Adhara não se lembrava de ter um apelido, na verdade, Adhara não se lembrava de muitas coisas sobre sua infância. Quem a podia julgar? Ela passou a infância toda e uma grande parte da adolescência adoentada.Ela ao menos tinha certeza que sempre viveu numa gruta. Seu pai era um homem rude, e um forasteiro em Shu Han, seria um escândalo saber que uma habitante aceitou-se casar com alguém tão bárbaro quanto um Fjerdano.
Se sua mãe casou livremente ou por pressão de seu pai, Adhara nunca saberia, afinal, sua mãe estava morta.
O corpo frágil de Adhara passava dias repousado em peles. A gruta era estupidamente quente, já que a fogueira improvisada pelo seu pai estava sempre acessa. O calor era reconfortante para Adhara, não tão maravilhoso como o sol, mas ao menos a aquecia.
Sua mãe, cujo o nome Adhara só recordava por Kastra chorar o nome dela quando tinha um pesadelo, sempre ficava no outro lado da gruta a tecer. Os tecidos eram esplêndidos, Kastra sempre sorria admirada, apaixonada por aquele ofício.
Yerin, passava as manhãs na cidade a vender os seus belos tecidos, mal chegava na gruta que chamavam de lar, voltava a tecer. Adhara não lembrava do toque da sua mãe, mas as bolhas nos dedos e as feridas nos mesmos eram claros em sua memória.
Seu pai, Markus, cujo nome Adhara só lembrava por ser o motivo da sua fuga, era um caçador. O que mais um Fjerdano com pensamentos tão machistas podia ser? Adhara recordava que encolhia-se sempre nas peles quando seu pai retornava a gruta com algum animal morto. O olhar de Markus era sempre o mesmo, de desprezo para ela.
Nenhum dos pais tinha tempo para ela, e era até chocante pensar que ela durou 15 anos da sua vida naquele estado frágil. Mas era tudo graças a Kastra. A mais nova sempre cuidou da irmã, como se sua vida dependesse disso.
Foi da sua infância que Adhara desenvolveu aquele senso de gratidão eterno à irmã mais nova. Foi assim que Adhara soube que Kastra merecia muito mais que aquela vida difícil e triste.
Adhara sabia que Markus era uma má pessoa. As marcas na pele da sua mãe eram só mais uma evidência. Yerin, no entanto, nunca o quis largar. E por essa persistência, Yerin morreu pelas mãos do próprio marido.
Adhara estava delirando de febre, Kastra como sempre, ofereceu-se para buscar água num riacho próximo, para baixar a febre da irmã mais velha. Adhara não tinha certeza se era real ou mais uma alucinação os gritos e suplicos da sua mãe. Ela abriu os olhos, a vista embaçada, piscou levemente quando viu Markus enfiar a faca no peito da sua mãe.
Adhara não se moveu, piscou freneticamente, tentando voltar a dita realidade, só para ter uma realização cruel: aquela era a realidade. E só teve certeza disso quando seu pai a puxou pela perna, e Adhara gemeu de dor.
Adhara não lembrava das palavras dele, ela ao menos duvidava de ter ouvido as facas que ele cuspiu em forma de palavras. Mas ela jurou ter ouvido o pai repetir 'bastardas'.
Talvez sua mãe também não fosse uma boa pessoa, mas era muito melhor que Markus.
Quando Kastra chegou, soltou o balde contudo, o barulho vibrando pela gruta, a água molhando os seus pés e respingando pelo solo húmido.
A expressão de horror no rosto de Kastra foi o suficiente para dar forças a Adhara. A mais velha deu um chute no rosto do pai, e enfiou uma das flechas do pai na mão do mesmo. Ela ignorou qualquer cansaço e o quão febril estava, desatando a correr. Correu como nunca antes, os pulmões ardiam no peito, os olhos pesavam, as pernas tremiam.
Kastra corria ainda atrás, os dedos apertavam firmemente a mão da irmã mais velha, com medo de soltar e as duas nunca mais se encontrarem. Determinado momento, Adhara viu um cervo, ela seguiu-o. O cervo foi o seu salvador.
—Meus homens encontraram este comunicado. — Kirigan entrou na tenda com um papel em suas mãos
Adhara abriu os olhos, sentando-se na cama. Era muito macia, ela, habituada a dormir no chão ou em peles, não conseguia dormir por conta do conforto. E principalmente por estar nas mãos do inimigo. Ela estava a considerar a opção de dormir de olhos abertos.
Kirigan estendeu o papel, Adhara arrancou das mãos dele, sem delicadeza. Kirigan já sabia, Adhara não era delicada, apesar de seus traços faciais demonstrarem o contrário.
Adhara bufou e rasgou o papel ao ver o que estava escrito.
—Fjerdano maldito! — cuspiu atirando os pedaços de papel no chão
Ela deveria saber que seu pai não tinha escrúpulos. Ele as perseguia de todas as formas. Ele estava desesperado para vê-las sofrer, ao ponto de as responsabilizar pelo assassinato de Yerin.
—Então sabes quem apresentou a denúncia. — Kirigan murmurou — É só dar o nome que eu resolvo o problema.
—Eu ter aceito a tua aliança não significa que confiarei em ti a minha vida. — Adhara gemeu, irritada
A presença de Kirigan a irritava. Não por ele ser irritante, mas por mexer com a mente dela.
—Adhara, estamos destinos a ficar juntos. Não há ninguém como nós, nunca haverá. — Kirigan tomou a liberdade de sentar-se ao lado dela
—Eu e tu, não somos iguais. — ela inclinou a cabeça para o lado — Tu sentes prazer em pôr medo nas pessoas. Sentes prazer em ter poder. Eu não sinto prazer nisso.
—Como podes ter tanta certeza que eu sinto prazer em ter poder. — Kirigan inclinou o rosto, o seu nariz tocando o de Adhara
Ela não recuou, hipnotizada pelas orbes escuras do homem a sua frente. Engoliu seco, ele era bonito, demasiado bonito para o seu próprio bem. Mas foi ele que propôs um casamento horas atrás por conta do poder dela.
—Porque pessoas corrompidas por poder têm o mesmo olhar. — soprou, afastando-se dele
Kirigan fechou os punhos, irritado. A vontade de beija-la presente em seu corpo, mas a raiva também borbulhava.
Esse olhar! — Adhara pensou desviando o olhar, ela havia assinado a sua morte ao aceitar aquele casamento, só não sabia que ela seria conveniente num futuro próximo
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The Myth Of The Sun Summoner
Hayran KurguTodos conheciam o mito da Conjuradora do Sol. As duas versões eram bastante conhecidas. A primeira contava que a Conjuradora do Sol já existiu. Que ela era uma bela mulher, qualquer um rendia-se aos seus encantos, até o próprio Herético Negro. Mas...