Capítulo 12

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  Não haviam palavras para descreve-la, bonita, linda, maravilhosa, perfeita, nada fazia jus.
  Liana chegou ao final das escadas e parou ali, olhando-me com seus lindos olhos, olhos cor de amêndoa, espertos, com um brilho equilibrado envolto em mistério e força.
Eu jamais me esquecerei de como foi ficar cara a cara com ela, em como aquele par de olhos diligentes se ligaram aos meus, ressuscitando algo que eu imaginava já ter morrido há muito dentro de mim.
  Apanhei sua mão, ela franziu o cenho mas, sabiamente, não falou nada.
  Um conjunto de palavras confusas e alguns joguetes de expressões faciais e ali estava ela, disposta a se entregar para mim por praticamente nada. Não era assim que eu a queria, não, eu a queria ardendo de desejo, queria que sua ânsia fosse tão devastadora que seria ela a se jogar nos meus braços.
  Rumamos para fora, onde uma diligência, sútil e confortável, estava a nosso aguardo.
  As coxas grossas dela ficaram ficaram apontadas para mim, os seios sacolejando a cada lombada as quais as rodas passavam.
  Maldito vestido, onde estava com a cabeça para escolher algo assim? Provavelmente não pensei com a cabeça de cima.
  As tiras pretas mal conseguiam conter a fartura que eram aqueles peitos. As duas coisas mais gostosas em que já coloquei os olhos.
  — Meus rosto está um pouco mais para cima — falou, olhando séria para mim.
  Abri um sorriso preguiçoso.
  Os lábios dela estavam colados, sempre foram naturalmente cheios e vividos e na noite anterior pintados de roxo, ah, era uma fruta suculenta pronta para ser saboreada.
  — Onde estamos indo? — inquiriu, não conseguindo suprir a surpresa em sua face.
  — Você vai ver.
  Observa-la havia, de algum modo que não sei explicar, se tornado o ponto alto do meu dia, os sentimentos pulsando de seu corpo como um segundo batimento cardíaco, eu conseguia sentir todos eles, sentir os cheiros. Sentia a apreensão deixando sua pele marrom macia, o medo que sentia na maior parte do tempo. A excitação da noite anterior, aquele cheiro havia se tornado meu vício, meu ópio, minha ruína.
  Os olhos estavam voltados para a janela, os longos cílios escuros e esparsos se moviam delicadamente a cada piscar, os lábios entreabertos.
  Doce Liana, minha Liana.
  Paramos.
  Ela se retirou antes de mim, observando o pequeno pavilhão, devidamente floridos e incrustado com luzinhas amarelas leitosas. A mesa encíclica estava devidamente posta para dois, lírios brancos em um vaso no centro e as tampas acrílicas cobrindo o alimento.
  A observei andando até lá, seu maravilhoso cheiro de flores provenientes de frutos cítricos do jardim do paraíso se mesclou a surpresa.
  Uma pontada de satisfação atingiu meu peito.
  — Achei que queria trepar comigo — boquinha suja, pelos deuses como era gostoso ouvir ela dizer palavras sujas.
  Dei de ombros.
  Ela caminhou em seu ritmo firme e gracioso, tocando o parapeito envolto em gavinhas floridas, então observando as luzinhas.
  Um sorriso brincou em seus lábios. Não consegui parar de olha-la, o quanto vorazmente os olhos se acendiam, e aquela promessa de um sorriso, algo que eu ansiava tão perdidamente para que ela fizesse, para que sorrisse nem que só um pouco, mas ela não o fez.
  O ar era quente e confortável, não que temperaturas me afetassem,  o céu um conjunto cintilante de estrelas com um luar vigoroso, ela deveria gostar da noite já que sua magia era proveniente do caos, uma habilidade sombria.
  — Por quê?
  — Achei que gostaria — respondi, dando de ombro.
  Liana se acomodou na mesa, o corpo ereto, os seios firmes como armas apontadas em minha direção prontos para disparar.
  A confusão foi soprada de seu rosto por um vento fugaz, compreensão tomou seus olhos e ela me lançou um olhar furioso, tão furioso que um pouco daquele outro cheiro, o cheiro de sua magia dormente, tocou minhas narinas.
  — Me enganou — disse. Ela não era burra, só nessa frase consegui sentir seu conhecimento a respeito de minha manobra.
  — Eu nunca falei nada sobre sexo — disse, destampando a comida, indicando com a cabeça para que ela fizesse o mesmo.
  Liana franziu a testa, olhou ao redor por alguns momentos e começou a comer, daquele modo hesitante e calmo, a mesma forma que o fazia logo que a trouxe para mim.
  — Por que me trazer aqui? Pra que esse teatro todo?
