Capítulo 21

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  — Não deveria atacar suas visitas senhor do fogo — disse Gar... não, não era a voz do elétrico, era diferente, mais suave e melancólica.
  Minhas mãos alcançaram o primeiro objeto perigoso próximo a mim, um candelabros elegante, me preparei para ser atacada.
  Sinceramente, com a revolta em meu peito, com os agitos bruscos do meu coração, o medo enrijecendo minhas juntas e o tremor de minhas mãos eu não tinha exatamente certeza se conseguiria reagir mais do que aquilo.
  O homem misterioso deu dois passos a meu favor, pude ver melhor seu rosto, parecido com o de Gar, mas sem a cicatriz e o olho branco cego, o nariz era diferente e o cabelo mais curto, esse também era muito mais alto e tinha alguns músculos. Presupus que fosse o irmão de meu algoz morto. Era tão parecido.
  Dorian imediatamente se colocou entre mim e o irmão de Gar, mais novo pelo que me parecia. Vi o misterioso homem embainhar novamente sua espada curta.
  — Tanto poder em você garota e escolhe tentar a sorte com isso? — ele inquiriu, apontando para o objeto em minhas mãos, então voltejou o olhar para Dorian e sorriu com ironia — não vou machucar sua querida eternal.
  Dorian empertigou a postura. Mesmo usando somente calças, mesmo estando com os cabelos completamente bagunçados ele ainda parecia um lindo príncipe.
  — Saia.
  — Cadê ele, cadê meu irmão? — abri minha boca, minha garganta secou e por alguns segundos uma dor perfurou meu coração.
  — Mandei sair.
  O irmão de Gar ignorou Dorian e me olhou, súplica iluminava suas iris um tanto mais escuras que as do irmão.
  — Eu o matei.
  Ele bufou de modo pesaroso, um sorriso triste tomou-lhe os lábios. O irmão de Gar era bonito, mais bonito do que o próprio jamais sonhou em ser.
  — Eu sei, quero o corpo, quero o corpo do maldito Gar — minhas tripas reviraram.
  Dorian me olhou por cima do ombro, a pergunta em seus olhos queria dizer algo como "devo mata-lo agora?". Faço que não com a cabeça.
  Mesmo que cada músculo em mim relutasse, me aproximei do indivíduo, suspirei com vigor e o fitei nos olhos.
   — Não sobrou nada — falei, curvando os ombros — ele virou nada.
  Percebi o lampejo de dor que manchou seus olhos, então ele sorriu e falou cabisbaixa:
  — Deveria ter imaginado.
  Embora Dorian permanecesse em posição de alerta, e quando digo alerta quero dizer pronto para cortar cabeças, o visitante inesperado anuviou a postura.
  — É verdade? O que ele fez?
  Esse questionamento deixou um gosto amargo em minha boca, Dorian passou para meu lado e tocou meu braço.
  Baixei o rosto e sacudi a cabeça me negando a responder. Havia dor demais em seu semblante para eu adicionar mais peso aquele fardo, não era algo que eu faria apesar de ser uma merda de ser. Seria muito mais vantajoso para ele acreditar que Gar era um bom homem, que fazia caridade, distribuía sorrisos e que me tratou com decência apesar de tudo.
  — Eu quero saber, você deveria entender o que é sentir isso por um irmão senhorita caótica — ele falou, com uma carga de emoção forte.
  — Sim, ele foi terrível, até no fim.
  Ele apoiou a mão no batente.
  Afinal, quanto tempo levou e quão longe percorreu nos caçando somente para receber a resposta de tais questionamentos, acho que de certa forma eu devia isso a ele.
  — Imaginei — foi o que disse antes de virar nos calcanhares e partir.
  Dorian permaneceu com a mão em mim, tocou minha cintura e me puxou ao encontro de seu peito.
  Eu estava trêmula, pasma e triste.
  Tudo, desde o dia em que escapei daquele pesadelo, vinha sendo como estar em um despenhadeiro todo o tempo, e agora eu tinha pedido o equilíbrio e voltado a cair naquele abismo de nada.
  De algum Dorian pareceu perceber minha queda, cada uma de suas mãos envolveram minhas bochechas e ele me olhou nos olhos.
  — Lie, não se condene por Gar — havia algo no tom em que se referia a meu antigo sequestrador que era tão frio e desolador — ele mereceu, ele merecia morrer.
  — Eu sei — e sabia mesmo — Só não estava esperando por... por isso, eu não esperava ver ele, tão parecido com Gar.
  Dorian me esmagou em seus braços em um abraço poderoso. Senti tudo o que ele queria me passar, porém o estrago já estava feito. Minha magia arranhou minha pele em seus constantes avisos de que estava esperando somente uma convocação.
  O torpor expandiu-se em minhas veias e eu simplesmente deixei meu corpo no poder de Dorian.
  O acompanhei sentindo partes do meu corpo dormentes, me deitei na cama quebrada e encolhi-me.
  No dia seguinte eu ficaria melhor, hoje eu apenas iria me martirizar por minhas ações, por meu sofrimento, só um pouco, apenas um pouco e apenas hoje.
  O braço de Dorian voltejou-se em minha cintura, ele me agarrou e me prendeu junto a ele, senti sua respiração constante contra a parte de trás do meu pescoço. E meu corpo rugiu. Ignorei a sensação.
  — Eu estou aqui — disse-me de um modo meio emburrado, um pouco triste também.
  — Eu sei — falei, pouco antes de o sono me reivindicar.

Chamas De Inverno (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora