Capítulo 16

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Capítulo16

O Maverick avança pelas ruas, debaixo do aguaceiro que desaba de um céu sinistro e carrancudo, passando pelos bichos, que os seguem com o olhar enquanto os pneus cantam fino nas frenagens, deslizando e derrapando nas curvas bruscas. Serena não é somente uma ótima boxeadora, mas uma excelente motorista, e mesmo que transitar por essas ruas seja uma missão quase impossível, após o relato de Brunno sobre o plano louco de seu irmão em explodir tudo, ela corre contra o tempo, contornando a manada de zumbis.

— Já posso vê-lo — avisa quando chegam ao viaduto do chá e avista o Theatro. Na mesma alta velocidade em que se encontra, ela continua acelerando, até chegar perto o suficiente e frear de forma brusca e rente à escadaria central. — Vamos lá!

— E agora? Apertamos a campainha? — Nico pergunta, surpreso com a fachada imponente e as esculturas que os encaram de cima, mas sua resposta vem em forma de um tiro de alerta.

— Acho que não somos bem-vindos — Brunno diz, olhando para o alto, onde vê sombras nas sacadas.

— O portão. — Serena os alerta ao perceber que a entrada lateral está sendo aberta e dela sai um Yago com semblante duro e de poucos amigos, encarando-os de forma ameaçadora, até que reconhece Nico e faz um aceno de cabeça. A chuva agora cai sobre as cabeças desprotegidas, mas Yago caminha como se fosse um trator, com a mesma postura rígida de sempre.

— Nico!

— Precisamos de ajuda. — O irmão caçula está lívido debaixo de todo o aguaceiro, e as últimas emoções vividas tem deixado seus nervos tensos.

— Nosso pai, ele... — De repente Yago sente um calafrio percorrer sua espinha.

— Ele está bem, na verdade, nem sabe que estou aqui — Nico responde, sentindo-se culpado.

— Então, quem são seus amigos? — Yago questiona, olhando-os com olhar duro.

— Serena e Brunno. — Ele aponta para os dois, que permanecem calados ao seu lado, todos pensando que a conversa se daria melhor em um lugar abrigado da chuva.

Yago não reconhece o irmão de imediato. Foram anos duros que a todos transformou de alguma forma. Ele continua olhando-o questionador, como se o nome nada significasse. Tanto tempo se passou, sem que tivesse tido uma notícia. Brunno mudou significativamente.

— Brunno...

— Nosso irmão. Pedro o achou — Nico esclarece, indiferente. É como se o cansaço das últimas horas e dos últimos anos tivesse desabado sobre sua cabeça e amortecido seus sentimentos. Ou ele só quer dormir mesmo. Talvez por uma eternidade.

— Oi. — Brunno apenas acena. Agora já não sabe mais como agir com os irmãos. Depois de todo esse tempo, ninguém mais é como antes. Yago não é diferente e permanece na mesma posição rígida, as mãos atrás do corpo, segurando uma a outra, e os ombros largos e duros em posição de alerta, insensível demais para saber o que deve fazer agora.

— Viemos para conversar com você. Sobre Pedro — Nico fala.

— Vamos entrar — Yago os convida numa tentativa de gentileza, caminhando à frente e parando quando chegam ao portão. A seguir, os deixa passar e o tranca com barras de ferro.

(***)

— Isso é simplesmente maravilhoso! — Serena se extasia ao ver a enorme escadaria em mármore branco que se quebra em dois lances logo acima, dando acesso ao pavimento nobre e levando às galerias superiores. Um suntuoso tapete vermelho se inicia ao pé da escadaria, onde na base há duas esculturas de bronze representando a Dança e a Poesia e que ofuscam o homem armado ao lado dela. Assim como ele, há outros dois no pavimento superior, que olham para baixo com rifles apoiados nos ombros, encarando-os com os mesmos rostos desconfiados e pouco cordiais, e Nico compara-os a soldadinhos de chumbo.

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