14. reflection

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🥀

Era setembro.

Nunca foi um mês especial — nenhum era. Mas naquele mês específico, vi que o nascer deveria ser comemorado como a vida exuberante que cada um possui, de forma única.

Na minha infância, nunca houve comemorações de nada.

Mal sabia quantos anos eu tinha. Só descobria na escola, ou quando minha mãe fazia as contas com a sobrancelha enrugada, tragando o cigarro corriqueiro como se fosse um de seus dedos.

Naquele setembro entretanto, algo mudou.

Eu, morto desde que nasci, soube o que era vida.

As lembranças são vagas, dignas de uma mente traumatizada e infantil.

Mas Namjoon é fresco como a brisa que bagunça meus cabelos, e punem meus olhos por serem grandes demais.

— Hyung! Quero ir no escorregador!

O segundo irmão mais velho de Namjoon não tinha responsabilidade em nada, era mais um peso que meu pobre hyung carregava.

Morávamos todos no mesmo prédio descascado, mofado e esquecido pelo resto do mundo. O único ruído de lá eram de crianças como os de seus irmãos, que não tinham noção do que era a miséria inerente que os rodeava.

Já eu, não era como eles.

Observava da janela embaçada, sentado sobre meus calcanhares, o grupo de irmãos desceram pela escada de ferro, indo em direção ao parque que era a única coisa colorida no meio do mormaço monocromático.

Brinquedos enferrujados e areia suja eram sua diversão.

Namjoon, meu hyung, sorria pelo mínimo que conseguia ter.

Eu apenas o observava, com um soldadinho pequeno que chamava de brinquedo, mesmo que já odiasse a fase de ser tratado como uma criança.

O silêncio reinava nas pequenas paredes que formavam meu lar. Uma ou outra vez, ruídos de sons vindos de minha mãe preenchiam o local, como se ela sentisse dor. Mas ela me prometeu que não era isso, então me calei.

Ele vestia uma bermuda verde e uma blusa preta muito pequena para seu corpo em desenvolvimento. Seus irmãos faziam uma parede com as mãos dadas, sem largar um ao outro. Namjoon conduzia do meio.

Quando ele se sentava, ainda com o irmão mais novo no colo, que tinha a pele pálida e cabelos escuros cobrindo a metade de seu rosto, eu sabia que era minha deixa.

Levantava rapidamente, calçando chinelos de cores diferentes e descia em direção ao hyung, escondido e de forma sorrateira.

Ele sorria bonito, mostrando as covinhas profundas de satisfação por encarar cada uma daquelas crianças querendo chamar sua atenção enquanto brincavam em brinquedos velhos.

A criança em seu colo já era calada, reservada e tinha olhos medrosos e opacos. Parecia doente ao meu ver.

Eu corria tropeçando no meio do caminho e sujando meu macacão amarelo na terra escura. Mas continuava a caminhada, sem o mínimo de expressão no rosto.

Ele abria o sorriso ao me ver, traçando a bondade nos olhos que eu nunca tinha visto um adulto e, muito menos, em uma criança.

— Campeão! Você veio!

Ele era animado, como o frívolo de alguém descendo o escorregador esperando encontrar ouro ao final dele.

Me sentava ao seu lado, antes de me curvar, como mamãe havia ensinado a fazer com aqueles que respeita.

Paranoid | namkookOnde histórias criam vida. Descubra agora