Capítulo12
Brunno está descansando em sua cama improvisada, depois que seu ombro e a clavícula foram novamente alinhados. O procedimento foi doloroso, mas ele aguentou bem a barra, nada comparável ao que já passou desde quando tudo começou e os mortos começaram a se levantar e andar.
Muitas horas se passaram depois que ele e Sacha foram encontrados pelo irmão. A pobre garota de cabelos cor de palha permanece em estado de choque pela violência sofrida por CW, absorta dentro de si mesma, ignorando o que se passa à sua volta e apenas murmurando uma espécie de lamúria, enquanto tampa com a mão o lugar onde a orelha foi decepada.
Brunno pensa em Serena, em como ela está se saindo sob o domínio de CW e torce com todas as suas esperanças que a boxeadora durona esteja se segurando firme, que ela consiga manter a mente ligada e arrume um jeito de escapar das mãos daquele sociopata. Precisa falar com o irmão sobre isso. Eles precisam dar um jeito de resgatá-la.
Maldito CW!, pensa ao lembrar a cena, quando vê o irmão mais velho levantando do catre de forma silenciosa e sentando, colocando os pés no chão. Somente agora Brunno percebe que o irmão esteve de coturno o tempo todo, como se planejasse sair discretamente. Olhando para trás, a fim de ver se todos estão dormindo, ele pega seu rifle debaixo da cama e o revólver RP abaixo do embrulho que usa como travesseiro, abre o tambor, conferindo a munição, e então se levanta, coloca-o na cintura e sai com discrição. Brunno está observando e a escuridão camufla seu rosto, cujos olhos semicerrados constatam a atitude suspeita do outro. Onde ele está indo?, se indaga.
Brunno não hesita em se levantar e segui-lo, mantendo a mesma discrição para não acordar aos demais e não ser notado por Pedro, quando o vê seguindo pela plataforma. Os passos causam um pequeno atrito do solado no chão de placas de granitos claras, que reflete a luz trêmula das lâmpadas penduradas por fios em toda a extensão, já que parte da própria iluminação do terminal e túneis foi danificada no grande apagão dois anos atrás, mas nem todas as instalações foram afetadas, e por parte delas ainda passam quantidade suficiente de corrente elétrica.
Ele caminha margeando toda a locomotiva e continua até o fim do último vagão.
Talvez ele esteja apenas fazendo a ronda, Brunno reflete, mas nota que ele segue adiante, fazendo sinal para uma sombra que, somente agora, o jovem vê mover-se para trás, sumindo na penumbra. Brunno fica sem saber se apenas se camuflou ou se a sombra saiu de seu posto.
Ele continua seguindo Pedro, esgueirando-se pelas sombras projetadas nas paredes e cantos, enquanto marca os passos discretos e longos do irmão, até ser engolido pela escuridão total do túnel. Brunno para na entrada e fica observando, os ouvidos atentos para qualquer som que não seja o gotejar insistente em algum canto dentro daquele espaço no qual sua visão não é capaz de captar imagem alguma.
Ele olha para trás. Os ocupantes dos vagões continuam dormindo no silêncio inocente da madrugada, e ele pensa no quanto dormem tranquilos aqui em baixo, sabendo dos perigos que estão algumas dezenas de metros acima de suas cabeças. Estarão todos protegidos mesmo ou é só questão de tempo? Ele reflete sobre Ryder e seu desejo em tomar o Cetrap, ainda que a custo de vidas.
Está escuro em frente e Brunno não sabe se deve continuar. No que isso implicará se o irmão o ver seguindo-o? Tantos anos se passaram e ele sente que Pedro mudou muito, assim como seu pai e o irmão caçula. Yago teria também mudado? Quais razões fizeram o irmão decidir tomar outro caminho que não ao lado da família? E, afinal, quem não mudou nesses anos todos desde quando tudo começou?
Ele dá um passo se sente englobado pela escuridão massiva, sabendo que, a partir dali, há apenas uma estreita passarela de ferro que segue margeando e seguindo em frente. Abaixo há os trilhos e Brunno tenta calcular a altura, para o caso de escorregar e sofrer uma queda, quando, à sua frente, ele as vê de mãos dadas, segurando os mantos esvoaçantes tão negros quanto a própria escuridão que tudo encerra. Apenas seus rostos brancos como um mármore frio e suas mãos estão expostos. Brancos como a neve. Acenam para ele, chamam-no. Incentivam para que continue, para que descubra o segredo do irmão que imergiu na negridão do túnel. Ele avança em mais um passo temeroso, duvidando se é o certo a fazer, sentindo o coração pular forte no peito quando, de repente, percebe o frio metal em sua garganta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Linha Vermelha
Science FictionUma descoberta da cura do virus HIV tinha tudo para dar certo. Erradicar a AIDS e salvar milhões de vidas era tudo que a população mundial queria e necessitava, mas o quê era para ser uma descoberta incrível foi apenas o começo de um novo e mais mo...