Na manhã seguinte, minhas tintas e materiais de pintura chegaram de onde quer que Tamlin ou os criados os tivessem desenterrado, mas, antes que o Grão- Feérico me deixasse vê-los, ele me levou, através de corredores, até chegarmos a uma ala da casa na qual eu jamais estivera, mesmo na exploração noturna.
Eu sabia aonde íamos sem Tamlin precisar dizer.
Os pisos de mármore brilhavam tanto que só podiam ter sido recém-esfregados, e aquela brisa com cheiro de rosas flutuava pelas janelas abertas.
Tudo aquilo... ele fizera por mim. Como se eu me importasse com teias de aranha ou poeira.
Quando Tamlin parou diante de duas portas de madeira, seu leve sorriso foi o suficiente para que eu perguntasse:
— Por que fazer algo... algo tão gentil?
O sorriso hesitou.— Faz muito tempo desde que alguém que apreciasse essas coisas esteve aqui. Gosto de vê-las serem usadas de novo.
Principalmente quando havia tanto sangue e morte em todas as outras partes de sua vida.
Tamlin abriu as portas da galeria, e perdi o fôlego.
O piso de madeira pálida reluzia à luz clara e forte que entrava pelas janelas. A sala estava vazia, exceto por algumas poltronas e uns bancos grandes para ver a...Com uma das mãos no pescoço conforme olhava as pinturas, mal havia entrado na longa galeria.
Tantas, tão diferentes, mas organizadas para fluírem juntas sutilmente... Visões, retratos e ângulos do mundo tão diferentes. Paisagens, retratos, naturezas- mortas... cada uma, uma história e uma experiência, cada uma, uma voz gritando, sussurrando ou cantando sobre o que aquele momento, aquela sensação fora, cada uma era um grito para o vazio do tempo em que tinham estado ali, tinham existido.
Algumas foram pintadas por olhos como os meus, por artistas que viam em cores e formas que eu entendia.
Outras exibiam cores que eu não havia considerado; essas carregavam uma perspectiva do mundo que me dizia que olhos diferentes as haviam pintado.
Um portal para a mente de uma criatura tão diferente de mim, e, ainda assim... e, ainda assim, olhei para a obra e entendi e senti e me importei.
— Eu nunca soube — disse Tamlin atrás de mim — que humanos eram capazes de... — Ele se interrompeu quando me virei, a mão que eu levava ao pescoço deslizava para a altura do peito, onde meu coração rugia com um tipo de alegria e de luto ferozes, e humildade sobrepujante, humildade diante daquela arte magnífica.
Tamlin ficou parado à porta, a cabeça inclinada daquele jeito animalesco, as palavras ainda perdidas na língua.
Limpei as bochechas molhadas.— É... — Perfeito, maravilhoso, além de tudo que eu pudesse imaginar não parecia suficiente. Mantive as mãos sobre o coração. — Obrigada — falei. Foi tudo o que encontrei para dizer, para mostrar a ele o que aquelas pinturas, o que sequer entrar naquela sala significava.
— Venha quando quiser.
Sorri para ele, mal conseguindo conter a alegria no coração.O sorriso de resposta de Tamlin foi vacilante, mas radiante, e então ele me deixou para que eu admirasse a galeria como quisesse.
Fiquei ali durante horas — até ficar inebriada pela arte, até estar tonta de fome e sair perambulando em busca de comida.
Depois do almoço, Alis me mostrou um quarto vazio no primeiro andar, com uma mesa cheia de telas de vários tamanhos, pincéis cujas hastes de madeira pálida reluziam à luz perfeita e clara, e tintas — tantas, tantas tintas, além das quatro básicas que eu esperava, que perdi o fôlego de novo.
E quando Alis se foi e o quarto ficou em silêncio e à espera e era totalmente meu...
Então comecei a pintar.
*Semanas se passaram. Pintei e pintei, a maioria das coisas horrível e inútil.
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Corce de espinhos e rosas
Storie d'amoreconta a história de Feyre, uma humana que vive na extrema pobreza e tem que se virar sozinha para sustentar suas duas irmãs e seu pai. O mundo em que ela vive é dividido entre humanos e seres mágicos chamados feéricos, considerados assassinos cruéis...