  — Teatro? — repeti, entre os dentes — estou fazendo algo legal pra você Liana, o mínimo que deveria fazer era ser mais agradável.
  Ela revirou os olhos de ira. Aquele gesto provocou em mim um tremor de ódio, minha pele espereou e calor foi liberado pelos poros.
  A noite se desenrolava de modo um pouco fora do meu controle, Liana caiu em um silêncio profundo, perdida em pensamentos que fizeram meu nariz arder com o seu medo e raiva.
  Quando finalizamos a refeição, a primeira que como em meses na forma humana, ela me olhou.
  — Resolveu comer? — indagou, o tom ácido de sempre, esticando a mão para alcançar a taça de champanhe.
  — Não costumo comer nessa forma — vi as mãos dela tremerem levemente conforme despejava a bebida em uma taça.
  — O que come, cervos? Cavalos? — o pescoço dela se moveu, ela parecia hesitante mas completou — Humanos?
  Dei uma risada sugestiva para Liana, os olhos dela arregalaram-se ligeiramente, mas ela mascarou a preocupação finalizando o conteúdo da taça em alguns goles rápidos.
  — Não acho que deveria abusar tanto da bebida — a caótica me lançou um olhar de censura.
  — Foi só uma taça — resmungou. Mas apanhou a garrafa novamente voltando a abastecer a taça.
  Ela terminou a segunda taça tão velozmente quanto fez na primeira, quando ia apanhar a garrafa de novo eu a peguei antes dela e a joguei para trás de mim, no gramado.
  Liana respirou fundo e fechou os olhos, como se para conter o ódio dentro dela.
  — Chega — falei, cruzando os braços.
  A linda mulher se levantou em um ritmo brusco, e se debruçou no parapeito de costas para mim, uma das mãos apoiando o rosto e o cotovelo contra a viga de madeira.
  As formas dela eram curvilíneas e exuberante, as nádegas empinadas, redondas e cheias, as coxas grossas com músculos, talvez dos anos caçando em um lugar tão inóspito, os braços com alguns músculos quase imperceptíveis, mas aquele corpo era forte, e Liana era prudente demais para confirmar as minhas suspeitas de que ela sabia usar muito bem aquele corpo em um imbate.
  O vento fazia os cachos negros dançarem serenamente em suas costas nuas.
  Me levantei para ficar mais perto dela, sentir melhor o cheiro de flores cítricas que o vento carregava em outra direção.
Ela empertigou a postura se virando em minha direção.
  — Posso perguntar por que dessa roupa promíscua? — Indagou ela apontando para o próprio corpo.
  — Você tem um corpo espetacular demais para ficar escondido —  dei de ombros. Ela suspirou com mais vigor fazendo os seios avantajados se moverem de uma maneira desconcertante — Seus seios são lindos aliás — Liana me olhou afiado, com uma intensidade de cortar. Sua indignação visível no nariz bonito dela levemente enrugado.
  — Uau, você sabe mesmo como elogiar uma mulher — ironizou.
  — Algum outro homem já os viu? O seu precioso caçador talvez? — só de pensar em algum outro par de olhos percorrendo seu corpo nu, desejando-a ardentemente como eu o estou.. eu mataria o maldito filho da puta, como estava agora mesmo cogitando fazer uma surpresa para Sevan, em como aquele desgraçado a olhou...
Liana me olhava com horror e apavoro. Os lábios entreabertos sem qualquer possibilidade de fala.
  Enfim ela pareceu sair do estado de choque, lambeu os lábios, acompanhei sua língua no trajeto e reprimi um sorriso.
  — Não — falou, seca e firmemente. Mas senti o cheiro de sua mentira, ouvi o coração mudar levemente o compasso dentro dela.
  — Ousa mentir, Liana? — a mulher se escorou no parapeito, as mãos tremendo quando afastou os cachos do rosto.
  — Ficaria insatisfeito com a resposta — disse, audaciosa — sim, sim ele os viu.
  Não consegui conter o rosnado. A jovem mulher não perdeu o som, inclinou a cabeça e pude sentir em mim o fogo aumentando e aumentando.
  Eu iria estraçalhar seja lá quem fosse o homem, arrancaria seus olhos, suas mãos e sua cabeça...
  — Dorian — meu nome em sua voz aveludada me fazia queimar por dentro, na realidade foi o que fez com que eu parasse de queimar. Dei um passo para trás. Liana comprimiu os lábios lentamente inclinando a cabeça para me olhar em outro ângulo.
  — Quer dançar? — ela franziu o rosto e sacudiu a cabeça em confusão.
  — Como assim?
  — Você me disse ontem que queria dançar, lembra? — ela suspirou, encolhendo os ombros.
  Estendi a mão. Os lindos olhos de amêndoa desceram para minha palma aberta, abriu e fechou a mão ao lado da coxa exposta, um duelo interno percorrendo seu corpo.
