13. gargoyle

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🥀

Ele tem cheiro de jasmim e bergamota.

É adocicado e sutil.

Há algo nisso que me faz ficar desconfortável, assim como seus olhos, que estão pequenos pontos brilhantes purpurinados, me fulminando como se meu rosto fosse um enigma que ele quer resolver.

Mas ele é o enigma aqui.

O desconhecido.

— Você tem problemas de pressão?

Sentamos no sofá, o ar que era desconfortável foi engolido por ele, que agora faz questão de imergir numa calmaria para nos associar ao acaso de estarmos apenas conversando, como dois conhecidos.

Não irei me redimir ou me culpar por ter pedido para ele ficar. Há algo de errado comigo e isso é nítido. O medo de ficar sozinho é apenas o reflexo do caos que estou tentando guardar dentro de mim: que não tenho ninguém.

Mas algo me intriga.

Jungkook é o nome.

— Você... deveria estar em algum lugar agora? — O corto, não respondendo sua pergunta. Ele tira os olhos de mim pela primeira vez, encarando a janela que ilumina a casa. Minha cabeça lateja pela febre que queima de dentro pra fora e pela fadiga do dia que mal começou.

— Não. Estou livre hoje — Ele responde dando os ombros, colocando a cabeça no estofado do sofá.

— E o que você faz da vida? — Tusso no instante que pergunto, vendo minha voz falhar. Ele se levanta depressa, buscando água para mim enquanto me curvo em agradecimento.

— Tem certeza que não precisa de um médico? Eu o acompanho até lá — ele pergunta, mas se senta confortavelmente, como se não desejasse sair. Nego com a cabeça a proposta, sabendo que não preciso de mais problemas.

— Só precisava descansar.

— Bom, então o conforto da sua casa vai te fazer bem. — Ele sorri alegre, como se fosse a cura de todos os meus problemas. Sorrio de volta pela educação e volto a beber a água, vendo, pela minha visão periférica, seus olhos acompanharem os movimentos dos meus lábios.

— Você não me respondeu...

Ele pisca, desnorteado, tentando se lembrar do que eu havia dito. Seu sorriso minucioso está sempre ali.

— Não faço nada de especial no momento. Só fotográfo, estudo e espero por algo que anseio concretizar. — Ele suspira na última parte, e eu não me permito voltar ao assunto.

— Mora sozinho? — Volto ao questionário, vendo quando ele joga o cabelo escuro para trás com as duas mãos e abre um botão de sua blusa que já está aberta demais. Seu pescoço reluz contra a claridade do sol que invade a casa. Me viro para não olhar demais, já que é estranho.

— Não. — Ele sorri ao responder, arrumando a postura para me encarar melhor.

É como se ele esperasse que eu questionasse mais e isso meio que é irritante. Não sou bom em perguntas do nível. Hoseok que era bom em desmembrar alguém até que a pessoa ficasse com raiva e falasse da vida dela toda, apenas para vê-lo se calar.

Mas eu deveria fazer isso com Jungkook, porque como citado: ele é um estranho invadindo minha vida.

— Com os seus pais? — Também encosto no sofá, olhando para o teto que só agora percebi ter um forro branco diferente do que eu lembrava quando me mudei para cá.

— Não. Meus pais estão mortos.

Estranhos mentem.

Me viro bruscamente, encarando suas feições que ainda reluzem uma cor clara que deixa seus olhos mais enegrecidos. Ou é apenas a luz natural que irrita os meus.

Paranoid | namkookOnde histórias criam vida. Descubra agora