— Então, o senhor está dizendo que alguém invadiu seu apartamento, sem sinal de arrombamento, e limpou ele inteiro? — A mulher levanta a sobrancelha para mim e eu não entendo o seu olhar zombeteiro.
— Sim? Digo, sim! Ainda me deixou um bilhete, veja. — Entrego o pequeno papel em suas mãos, vendo a oficial puxá-lo de mim.
Seu olhar passa de mim para o papel. Sua face é mais despojada possível e dá para ver claramente que isso parece uma piada para ela.
— O senhor não pode fazer uma queixa formal por isso. Não há evidências e nem mesmo um real motivo para isso. — Olho-a incrédulo. — Se não houver mais nada, estou saindo.
A minha boca se abre para refutar, porém vejo ao longe do corredor, o porteiro do prédio parado na minha porta, junto a curiosos que também rodeiam por lá.
É, parando para pensar, é patética a situação. Uma pessoa entrou no meu apartamento e o limpou, e, pelo o que parece, aparenta ser a mesma pessoa que vem me deixando comida dia após dia, a qual eu não reclamo mais. Sim, eu sei que é idiota para os de fora, porém eu me sinto tão exposto e vulnerável que não sei explicar.
A policial me olha com a sobrancelha arqueada esperando que eu fale algo a mais. Por mim, ela investigaria isso, iria atrás de cada pessoa desse prédio e perguntaria quem está fazendo isso e o porquê. Qual é a graça de me deixar apavorado? Por que estão fazendo isso? Por que logo comigo?
Passo a noite pensando nisso. Estou sentado na cama, ainda vestido e com os sapatos tocando o chão, esperando algo que nem eu mesmo sei o que é. Mas estou em alerta e não dormirei mais, pois não sei quando alguém pode entrar aqui novamente.
Pude ver o olhar julgador do síndico do prédio, do porteiro e dos meus vizinhos que zombavam do meu depoimento, como se eu fosse louco. E eu não estou, disso eu sei.
Olho para o relógio vendo marcar três horas da manhã e eu estou tão cansado que meus ombros doem e minha cabeça lateja. Meus olhos fecham sozinhos por alguns instantes, mas o barulho do cabo da vassoura — a qual eu peguei para me defender — me acorda. A sensação de que há um par de olhos me vigiando também não sai da minha nuca, os arrepios são mais intensos e, mesmo depois de quase uma hora vasculhando todo o apartamento em busca de algo (ou de alguém), eu me cansei, pois não há nada aqui. Só eu e minha casa arrumada, junto à minha paranóia e medo.
Quando encosto a lateral do meu rosto na parede, ouço o despertador tocar, me assustando e me fazendo tropeçar no pau que agora estava no chão. Minha respiração é irregular e meu coração salta da minha garganta.
— Porra, merda... — ego minhas coisas que já estão arrumadas e tento sair o mais rápido daquele apartamento, para logo me sentir menos observando. Pelo nada.
É quase assustador o olhar das pessoas da rua em mim, eu devo parecer um louco, mas se elas estivessem em meu lugar, entenderiam.
Ou não. Nem eu entendo.
Chego à cafeteria, pela primeira vez em minha vida, me sentindo grato pelo cheiro de café forte e pela invisibilidade que aquelas pessoas me dão. Vou até o meu armário e visto meu avental, tentando pentear o cabelo e coçar os olhos afastando a fadiga.
— Bom dia. — Solto um grito agudo demais que faz meu chefe também pular. Diabos, quem chega tocando assim em alguém? — Me desculpe.
Ele tenta prender a risada e eu também riria, se não fosse triste.
— Me desculpe também, bom dia... — Digo tímido, já tentando me afastar dali.
— Vou precisar de você essa semana. Faremos uma festa aqui e eu quero que você me ajude a organizar tudo. — Aceno com a cabeça, fingindo entender tudo, mas minha mente parece estar divagando para outro lugar.
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Paranoid | namkook
Fanfiction[Concluída] "Um dia, seremos só nós dois... " Simples palavras e uma inocente promessa. Namjoon se sentia observado; paranóico nas rachaduras da venda que cobriam seus olhos. Ou era mesmo verdade, que ele estava sendo perseguido? Mas por quem? Há d...