Realengo | L7nnon - REESCREVENDO

A verdade.

Saquarema — Rio de Janeiro
Março de 2021

Maria Bella

Eu não tinha a menor ideia quantas horas eu estava trancada nesse quarto, mas sabia que já tinha amanhecido, pois as frestas da persiana de madeira mostrava a luz solar. Já tinha chorado tudo que tinha para chorar, meu organismo nem lágrimas devia ter mais, sentia fome e sede, frio só passava a noite, pois de dia era um calorão nesse quarto, que chegava a passar mal.

Fiquei a madrugada inteira tentando descobrir um jeito de fugir, as janelas eram trancadas por prego e madeira, estava fraca não tinha forças para quebrar as madeiras, a porta chegava a estar esmurrada de tanto murro e chutes que eu dei pra tentar arrombar, minha voz já não tinha mais de tanto gritar pedindo ajuda. Renato sumiu até agora, passei a pensar por um tempo que tinha me abandonado nesse fim de mundo, mas sabia que era vingativo demais e só me abandonar aqui seria pouco para a sua vingança.

Sozinha com os meus pensamentos só passava a minha família, será que estão bem? Será que o Renato fez alguma coisa com eles? Será que estão me procurando? Será que eu vou sair viva daqui? O que o Renato quer comigo? São tantas perguntas que eu queria a respostas a qualquer custo.

Realengo — Rio de Janeiro
Março de 2021

Lennon

Vinte quatro horas. Faz vinte e quatro horas que Maria Bella sumiu, minha cabeça está a milhão pensando onde se meteu? Se está bem? Se está sozinha? E principalmente se sumiu por conta própria ou foi sequestrada.

Com a ideia de ter sido sequestrada fui correndo na casa onde Renato está morando agora e o filho da puta bem estava quieto dentro de casa, vivendo como se nada tivesse acontecido a anos atrás, como se fosse um trabalhador de respeito. Não sabia se ficava aliviado por não ter sido sequestrada por esse marginal ou se ficava preocupado por ter sumido sozinha. Mas ainda não estava cem por cento acreditando nesse teatrinho de bom moço.

Sentado no sofá vendo o grande movimento de Polícias Civil entrando e saiu de nossa casa, tia Ana dava seu depoimento sobre o que aconteceu ontem, Matheus e Leo estavam calados que nem eu, queríamos pegar o carro e sair por aí procurando, mas o delegado mandou ninguém sair de casa até um telefone for feito para avisar sobre o seu sumido ou pedindo resgate. Eles ainda acham que foi sequestro pelos depoimentos de todos. E o pior é que eu também acho.

Saquarema — Rio de Janeiro
Março de 2021

Maria Bella

Acordei de meus pensamentos com o tranco da porta fazendo barulho, logo avistei Renato entrando no quarto com uma marmita e uma água gelada em mãos — Boa tarde, Abelinha

— Vai pro inferno!— cuspi as palavras

— Sempre bom, ser bem recebido — sorriu irônico. Seu deboche e ironismo estavam me dando nojo — Bom, eu trouxe uma comida e água para você—colocou a marmita e água numa mesinha que tinha no canto do quarto.

— Prefiro passar fome do que comer algo que venha de você — não iria comer nada, tinha medo que estivesse batizada a comida e a água, não podia arriscar a minha saúde e a de meu bebê.