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Uma das coisas que Adhara detestava em Ravka, era o clima frio

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Uma das coisas que Adhara detestava em Ravka, era o clima frio. Ravka tinha invernos rigorosos, ao contrário de Shu Han, seu país natal, que era quente. Ela não tinha a melhor vida em Shu Han, mas ao menos era quente. Ela gostava do sol, e por mais que no inverno o sol aparecesse, era algo tímida e hesitante. Não havia aquela extravagância que o sol emanava nos dias quentes de primavera e verão.

E se antes era difícil encontrar alimentos, com o inverno, os animais eram escassos. Adhara não tinha muita experiência como caçadora, honestamente, ela nunca caçou na vida, mas ela teria que aprender, pela sobrevivência de Kastra.

As irmãs teriam que aprender muita coisa, sobrevivência era o principal objetivo. Elas estavam em território inimigo, e não podiam correr o risco de regressar a Shu Han.

Adhara tapou o rosto com o tecido, antes de enfiar-se pelas árvores densas. Ela era silenciosa, uma predadora. Adhara não sabia que tinha um lado tão predador, até o momento que precisaram se defender de ravkanos. Foi um instinto de sobrevivência, e ela adorou. Não era a sensação de ferir ou matar, não era sobre ter sangue a mancharem sua pureza. Era sobre o sentimento de força e independência.

Era incomum as irmãs usarem calças, o seu pai era fjerdano e acrecitava de forma inabalável, que as mulheres não deveriam lutar, que eram delicadas. Adhara tinha uma saúde frágil, mas definitivamente não era delicada, não quando bateu num homem com uma pedra.

Ela e Kastra não falavam sobre o clarão que cegou os seus perseguidores. Não queriam mexer na ferida e levantar dúvidas. Fingir que nada aconteceu era uma boa opção. Eram duas jovens no mundo, sozinhas. Não havia espaço para dúvidas.

Em suas costas, carregava a aljava com algumas flechas, além do grande arco. Ela tirou o arco das costas e tentou posiciona-lo. O seu pai fazia parecer fácil. Prendeu a respiração e pegou numa flecha. Com um pouco de dificuldade, pôs encaixou a flecha na corda. Ela esperava ao menos não magoar-se no processo. Ela puxou a flecha e no último segundo, solto-a.

A flecha não foi muito longe, caiu a alguns passos de distância, a sua frente. Suspirou, decepcionada. Ela teria muito que praticar.

Deu alguns passos e recolheu a flecha, voltando a posição inicial. Fechou os olhos regressando aos dias na gruta em que vivia com os seus pais. O seu pai tinha uma postura intimidante e recta, um verdadeiro soldado. Ela conseguia visualizar a forma que ele mantinha as pernas levemente afastadas, e como erguia o cotovelo.

Adhara reproduziu a postura do pai, o máximo que conseguiu e voltou a puxar a flecha. Desta vez, a flecha foi um pouco mais longe, quase acertando numa árvore. Adhara deu um pequeno sorriso, já era uma melhoria.

Novamente, recolheu a flecha usada. Não podia gasta-las, caso fosse necessário defender-se de outro ravkano. Adhara sabia, nenhum ravkano faria amizade com elas. Nunca seriam acolhidas naquele país emenso. E havia uma razão simples: elas eram o inimigo. Elas pareciam o inimigo. A ameaça eram elas, não os ravkanos. Elas eram invasoras.

Adhara passou a tarde toda a praticar, quando começou a anoitecer, Adhara teve que regressar. Ela e Kastra dormiam numa gruta, não era tão diferente de Shu Han. Mas não haviam as peles para se cobrirem. Não podiam correr o risco de fazer uma fogueira, o fogo chamaria a atenção. Então eram obrigadas a dormir naquele frio, encolhidas uma na outra. Mesmo Kastra afirmando que Adhara tinha o corpo quente e então não sentia tanto frio.

Adhara dava passos leves, tendo cuidado para não fazer barulho. Se tivesse sorte, o ventro gelado da madrugada apagaria suas pegadas na neve.

Ela entrou na gruta, o silêncio estendia-se como um véu, quase palpável. O único barulho era a sua respiração. Kastra estava um pouco mais adentro da gruta, por precaução. A mais velha deu passos cuidadosos, não queria correr o risco de escorrer.

-Kastra! - Adhara chamou correndo até a irmã

Kastra tinha uma expressão de dor em sua bela face, enquanto tentava fechar a ferida na sua coxa. A flecha já havia sido retirada a muito, mas a ferida não cicatrizava.

Muito pelo contrário, a ferida agravava a saúde de Kastra. Ela tinha uma aparência doente, além da febre. Adhara sabia que era errado sair da gruta e deixar a irmã sozinha, mas ela precisava praticar, caso quisessem sobreviver.

-Não podes fechar a ferida sem limpa-la primeiro. - Adhara repreendeu tirando a mão da irmã mais nova do local

Os dedos de Kastra manchados do seu próprio sangue. Adhara pegou no pequeno cantil e derramou a água cuidadosamente na ferida da irmã. Kastra soltou um gemido.

-Amanhã eu prometo procurar as ervas que a mãe usava para as feridas. - Adhara estava focada na ferida

-Mas é inverno, deve ser difícil de encontrar. - contradiz Kastra, não muito confiante

-Mas não impossível.

As duas irmãs continuaram em silêncio, Adhara limpando a ferida de Kastra, e depois a tapou com alguns tecidos. Elas não tinham muito, estavam numa gruta. Adhara arriscaria-se a procurar a cidade, mas havia a grande chance de não encontrar o caminho de retorno, ou pior, ser descoberta por ravkanos.

-Adhara, não podes sair. Se adoeceres? Não tenho como cuidar de ti. - Kastra apertou os dedos da irmã, em súplica

Os dedos sujos de sangue manchando a pele pálida da mão de Adhara. Os olhos da mais velha passearam pela pele da Kastra. Kastra era uma jovem bela, mesmo tendo só treze anos. A irmã era tão nova, não a deixaria morrer numa gruta fria, no território inimigo, por perca de sangue.

-É a minha vez de ser a irmã mais velha. Não a deixarei morrer, não aqui. - Kastra espremeu os lábios, havia uma promessa nas palavras de Adhara

Kastra não tinha palavras, mas ela entendeu. A partir daquele momento, era Adhara a tomar as rédeas da situação. Era Adhara a sacrificar-se. Era Adhara que cuidaria dela, não o contrário, como sempre foi. E Kastra não sabia como reagir, mas algo em seu coração acendeu-se com aquilo. Adhara também se preocupava, no final.

Adhara não deixaria a sua kebben partir de forma tão sofrida e fria. Não sem lutar antes.

The Myth Of The Sun SummonerOnde histórias criam vida. Descubra agora