  Ela aceitou.
  — Sem música? — questionou.
  — Sabe cantar? — ela soltou uma risada irônica.
  Toquei sua cintura, o braço dela deslizou para meu ombro e a cabeça encostou no meu peito.
  — Não sei dançar — murmurou.
  Comecei a me mover, ela seguiu o ritmo da melhor forma que podia, devagar demais e receosa, no entanto havia graça em seus movimentos.
  Era estranho, eu me sentia quente e frio, sentia como se meu peito fosse estourar e subir para o céu. Meu coração estava acelerado, mas Liana não se alterou ou pareceu querer mencionar.
  Ela apertava meu braço, um aperto forte, e sua pele sob meus dedo era veludo, tão macia, os cheiros de seus cabelos perfumados acariciando minhas narinas, o calor do corpo dela, aquela energia magnética. Eu estava me perdendo, caindo.
  Paramos de repente quando a carruagem retornou.
  Liana deu um passo para trás. Senhores do fogo não podem sentir esse tipo de coisa, porém um calafrio percorreu minha espinha e o frio me abraçou quando ela se afastou de mim.
  Os olhos dela refletiam as luzinhas, deixando-os vividos, paralisados em uma expressão de interesse, como se me visse pela primeira vez.
  Ela aceitou minha mão deixando-me conduzi-la.
  Dentro do compartimento Liana continuou com aquele expressão no rosto, inclinando a cabeça vez ou outra para mim, as palavras rondando os olhos.
  O trajeto se passou lento, eu mesmo me certifiquei de que o seria, mas por fim estávamos diante da minha casa, nossa casa.
  Um sorriso permeou os lábios dela quando observou o céu estrelado.
   Pelos deuses, essa mulher tinha que ser minha, eu colocaria esse mundo em chamas se não o fosse.
  Ela me olhou por sobre o ombro, um convite velado para me aproximar, eu fiz, me coloquei a seu lado andando.
  — A noite foi agradável — disse, olhando fixamente para frente.
Terminamos na porta de seu quarto em poucos minutos, ela observou-me, esperando eu entrar e a jogar na cama, esperando eu a tomar para mim.
  Eu queria ter Liana, pelos céus, queria a possuir mais do que já quis qualquer coisa, a sensação me corroía, me congelava para depois me queimar sem piedade.
  Escutei o vento quente sacolejando as árvores, os silvos de pássaros noturnos, o bater das cortinas nos vidros da janela e escutei o coração dela batendo selvagemente.
  Avancei um passo, dois, no terceiro estava diante de seu corpo pequeno.
  Fitei a expressão decidida dela.
  Me reclinei e em um movimento ela estava em meus braços, as pernas agarradas em meu quadril, entramos.
  Fechei a porta atrás de mim, sem desviar por um segundo daquele par de iris amendoados.
  Era o meu coração agora a ser o selvagem, retumbando com força suficiente para partir meus ossos, rasgar minha pele e pousar em suas mãos para então se derreter.
  Eu estava sendo um tolo, um tolo fraco e mole, deixando-me vencer por um sentimento desconhecido, por uma garota que parecia jamais querer me ter.
  Se meu pai me visse agora...
  Coloquei seu corpo na cama, deslizei a mãos por seu tornozelo macio e tirei um sapato, depois o outro, ela gemeu baixinho.
  A observei, o rosto sedutor e ousado, o seios quase escapando das tiras do vestido, os braços ao lado do corpo agarrando os lençóis com força e as coxas... céus, as coxas abertas, convidativas.
  Aquela postura ardente e sedutora poderia me enganar, mas o cheiro dela não, eu podia sentir o medo, o receio, toda a aversão e a repulsa.
  Deslizei uma das mãos pela parte interna de sua coxa, ela abriu os lábios carnudos e tencionou o corpo.
  Me aproximei dela, nossos quadris alinhados, meu pau pulsando, machucando no tecido da calça pronto para deslizar por sua bocetinha molhada.
  — Eu devia tê-la matado Liana, quando fui busca-la não era para fazer de você minha hóspede, eu devia ter pego uma adaga e ter perfurado seu coração — as palavras saíram, o corpo da mulher ficou rígido, a respiração pesada, aproximei mais o rosto da pele macia e cheirosa entre seu pescoço e ombro — Somos inimigos naturais Liana.
  Subitamente as mãos dela tocaram meus ombros e me empurram.
  — O quê?
  Me afastei o suficiente para observa-la. A boca escancarada e um semblante pensativo invadindo suas feições há pouco sensual.
  — Então, por que não o fez? Por que não me matou simplesmente?
  Exalei, apertei os lençóis ao lado do corpo dela.
  — Não consegui.

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