Fingi passear pelos jardins exóticos e silenciosos enquanto marcava mentalmente os caminhos e os bons esconderijos, caso precisasse deles.Tamlin pegara minhas armas, e eu não era tão burra a ponto de torcer para encontrar ali um freixo do qual pudesse fazer uma arma.
Mas o boldrié do feérico estava carregado de facas; devia haver um arsenal em algum lugar da propriedade.
E, se não houvesse, eu encontraria outra arma, roubaria se precisasse.
Só por via das dúvidas.
Durante uma inspeção na noite anterior, descobri que minha janela não tinha tranca.Sair e descer pelas trepadeiras não seria nada difícil — eu havia subido em árvores o suficiente para não me incomodar com altura.
Não que eu planejasse escapar, mas... era bom saber, pelo menos, como poderia fazê-lo caso me sentisse desesperada o bastante para arriscar.
Eu não duvidava da afirmação de Tamlin de que o resto de Prythian era mortal para um humano; e, se havia mesmo uma praga naquelas terras... eu estava melhor ali por enquanto.
Mas não aceitaria... não podia simplesmente... aceitar que deveria ficar ali para sempre, mesmo com minha família sendo assistida. Não sem tentar encontrar alguém que pudesse levar meu caso a Tamlin.
Embora Lucien... não lhe faria mal se alguém o enfrentasse, se você tiver coragem, disse Alis para mim no dia anterior.
Roí as unhas curtas enquanto caminhava, considerando cada plano e armadilha possíveis.
Nunca fora muito boa com palavras, jamais aprendi o jogo de guerra social no qual minha mãe e minhas irmãs eram tão habilidosas, mas... eu não era tão ruim quando vendia peles no mercado da aldeia.
Então, talvez eu buscasse o emissário de Tamlin, mesmo que ele me detestasse.
Lucien obviamente tinha pouco interesse em minha estadia ali — ele sugeriu me matar.
Talvez ficasse ansioso para me enviar de volta, para persuadir Tamlin a encontrar outra forma de cumprir o Tratado, se é que havia uma.
Segui na direção de um banco em um recuo cheio de dedaleiras quando o som de passos sobre cascalho preencheu o ar.
Dois pares de pés leves e ágeis.
Estiquei o corpo, olhando pelo caminho de onde tinha vindo, mas o caminho estava vazio.
Eu me detive no limite de um campo aberto de ranúnculos murchos.
O vibrante campo verde e amarelo estava deserto.
Atrás de mim se erguia uma macieira-brava toda retorcida e gloriosamente florida, as pétalas das flores cobriam o banco sombreado no qual eu estivera prestes a me sentar.
Uma brisa fez os galhos farfalharem, uma cachoeira de pétalas brancas flutuou para baixo. Como neve.
Continuei verificando o jardim, o campo — com muita, muita atenção, observando e ouvindo em busca dos sons daqueles dois pares de pés.
Não havia nada na árvore, ou atrás dela.
Uma sensação de formigamento percorreu minha espinha.
Eu tinha passado tempo o bastante no bosque para confiar em meus instintos.
Alguém estava atrás de mim; talvez duas pessoas.
Um leve farejar e uma risada baixa soaram perto, e meu coração saltou para a garganta.
Lancei um olhar cuidadoso por cima do ombro, mas só pude ver uma luz prateada e brilhante que lampejou no canto de meu campo visual.
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Corce de espinhos e rosas
Roman d'amourconta a história de Feyre, uma humana que vive na extrema pobreza e tem que se virar sozinha para sustentar suas duas irmãs e seu pai. O mundo em que ela vive é dividido entre humanos e seres mágicos chamados feéricos, considerados assassinos cruéis...