Capítulo 9

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Capítulo9

Brunno está deitado de costas sobre o armário, que parece deslizar aos poucos pela parede. Ele sente que vai cair a qualquer momento. Passa a mão pela cintura e se dar conta de que a arma não está mais ali.

— Puta merda! — diz, constatando o grande problema que tem. O armário desliza, os bichos avançam e um está segurando bem insistente em seu pé, quase alcançando com os dentes a sola do tênis velho. — Ao menos são apenas dois. — Pensa no lado positivo. Olhando à sua volta, ele percebe o painel de ferramentas ao lado, quase ao alcance de suas mãos.

Ele só precisa se lançar dali. Claro, o salto tem que ser preciso, rápido e certeiro. Ele terá que alcançar a enorme chave de fenda de robusto cabo amarelo, que está fincada no painel, e girar o corpo para cair o menos desfavorecido possível.

— É um jogo de handebol — compara, respirando fundo, tomando impulso ao firmar a perna livre contra a parede. Abaixo, o armário cede mais um pouco. — Só um simples jogo de handebol.

Como em todo jogo, os segundos são de suma importância nas tomadas de decisões. Se você agir muito antes, as peças podem não se encaixar; se agir depois, o tempo será seu inimigo e agirá contra você. Não há escapatória e qualquer que seja a sua decisão, terá que arcar com ela depois disso. Brunno sabe das consequências se não pular agora, e quando ele toma impulso e se lança para frente, o peso do bicho segurando no outro pé é um ponto contra, mas a agilidade e esperteza em atirar os braços com força, como se estivesse lançando uma bola decisiva, faz toda a diferença. O armário tomba de uma vez. Brunno alcança a chave de fenda e joga o corpo para o lado, caindo sobre o braço direito. A clavícula estala, geme, irradia sua dor por ombros e costas, mas ele segura a ferramenta como um troféu.

— Aqui está, filho da puta! — diz, chutando a cara do bicho, que não tinha desistido de seu pé, embora o peso do armário tenha esmagado quase todo o seu corpo apodrecido ao cair sobre ele, fazendo o espesso fluido corporal se espalhar.

Ignorando a ferramenta que Brunno brande na mão, o outro morto avança, caindo sobre as pernas do garoto. O jovem sente o custo da queda cobrar sua ação ao fazê-lo sentir cada uma de suas costelas estalarem ao se levantar e enfiar a chave de fenda no meio do crânio do bicho.

— Ah, Deus! — ele geme ao se deitar. Precisa de tempo, de descanso, se recuperar, e tudo o que ele deseja é ficar ali mais alguns minutinhos, respirando, desfrutando de um pouco de sossego enquanto suas costelas voltam ao lugar, mas ouve mais sons de disparos e sua mente cobra uma atitude urgente.

Brunno se levanta, ouvindo o gemido que sai de sua própria garganta, e o que o bicho esmagado pelo armário emite. Olhando sua clavícula, constata que há uma protuberância para frente, o que sugere que ele a deslocou na junção do ombro.

— Merda! — reclama, fechando os olhos e respirando fundo. — É tudo o que preciso agora!

O comprido corredor está escuro, indicando que a noite já chegou há algum tempo. Apesar de um fraco som de arrastar de pé vir até Brunno, ele não consegue ouvir nada mais, então ele sai da sala de manutenção segurando firme, na frente ao corpo, a robusta chave de fenda, suja do fluido negro do bicho que ele acertou lá dentro.

Caminha com cautela, pisando de leve, um pé na frente do outro através das sombras que inundam o espaço estreito e comprido, atento aos sons de arrastar que se aproximam mais e mais, até que ele chega ao fim do corredor, onde um mapa do Cetrap, próximo à janela, recebe a parca claridade que a lua oferece. Atento, Brunno caminha até ele, passando o dedo pelas linhas, até se situar no espaço.

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