os feéricos comemoraram, e vi ouro refletir entre palmas de mãos magricelas e de vários tons. Apostavam em minha vida... em quanto tempo eu duraria depois que aquilo começasse.
Ergui o olhar para Tamlin. Os olhos de esmeralda congelaram, e memorizei as linhas de seu rosto, o formato da máscara de Tamlin, o tom de seu cabelo, uma última vez.
— Soltem o animal — gritou Amarantha. Tremi até a medula quando uma grade rangeu, e, então, um ruído de movimento rastejante e ágil preencheu a câmara.
Meus ombros se elevaram na direção das orelhas. A multidão foi se calando até emitir apenas um murmuro, silencioso o bastante para que eu pudesse ouvir um tipo de grunhido gutural; depois, consegui sentir as vibrações no chão conforme o que quer que fosse corria até mim.
Amarantha emitiu um estalo com a língua, e virei a cabeça para ela. As sobrancelhas de Amarantha se ergueram.
— Corra — sussurrou ela.
Então, a coisa surgiu.
Corri.
Era uma minhoca gigante, ou o que um dia poderia ter sido uma minhoca, caso a extremidade dianteira não tivesse se tomado uma boca imensa, cheia de anel após anel de dentes afiados como lâminas. O animal disparou em minha direção, o corpo marrom e rosado se impulsionando e se contorcendo com uma facilidade assustadora. Aquelas trincheiras eram seu lar.
E eu era o jantar.
Deslizando e escorregando na lama fétida, disparei pela extensão da trincheira, desejando ter memorizado mais de sua disposição nos poucos momentos que tivera, sabendo que meu caminho poderia muito bem levar a um beco sem saída, onde eu certamente...
A multidão rugiu, abafando os ruídos de sucção e ranger de dentes da minhoca, mas não ousei olhar por cima do ombro. O fedor, que se aproximava cada vez mais, me dizia o quanto ela estava perto. Não tive fôlego para um soluço de alívio quando encontrei uma bifurcação no caminho, e fiz uma curva acentuada para a esquerda.
Precisava colocar o máximo de distância possível entre nós; precisava encontrar um ponto no qual pudesse montar um plano, um lugar em que pudesse encontrar uma vantagem.
Outra bifurcação; virei para a esquerda de novo. Talvez, se tomasse tantas

Corce de espinhos e rosas Onde histórias criam vida. Descubra agora