9. the guilt

3.4K 528 1.2K
                                    

🥀

Meu andar até as escadas é pesado. Meus pés querem se firmar no chão e nunca mais se desprenderem dele. No entanto, os lamúrios vindos do andar de baixo me deixam zonzo.

Os anéis em meus dedos ameaçam deslizar por eles, por conta do suor que transborda de minhas mãos. O terno sob medida me sufoca, apertando o colarinho em volta do meu pescoço.

Mas eu sei que é apenas a culpa me estrangulando.

Dou o primeiro passo até o degrau, me segurando no corrimão enquanto a tontura toma meus sentidos.

É como se eu tivesse sido envenenado quando fui eu que envenenei.

Os barulhos ficam mais altos vindos de baixo, vozes se sobressaltando em tons agudo e grave, e a minha se perdeu em um canto da minha garganta.

Sei disso porque nesse momento há uma mulher parada em minha frente, gritando meu nome, me puxando junto com ela para o salão principal e eu não consigo protestar contra.

É a irmã de Mina, aquela que sempre me culpa com o olhar, como se soubesse o que eu faço, o que eu sou.

Seus dedos envolvem meu pulso e eu me deixo levar, pois sei que só assim serei capaz de presenciar a cena: arrastado.

E o caos em volta é digno de aplausos, vômitos e um coral de gritos incessante.

Os olhares de todos recaem sobre mim. Sou a atração principal, preso em uma jaula decorada de vergonha e culpa daquele circo de horrores.

— Meu amor! — Taehyung se solta dos braços do sogro que o aperta com fúria, correndo até mim em passos desastrados, tropeçando neles pela embriaguez.

Não me movo, mal respiro, pois não sou digno disso.

— Esse aqui... olhem para ele! — Ele grita, segurando meus ombros. O toque machuca, assim como a loucura em seus olhos. — Ele é o meu único amor! A pessoa por quem sempre fui apaixonado, a quem sempre desejei, a quem eu nunca tive nojo de tocar.

O lampejo da barbárie atinge minha pele como um tapa. O salão inteiro suprime uma careta, somos o centro do caos nocivo que sempre nos rondou.

A bomba estoura, mas ela é frisada por mentiras.

O meu corpo só é capaz de mover a cabeça para olhar para Taehyung quando o seu aperto descarrega uma pitada de ódio camuflada pela possessão. Há um distúrbio leviano queimando seus olhos e sou incapaz de aguentar encará-lo por muito tempo. O pânico em suas íris, cobertas pela densa névoa escura do veneno impetuoso, gera uma insana certeza da proximidade do fim.

É doloroso. Meu olhos de imediato lacrimejam por sua decadência e eu sinto uma náusea tão forte que me curvo para o chão, ameaçando vomitar.

— Oh meu amor... — Ele também se curva, me segurando para não cair, mas suas mãos trêmulas e frias me deixam mais nauseado. — Venha, eu te levo daqui.

— Taehyung, por favor, vamos conversar em particular um momento.

A voz fraca é mais nauseante que todo o resto e, incapaz de deter a curiosidade masoquista, eu encaro Mina que segura os ombros do pai que arde os olhos de fúria em direção a Taehyung.

Ela tem os olhos passivos, entretanto, brevemente molhados. Seus cílios tremem, mas sua postura é igualmente intimidante como só ela consegue sustentar em momentos assim.

O meu coração sangra, e eu quero me desculpar com ela, mas não posso.

— O que mais você quer conversar? Eu não acabei de dizer tudo a você? Vai implorar pela minha presença como sempre faz? Vou ter que cuspir na sua cara e dizer tudo que eu penso de você?

Paranoid | namkookOnde histórias criam vida. Descubra agora