Capítulo 5

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Capítulo 5

Mesmo com a adrenalina correndo por todo seu sangue, Brunno não consegue deixar de pensar em Henrique e na visão dele atirando em sua própria têmpora. A lembrança lhe vem à mente feito ondas, enquanto está encostado no portão dentro da casa. Pode até mesmo ouvir o som dos bichos alimentando-se do amigo quando, instintivamente, repara num vulto vindo do lado esquerdo da casa de dois andares e levanta seu revólver. O que tinha sido uma mulher está sem um dos braços e arrasta a perna direita, que parece ter se deslocado no quadril uns noventa graus, fazendo com que seu pé, ainda calçado por uma bota marrom, vire-se para fora.

Brunno atira, acertando-a no meio da testa. O tiro sai imediatamente, alojando-se na bela coluna de dois metros atrás dela, incrivelmente ornada e de um branco já amarelado, agora pintado com as cores negras do fluido escuro que saiu junto de seu cérebro.

— Belo tiro! — Duende comenta. Muito pálido, dá a impressão de que a qualquer momento irá desabar no chão. Tenta empunhar a pistola .22, mas suas mãos tremem tanto, que seria incapaz de acertar o alvo.

— Por aqui! — Jorge grita, dirigindo-se pela lateral da casa, para um estreito e longo corredor, já quase tomado pela vegetação de roseiras, que outrora tinham sido plantadas como ornamento, e agora cresceram exageradamente. — Deve haver outra saída, esses portões não aguentarão por muito tempo.

Os bichos, alvoroçados e amontoando-se do lado de fora, batem cada vez mais forte, fazendo estremecer a estrutura de metal já muito enferrujada pela falta de manutenção, enquanto os quatro passam por entre galhos que cresceram de forma desordenada, sentindo os braços e rostos rasgando nos espinhos duros das roseiras, que se alastraram como mato silvestre devido à chuva que caiu nos últimos tempos.

Coberta por um verde musgo, a enorme piscina abriga três bichos, que boiam conforme a água viscosa os embala. As peles, cor de placenta, estão gelatinosas, e os músculos, amolecidos pelo tempo de podridão, estão soltando-se em algumas partes do crânio. Impossível precisar a idade e até mesmo o sexo deles só de olhar.

Atravessam o quintal cheio de grama muito crescida e encontram, de um lado, estirados próximos um do outro, os ossos de dois cachorros.

— Devem ter morrido de fome — Jorge informa. — Se tivessem sido devorados, os ossos não estariam alinhados nessa posição.

Correm pelo gramado crescido, procurando por saídas, quando Jorge, que está à frente do grupo, encontra uma escada jogada no jardim. Colocando a Colt na cintura, salta o muro de três metros de altura logo à frente. O único som de vida que ouvem nessa parte do quintal vem dos pássaros nas árvores, que parecem alheios ao apocalipse que estão vivendo. Bem-te-vis, pardais, sanhaços e canários alimentando-se das frutas já muito maduras das árvores. Muitos pés de pitanga oferecem um grande banquete nos casarões, atraindo uma generosa diversidade de insetos e pássaros.

Jorge não perde tempo e sobe rápido pela escada. O som do portão, que deixaram para trás, agora fica cada vez mais forte e alto. Ele balança a cabeça, desapontado, ao perceber que a rua naquele ponto está inacessível.

— O quê? Não podemos passar? — Brunno pergunta, olhando para trás a todo momento, temendo que não dê tempo de saírem dali antes que a horda derrube o portão.

— Tomadas. Todas as ruas. — Jorge desce da escada e a leva até o muro que faz divisa com outra casa. — Dezenas de bichos perambulando pelas ruas e calçadas.

— Talvez possamos ir pulando de casa em casa — Ryder sugere.

O muro que faz divisão com a próxima casa está repleto de trepadeiras despontadas, e ele coloca a escada no momento em que escutam o primeiro baque do portão. Desde que tudo aconteceu, essa é a segunda vez que Brunno se sente tão acuado e próximo de uma horda tão grande de zumbis.

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