Alguns meses antes do grande dia

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Alguns meses antes do grande dia...

Após um surto de raiva humana detectada em dezenas de pessoas, no que chamam de ataque histérico e deliberado de uma selvageria sem precedentes, a OMS emite um alerta, deixando todo o continente africano em quarentena.

Sem querer entrar em maiores detalhes, o governo local se recusa a comentar o caso, mas fontes independentes afirmam que não há nada equiparado para o que está acontecendo no continente. As Forças Armadas e até mesmo os guerrilheiros estão nas ruas, numa união nunca imaginada, para combater o ataque que parece irrefreável. Mas para cada um desses contaminados que tomba, dez se levantam continuamente.

O mundo está de olhos grudados nos televisores, atentos a qualquer fonte ligada à internet, em busca de maiores informações. Mas em cada noticiário, blog ou site, as informações nem sempre condizem com os fatos. Afinal, afinal, qual é a verdade? É o que todos querem saber enquanto buscam dados que possam responder questões para as quais ninguém aparentemente pode dar respostas.

Ao telefone com o filho mais velho, Patrícia traz no semblante uma expressão que não é das melhores, enquanto observa o noticiário passando na televisão da espaçosa sala. Ao desligar, o maxilar retesado denuncia seu desagrado na conversa que teve com Pedro.

— Eles não vêm novamente? — Marcos pergunta. Ele não tira os olhos da tela. Não precisa olhar a esposa para saber que está preocupada.

— Sabe como os meninos são. — Ela dá de ombros e se senta ao lado do marido. — Sempre o dever acima de qualquer coisa.

— São funcionários do país. — Marcos da pouca importância. — Sabe que não podem vir quando bem entenderem. E agora, com tudo isso que está acontecendo, precisam proteger a nação, talvez tenham que ir em auxílio à África...

— Acha mesmo? — Patrícia se sobressalta, colocando a mão no peito. — Acredita que podem mandá-los para aquele lugar, para lutar com sabe-se lá o quê?

— Mãe, eles foram treinados para isso. — Brunno, que está tentando ouvir o noticiário e ignorar a conversa, vira-se para trás e se senta no puff.

— Eu que queria estar no lugar deles. — Deitado no sofá e também participando da conversa, Nico se empolga. — Velho, muito louco sair atirando contra esses malucos raivosos.

— Esses malucos raivosos são seres humanos, Nicolas! — a mãe repreende. — Tem um vírus transmitido por algum animal, e o governo precisa resolver isso prendendo essas pessoas em alguma espécie de isolamento, até tentarem descobrir uma solução, e não saírem armados na rua, eliminando deliberadamente a todos.

— Pelo que entendi, essas pessoas estão atacando, mordendo e comendo de forma insana no meio da rua em plena luz do dia. Acho que não há muito o que ser feito pelo governo — Brunno comenta.

— Só espero que não mandem Pedro e Yago para lá — deseja Patrícia, sabendo que, desde que os filhos mais velhos ingressaram nas áreas militares, embora em segmentos diferentes, um dia eles poderiam ter confrontos perigosos, mas nenhuma mãe quer isso, além do glamour de uma condecoração para um filho vivo.

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