Justiça.

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Realengo — Rio de Janeiro
Maio de 2021



Maria Bella



Já fazia dias que eu tinha saído do hospital, fazia dias que eu não volto para a minha casa, faz dias que não me sinto mais a mesma. Desde quando eu sai do hospital eu não fui pra casa, estou na minha mãe todo esse tempo, pensei que talvez um colo de mãe eu conseguisse colocar a cabeça no lugar, mas quem eu quero enganar, não quero voltar para a minha casa por que me trás tantas muitas lembranças de quando eu era feliz.

Tudo naquela casa me trás lembranças de Lennon e principalmente de meu bebê, eu nunca vi o seu rostinho, mas era uma parte de mim que nunca mais irá voltar, eu sei que posso ter outros filhos, mas mesmo assim é uma buraco que se abriu em meu peito que talvez nunca irá se curar, e eu não consigo esquecer. As mães são as que mais sofrem, eu tinha o coração do meu bebê batendo dentro de mim e nunca mais iria escuta-lo de novo. E outra não quero ficar andando a cada cômodo me lamentando porque eu merecia todo esse sofrimento? Não quero ser olhada com pena como todos que me conhecem me olham, eu cansei de ser a "Bella frágil, que todos querem cuidar". Eu não quero ser frágil.

Acordei dos meus pensamentos com o som do meu celular — Alo? — levei o celular até orelha

— Bella, é doutora Fernanda — reconhecia a voz de minha advogada

— Ah sim, claro. Oi Fernanda, tudo bem?

— Tudo sim. Querida, eu vou ser breve, preciso que venha ao fórum agora, o Renato vai ter a sua audiência de condenação. O juíz determinou agora de última hora — sentei meu estômago revirar ao escutar o nome desse merda.

— Já estou indo, doutora! Pode me passa o endereço por mensagem, por gentileza? —me confirmou e desliguei, peguei as minhas coisas saindo de meu quarto.

— Filha, não vai tomar café?

— Não, preciso sair!

— Ah, onde vai?

— Renato, vai ser condenado em poucos minutos, eu não tenho tempo, não quero perder um segundo sequer — sorri sombria. Minha mãe ficou me encarando, parecia tentar me decifrar.

— Quer que a mãe vá com você? — me questionou

— Não, isso é problema meu. Irei resolver sozinha, tchau mãe!

— Filha, espe...  — a porta fechando cortou a sua fala, entrei dentro de meu novo carro.

Eu sei que fui um pouco grossa com a minha mãe e com todo mundo a minha volta, mas não estou com cabeça para conversar ou para relembrar sobre o meu bebê com ninguém, por isso me mantenho distante de todos, talvez a dor seja menos e vai embora mais rápido. Estacionei o carro e desci do mesmo, encaro a porta do fórum criando coragem para entrar, suspirei escutando meu subconsciente jogando na minha cara que precisada de alguém pra me dar forças. Você quis vir sozinha, vai aguentar sozinha, Maria Bella.

Assim que entrei avistei a minha advogada — Boa tarde, Bella — sorriu gentil

— Boa tarde, Fernanda. Podemos ir logo?

— Sim, claro. Estávamos só a sua espera — me garantiu

- Ótimo, quero acabar logo com isso! — apoio a sua mãe em meu ombro e me deu um olhar de conforto, a doutora Fernanda tem sido um anjo em minha vida, por causa dela que não saiu as notícias do sequestros e meu aborto espontâneo nas mídias, não iria suportar se vazassem.

Entramos na sala do júri e nos sentamos na primeira fileira, Fernanda conseguiu que eu poderia ver todo o julgamento. Não demorou muito e logo a audiência começou, senti meu corpo borbulhar de raiva vendo Renato sentado em minha frente, ele vestia roupas simples e as algemas faziam parte do seu visual. O juiz avisou que estaria participando do julgamento e disse que caso Renato me olhasse alguma vez se quer iria criar novas acusações só para mofar na cadeia, não sou a favor de abuso de autoridade, mas nesse caso não iria me importar nenhum pouco e minha advogada muito menos.

Realengo | L7nnon - REESCREVENDOOnde histórias criam vida. Descubra agora