Capítulo 52 - Talks

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Lauren POV

Flashback

Brincava com um cubo mágico no banco de trás do carro dos meus pais. Minha mãe se virou para me dizer que havia comprado as passagens para  Espanha, e no fim daquele ano, trocaríamos o frio e a neve de Nova York pelo calor e hospitalidade de Sevilla.

Meu pai sorria pelo retrovisor e eu só pensava que queria aprender mais espanhol para aproveitar as férias daquele ano, ao mesmo tempo em que eu consegui encaixar a última combinação daquele cubo mágico.

- Vejam! Eu consegui!!! - soltei um gritinho empolgada.

- Parabéns Lolo! Viu como você pode conseguir tudo desde que tenha foco e um objetivo? - meu pai com seu tom sereno me deu mais um sorriso - e chegamos... Hora da aula filha. Passamos para te pegar mais tarde, tudo bem?

Desafivelei o cinto e me curvei entre os dois assentos da Pajero para dar um beijo em casa um deles, ouvindo um Eu te amo em coro.

Meus pais trabalhavam há poucas quadras e sempre fazíamos o mesmo trajeto. Me deixavam na escola e iram para o World Trade Center, onde tinham um escritório de advocacia no 102 anda da torre norte.

Ao entrar na escola conversei com meus amigos, trocamos conversas bobas típicas da nossa idade e fomos até a aula. Pouco antes de entrar na sala, me lembrei do meu trabalho que precisava entregar naquele dia e dei uma escapadinha para ir até o escritório dos meus pais buscar.

Era um trajeto de pouco mais de 10 min, mas se fosse correndo, seria ainda mais rápido, ninguém nem ao menos sentiria minha falta. Durante o trajeto, era possível avistar as torres imponentes de Manhatan. Estava um dia bonito, de sol e nada parecia fora do normal.

A não ser por aquele avião, que voando baixo, cortou o céu atingindo os andares superiores da torre onde meus pais trabalhavam.

Paralisei vendo aquela cena, sem acreditar. Era exatamente nos andarem onde meus pais trabalhavam. Corri o máximo que pude, com os olhos marejados tentando chegar até lá, mas muitas pessoas já corriam em sentido contrário.

Com muita dificuldade consegui chegar até a torre e entrar, em meio ao caos, gritaria, muitas pessoas correndo, pessoas feridas por conta de destroços que já caiam no interior e eu só conseguia pensar que meus pais poderia aparecer ali a qualquer momento. 

Eles precisavam ter escapado.

O tempo passava e minha mente ficava cada vez mais sem esperanças, até que um segundo estrondo fez com que tudo ao redor tremesse. Era um segundo avião. E nesse momento, ouvia homens e mulheres gritando que aquilo só poderia ser um ataque terrorista.

Um policial me puxou pelo braço e me tirou do prédio, dizendo que eu precisava me abrigar. Lembro de dizer que meus pais estavam lá em cima e estava esperando por eles mas nada o parou até que eu estivesse fora daquele prédio.

Eu chorava copiosamente, sentido a perda eminente, sentindo a dor daquelas pessoas feridas ao meu lado, das pessoas em choque, procurando por seus entes. Uma dor me consumia como nunca. E quando pensei em driblar a segurança para me aproximar da torre novamente, senti o chão tremer e a Torre Sul começa a desabar.

Corri como nunca antes, em duas quadras, apenas senti alguém me puxar para uma das lojas, antes de ser engolida pela névoa cinza que cobriu Nova York.

E era aquela nuvem cinza que preenchia o meu peito desde então.

(...)


Classified - CAMRENOnde histórias criam vida. Descubra agora