Capítulo 14

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Capítulo14

Serena já puxou e bateu o quanto pôde na corrente das pernas para tentar soltá-las, mas não obteve êxito, e se passaram mais de vinte e quatro horas desde que CW esteve ali. Sente sede, precisa ir ao banheiro, está com fome, necessita de um plano, porém seu orgulho sinaliza que pedir sequer um copo de água será humilhação. Entretanto, a advogada boxeadora sabe que recuar não é rebaixamento, mas instinto de sobrevivência e plano de estratégia.

"Nem morta pediria para falar com CW" é uma coisa ultrapassada nas reais circunstâncias, pois Serena quer viver, e precisa de suas energias recarregadas se quiser uma mente ativa e pensante. Entretanto, não precisa se rebaixar tanto quanto pensa, porque em instantes a porta é aberta e Rui entra, perguntando se deseja alguma coisa.

— Gostaria de ir ao banheiro, por favor. — Sua voz sai num fio de fraquejo de mocinha, mas Serena exulta, com os olhos abaixados em submissão quando o homem desengonçado caminha em sua direção com as bochechas afogueadas.

— Vou te soltar e levar ao banheiro — diz, enquanto abre os cadeados que a atam à cama, mas quando ela levanta as pernas para descer, ele as segura e a olha faminto. — Mas se tentar uma gracinha, vai se arrepender — fala, deslizando o olhar pelas coxas dela.

Serena pensa na consequência se optar por desferir um soco na cara redonda de Rui, mas o homem puxa ambas as correntes e a une nas pontas.

— Por precaução — ele avisa. Levanta o braço para Serena se apoiar nele ao descer, mas a jovem dispensa a pretensão de cortesia e desce sozinha, ouvindo o som das correntes batendo no chão branco, lembrando-a que é ainda uma prisioneira.

Serena vê as novas caras até então desconhecidas observando-a enquanto ela passa. Uma mulher sentada no chão está cercada por um grupo de crianças na mesma recepção em que ela e seus amigos se reuniram antes, e a lembrança lhe comprime o peito, mas ela levanta a cabeça e continua olhando ao redor, mesmo sentindo-se um animal exibido enquanto atravessa a grande sala e chega ao lado oposto, em frente ao corredor largo com os sanitários ao fundo.

— O quê? — ela pergunta, quando abre a porta e o homem faz menção de entrar com ela. — Acho que posso fazer isso sozinha.

— Ordens são ordens, boneca — Rui responde, passando o indicador no próprio queixo. — Não posso descuidar de você.

Serena avalia a situação e olha para dentro do banheiro. Sabe que o homem tem outras intenções e que ninguém está ali para impedir, não que isso vá fazer diferença para alguém. Mas o que ela pode fazer a respeito disso? O que foi que a vida lhe ensinou mesmo? Se não pode com ele, junte-se a ele, ou ao menos deixe que pense que você está na dele e tire proveito disso. Vire a situação a seu favor.

— Promete não olhar? — Serena baixa os grandes cílios negros e morde os lábios vermelhos. A saliva de excitação que o homem engole é perfeitamente audível e ela sorri. O que para ele parece timidez, para Serena é plena confiança.

— Só um pouquinho — Rui responde, tapando os olhos com a enorme mão, mas erguendo o indicador para que um olho fique à mostra, num sinal de brincadeira.

Serena caminha tranquila até a pia e abre a torneira, olhando provocativa para ele através do grande espelho na parede. Rui está parado na porta e estica o pescoço para fora, averiguando ambos os lados do comprido corredor, para se certificar que ninguém o observa, e então entra ávido, fechando a porta atrás de si. Chega ofegante e a abraça por trás, o desejo dele evidenciado nas costas da jovem e ela sorri firme, vendo o reflexo grandalhão do homem, a boca entreaberta, as enormes mãos puxando-a pela cintura e virando-a no mesmo instante que a coloca sobre a pia.

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