Duas semanas depois e os mimos, ofertas e presentes de desculpa não pararam.
Dorian olhava o lago com o mesmo tom amargo e sombrio de sempre, quase entediado, eu, no entanto, me inclinava para olhar de perto os pequenos peixinhos coloridos flutuando naquela água calma e serena, cristal líquido iluminado pelo sol.
Minhas mãos se enterraram na grama, senti a terra entrando nas unhas e o vento de calor sacudindo as mechas soltas do meu cabelo, o cheiro era o mais maravilhoso, frutas frescas com terra e o cheiro maravilhoso e suave do lago diante de mim.
O sol me envolveu em uma cortina espessa e gostosa, como eu amava aquilo, como amava o calor em minha pele, como a sensação me levava a épocas onde a coisa mais importante na vida era receber os beijos molhados e vorazes de Nix.
Eu era patética e estúpida na época. Superei, ainda bem.
— Por que simplesmente não me pede desculpas? — indaguei, observando a expressão impassível e insatisfeita — Acho que me pedir desculpas será melhor do que ficar emburrado me levando por aí a lugares que não quer ir.
Ele inclinou a cabeça, sem mudar uma gota da expressão sofrida ao responder com outra pergunta:
— O que a faz pensar que quero me desculpar? — Mentiroso — Faço o que faço e é isso, não tenho que me desculpar.
— Foi a frase mais arrogante que já ouvi em toda minha vida — retruquei, fazendo meus dedos dançarem pelo véu cristalino que era a água do lago.
As pontas dos meus cabelos tocaram a água, o negror das mechas flutuaram em contraste com aquele tom tão límpido e claro.
— Sua língua está ficando muito afiada — resmungou.
— Por que fez aquilo? — indaguei alguns minutos depois, ele franziu a testa para mim. Mordi o lábio inferior encolhendo o corpo ao lembrar das mãos rudes arrancando minhas roupas, trinquei o maxilar ao pensar em minha calcinha sendo tirada de mim.. — naquela pequena estaladagem, no banheiro.
O observei por cima do ombro, as pontas molhadas do meu cabelo pingando ao longo do vestido.
A expressão era serena e fria.
— Eu estava bêbado e excitado — Justificativa idiota e absurda.
— Isso não é justificativa.
Seu olhar se tornou gelo, não eletricidade, mas gelo sólido.
— Nenhum homem nunca a possuiu, pelo que me parece — falou, como se isso respondesse seja lá o que estivesse em sua mente conturbada.
— Isso não importa — falei, me levantando abruptamente.
Os passos foram firmes até mim, ele me segurou por ambos os braços e sorriu, um riso malicioso. Fiquei enjoada.
O corpo dele se inclinou a favor do meu até os lábios conseguirem tocar minha orelha.
— Eu senti o cheiro de todas as vezes que ficou excitada naquela calcinha — Um arrepio violento deslizou pela minha espinha — Senti todas as vezes que deixou-a molhada — eu tremi e teria recuado da investida se lago não estivesse um passo atrás de mim — e desde que chegou aqui pude sentir todas as vezes que aliviou a sua excitação sozinha — completou.
Ele se afastou, me deixando ofegante de ódio e repulsa. O sorriso malicioso demarcado nos cantos do lábio.
— E quanto a mordida? — Ousei indagar, cruzando os braços em busca de alguma autoridade.
Dorian sorriu mais largamente com o gesto, notei que era por ressaltar meus seios já fartos, um peso indesejado e um incoveniente para os dias de caça, por eles que minha mira nunca fora tão precisa no arco e flecha.
— É minha marca, marca de que você agora me pertence — repuxei os lábios de ódio, expirando com vigor.
Não lhe fiz mais perguntas, apenas caminhei ao redor do lago, escalei uma macieira e fiquei sentada em um dos galhos comendo um dos frutos providos pela árvore.
Dorian, que nas primeiras semanas não passava a manhã até o final da tarde em sua casa, tinha saído cerca de quatro dias apenas desde que me tirou daquela cela, na maior parte do tempo ele me levava para andar pelas redondezas, apreciar a vastidão de suas terras, um local rico em vegetação, frutos e flores, diferente demais daquela floresta tão fechada e tão sombria. Eu decidi que gostava do lugar no momento em que coloquei os olhos em sua beleza mas que definitivamente o abandonaria assim que tivesse a chance.
— Posso ver? — inquiri, olhando para baixo encontrando Dorian me observando, curioso — O lobo, eu posso ver?
Mordi a maçã, esperando sua resposta.
— Não.
— Por que não? Só quero o ver...
— Eu disse não! — vociferou, se virando e batendo os pés com força enquanto retornava para o lago.
Olhei ao redor, mas suspirei resignada quando avistei um lobo de pelagem cinza e branca me rodeando.
Continuei a comer a maçã, olhando o céu muito azul com nuvens fofas e cheias espalhadas, soltei uma oração e uma súplica para a deusa além céu, não que ela costumasse ouvir ou atender meus pedidos.
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Chamas De Inverno (PAUSADO)
Lãng mạnUm momento pode mudar tudo. Liana, uma jovem caçadora solitária que vivia na floresta há muito sozinha, vê-se com o destino ligado a uma fera que se passa por homem após ser atacada por uma besta sombria. O medo passa a ser o novo aliado da jove...